Ou viramos um país desenvolvido, ou seremos a nova Venezuela.
Há quem diga que o motorista passou por cima, outros dizem que ele se jogou na frente do caminhão. Por via das dúvidas, eu anotei a placa. | ||
Os petistas dirão que Lula venceu o debate. Os bolsonaristas dirão que foi Bolsonaro. Mas, para mim, o grande vencedor mesmo foi o eleitor, em especial o ainda indeciso, o que votou em branco ou nulo, e aquele que se absteve de votar no primeiro turno. Porque não verdade nem foi um debate, mas um embate, no qual o que menos importou foram os temas a serem discutidos. Foi um jogo de ataque e defesa, e geralmente é quem precisa do placar que parte para o ataque com agressividade, o que, segundo as pesquisas, a imprensa e aliados, não seria o caso de Lula que venceu o primeiro turno. Mas foi ele quem partiu para o ataque desde a primeira pergunta. | ||
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Lula conhece melhor televisão do que Bolsonaro. Já na sua primeira fala ele pediu licença, saiu do púlpito e se aproximou de Bolsonaro. Ele sabe que isso o deixa "mais perto do público", mas também, e talvez principalmente, na imagem ele fica maior que Bolsonaro que aparece bem atrás. Esse tipo de enquadramento também, por vezes, tira Bolsonaro da cena quando obriga a câmera a fechar nele, Lula, o ângulo da imagem. Só que parece que Bolsonaro entendeu o jogo, e na sua segunda participação ele também saiu do púlpito, já que ficou quando foi o primeiro a responder. E a conversa passou a ser travada no centro do palco. Não importava quem era o perguntado, o outro ficava por perto, e só se dirigia novamente ao seu posto na busca de alguma informação, ou no caso de Lula que muitas vezes foi até lá para molhar a garganta, sabe-se lá de que. No início do debate bebia de uma garrafinha. Já no final havia um copo. E vamos presumir que era água mesmo. | ||
O primeiro bloco foi iniciado com uma pergunta dos jornalistas e na sequência perguntas diretas entre os candidatos. Cada um tinha quinze minutos para serem administrados por eles mesmos entre as perguntas e respostas. O uso do tempo foi bastante equilibrado, cada um gastando quase que o mesmo tempo médio entre perguntas e respostas. Foi muito bate boca, com um Lula mais preocupado em atacar Bolsonaro com insinuações e afirmações que nada tinham a ver com proposições, mas com proposições que intencionavam tirar Bolsonaro do sério, gastando quase que o bloco inteiro falando de Covid, tema que ele sabia ser muito caro ao seu oponente. Contudo, Bolsonaro não caiu na ladainha. Respondeu com serenidade ataque por ataque e foi deixando Lula falar. Como contra-ataque, citou Renan Calheiros, Omar Aziz, Carlos Gabas e a corrupção do consórcio nordeste. E era visível que Lula se irritava. Mas, a meu ver, não era nem com os nomes de seus aliados citados por Bolsonaro, e sim com o fato de saber que não conseguiu colocar o adversário em uma situação da qual não conseguiria sair. Bolsonaro saiu de todas. E como resultado do primeiro bloco eu não arrisco dizer quem venceu. Mas afirmo com segurança que Lula começou ali a perder o controle. | ||
O segundo bloco começou com uma pergunta de Vera Magalhães, desafeta de Bolsonaro. Perguntou se ambos se comprometiam a não mexer na composição do STF. Lula, primeiro a responder nessa rodada, com toda malandragem rasteira que o caracteriza, novamente se aproximou da câmera dizendo para Vera que ele não a agrediria, cutucando Bolsonaro pelo destempero do debate da Band do primeiro turno ao comentar a resposta de Ciro Gomes, como era a regra do jogo. E Lula fez ali mais um minuto e meio de jogo de cena, tempo determinado para a resposta, dando uma cutucada em Bolsonaro. E eis que quando chega a vez de Bolsonaro responder ele se dirige à Vera Magalhães com um "prazer em revê-la", quebrando as expectativas de quem imaginava assistir mais um embate paralelo. O bloco previa apenas perguntas de jornalistas. | ||
E foi na pergunta de Josias de Souza que a maionese de Lula começou a desandar. Josias começou afirmando que Lula comprou o congresso com o Petrolão e que Bolsonaro comprou o congresso com o tal orçamento secreto. Bolsonaro se saiu bem explicando que não foi ele quem inventou o orçamento secreto, que isso foi uma iniciativa do Congresso Nacional na gestão de Rodrigo Maia, que ele vetou e seu veto foi derrubado pelo Senado. Já Lula se dirigiu a Josias com raiva, dizendo que o jornalista precisava entender como funciona o Congresso e como é lidar com o Centrão, sem tocar no Petrolão em nenhum momento. E aí é que ficou claro o nervosismo de Lula, quando ele diz para Josias de Souza que o Centrão sequestrou o orçamento de Bolsonaro. Boca aberta que é, Lula limpou a barra de Bolsonaro em relação ao orçamento secreto e terminou sem responder sobre o Petrolão. Dali para frente Lula começou a demonstrar de fato seu nervosismo, e não conseguiu esconder mais. | ||
Os goles do famigerado líquido na garrafinha se intensificaram, ele andava para lá e para cá pelo palco, enquanto Bolsonaro ficava firme no centro do palco, demonstrando serenidade. Mais que isso, a medida que Lula se enrolava com o próprio nervosismo e passava a baixar o nível dos ataques, Bolsonaro por diversas vezes sorria de maneira debochada, inclusive na cara de Lula, até num momento em que ficaram frente a frente, Lula sério, e Bolsonaro com um sorriso estampado na cara, sem falar um A, deixando Lula visivelmente desconcertado diante do inusitado. Lula até tentou sair do script dizendo que Bolsonaro nunca tinha feito um discurso contra o governo dele, insinuou que Bolsonaro era fã de seu governo, mas nada disso tirou a serenidade do presidente, que, ao contrário de Lula, mostrava-se cada vez mais confortável no cenário, dando corda para Lula se enforcar sozinho. | ||
O segundo bloco chegou ao final com boa vantagem de Bolsonaro. No intervalo, o desgaste de Lula ficou evidente, assim como seu nervosismo, sua cara avermelhada, suor escorrendo na testa e sendo enxugado por uma auxiliar, além da expressão de tensão de sua assessoria, muitos falando ao mesmo tempo que ele. Do outro lado, porém, um Bolsonaro calmo, cercado de pessoas calmas, que conversavam em tom aparentemente tranquilo, com destaque para Ciro Nogueira, que num dado momento se afasta do presidente esboçando um sorriso no rosto. | ||
E veio então o terceiro e derradeiro bloco, iniciado com a pergunta do jornalista Taigura Ribeiro sobre educação na pandemia e direcionada a Lula. O petista demonstrou fragilidade na resposta, dizendo que, se eleito, vai reunir governadores e prefeitos para determinar um programa que supra o atraso educacional e o descompasso entre brancos e negros, pobres e ricos, provocado pela pandemia, que os deixaram mais analfabetos do que já eram. Quando foi a vez de Bolsonaro responder a mesma pergunta ele não perdeu a oportunidade e disse que Lula foi sincero quando disse "mais analfabetos do que já eram", afirmando que tal analfabetismo começou nos governos do PT e que seu governo já está promovendo um programa nesse sentido, chamando o petista de desinformado. Não perdeu também a chance de dizer que foi contra o fechamento das escolas durante a pandemia e falar mal de Paulo Freire. No decorrer do bloco os candidatos voltaram a fazer perguntas diretas um para o outro, no mesmo formato de quinze minutos de tempo a serem administrados por eles mesmos, e quem começou foi Bolsonaro, dizendo que Lula não respondeu a pergunta de Josias de Souza sobre o Petrolão, fazendo Lula transparecer mais uma vez seu nervosismo. | ||
Lula falou, falou, mas não respondeu convincentemente, apesar de admitir que houve corrupção na Petrobras, mas jogando a culpa nos diretores. E o que posso dizer é que daí pra frente foi quase um massacre. O presidente riu, tocou no ombro do petista, Lula tentou mais uma vez ser engraçado dizendo que Bolsonaro era seu fã, soltou diversas vezes risos nervosos de quem quer disfarçar seu humor, e não tirou Bolsonaro do sério uma única vez. Nem mesmo quando trouxe à baila a insinuação de pedofilia feita contra ele, que já no início do programa havia sido rebatida com uma sentença de hoje de Alexandre de Moraes dizendo que as matérias veiculadas pela campanha do PT eram mentirosas, tiradas de contexto, proibindo que continuem a ser veiculadas e obrigando que o partido as retire imediatamente.Não sei se voluntariamente, ou não, Bolsonaro cutucava Lula com perguntas curtas e o petista desandava a falar, fazendo Bolsonaro rir novamente em vários momentos, até que Lula esgotou o seu tempo sendo obrigado a deixar Bolsonaro com o palco e a atenção de todos só para ele por quase sete minutos. | ||
Vieram então as considerações finais, um minuto para cada. Antes, porém, Lula começa reclamando ter feito dois pedidos de direito de resposta e ter sido atendido em apenas um deles. E, em claro sinal de apelação, gasta seu tempo não para rebater a fala de Bolsonaro que motivou o pedido, mas trazendo o assunto dos tais 51 imóveis que a imprensa acusa a família de Bolsonaro de ter adquirido em 32 anos. Veio com conversa de cartão corporativo, rachadinha, Queiroz, pautas já esclarecidas e superadas pela opinião pública. Bolsonaro deu então início às suas considerações finais falando sobre liberdade, segurança pública, trabalho, ideologia de gênero nas escolas, banheiro unissex, drogas, cristianismo, aborto, propriedade privada, invasão de terras pelo MST, respeito ao agronegócio, legítima defesa, retrocesso ao país da corrupção e respeito às religiões, acusando o PT de defender a maioria destas bandeiras. | ||
Já Lula começou sua fala dizendo que não deu tempo de discutir tudo o que seria preciso discutir, dizendo que Bolsonaro é o cara que tem a maior cara de pau para contar inverdades, assumiu para si a aprovação da lei de liberdade religiosa, disse que quem defende a liberdade e democracia é ele, chamou Bolsonaro de pequeno ditadorzinho, disse que ele, Bolsonaro, quer ocupar a Suprema Corte, afirmou que quer governar este país como já governou duas vezes dando prioridade aos problemas do povo brasileiro, disse também que esse país tem 33 milhões de pessoas passando fome, e na mesma frase disse que esse país produtor de alimentos tem 31 milhões de pessoas passando fome, que nesse país que é o maior produtor de proteína animal do mundo as pessoas estão na fila do osso, e concluiu dizendo que quando voltar a governar este país "vamos voltar a fazer um churrasquinho" e tomar uma cervejinha. | ||
Outros temas foram falados durante o embate entre Lula e Bolsonaro, mas eu teria que fazer um artigo de duas horas de leitura para relacionar tudo. Não faltaram acusações de parte a parte, e faltaram muitos temas caros à população brasileira. Porém, como eu disse no início, não era um debate, mas um embate. Um Bolsonaro mais preparado com números reais, com fatos e dados sobre o governo que o permite fazer comparações com governos anteriores. Lula só tem o passado para mostrar, um passado eivado de acusações, condenações, delações e prisões que fazem os bons feitos de seu governo ficarem muito pequenos e o obrigam a se defender o tempo todo ou atacar para não ter que se defender de ataques certeiros. | ||
Lula não consegue projetar o futuro, não apresenta planos, não identifica quem serão seus ministros, e não consegue se livrar de um passado - e presente - ligado a ditadores e comunistas que implantaram o socialismo na marra e estão levando seus países à falência, alguns deles, como Chile e Colômbia, em menos de um ano, e outros como Cuba, Venezuela, Argentina, Bolívia e Nicarágua já em estado de decomposição há mais tempo. Por seu lado, Bolsonaro tem a oferecer neste momento os bons números de seu governo, apesar da pandemia, da guerra na Ucrânia e de todo o aparato legislativo e judiciário que emperrou e ainda emperra o andamento de transformações importantes para o Brasil, algumas paradas nas calendas do Congresso Nacional, outras paradas pelas canetas atrevidas do judiciário. Além disso, já existe um plano de economia em seu governo, já se sabe quem serão alguns ministros de pastas importantes, e que a montagem do governo obedecerá o mesmo critério técnico da atual gestão. | ||
Assim, comparando os dois discursos, fica claro que a eleição de Lula seria dar um cheque em branco para uma pessoa com óbvio envolvimento com facções criminosas, preso 580 dias por corrupção e lavagem de dinheiro após ser duas vezes condenado por unanimidade em três instâncias do judiciário e livrado de suas penas pela canetada de um ministro do STF que era advogado do MST e foi indicado por Dilma Rousseff. Do outro lado um presidente em cujo governo não foi comprovado nenhum caso de corrupção, vítima de acusações levianas com zero comprovação, atacado diuturnamente pela imprensa desde o primeiro dia de seu governo, e que apesar de todas as mazelas e oposição que sofreu, e sofre, concluiu diversas obras que estavam paradas há mais de uma década porque as verbas destinadas a elas eram desviadas para abastecer cofres de partidos e enriquecer políticos, que, apesar da pandemia e da guerra, criou um benefício social 3 vezes maior que o Bolsa Família, impediu que milhões de empregos e empresas fossem perdidos enquanto governadores e prefeitos fechavam suas cidades para fazer política com a pandemia, e que trouxe o Brasil novamente para a posição de 10ª economia mundial e, com todos esses revezes, reduziu o desemprego a menos de dois dígitos, fez o PIB crescer 3%, baixou o ICMS dos combustíveis, gás e energia elétrica e obrigou, por lei votada pelo Congresso Nacional, os estados a reduzirem o abusivo valor do ICMS sobre estes produtos. | ||
Obviamente, a minha interpretação dos fatos tem um lado, o que eu jamais escondi. Portanto, levar apenas a minha narrativa do debate em consideração seria incoerente com o que penso sobre as pessoas formarem suas próprias opiniões sobre os fatos e acontecimentos. Minha sugestão é que mesmo lendo este relato e notícias que serão veiculadas, assista ao debate. Só assistindo você poderá ter sua própria interpretação sobre quem mentiu ou falou a verdade, sobre quem é sincero ou falso, sobre quem pode ou não oferecer um caminho de desenvolvimento para o país e para a população e sobre quem quer governar ou quer apenas o poder. | ||
E o mais importante de tudo isso, independente da sua avaliação e escolha, vote. Não anule seu voto, não vote em branco, não se abstenha de votar. Escolha um lado e assuma a responsabilidade pela sua decisão para que outros não façam isso por você e possam colocar a sua vida e a vida de sua família em uma situação da qual nenhum de nós poderá sair tão cedo, pois a escolha que fizermos no próximo dia 30/10 impactarão nossas vidas, no mínimo, pelos próximos 20 ou 30 anos. Ou viramos um país desenvolvido, ou seremos a nova Venezuela. Não há e não haverá tão cedo outros caminhos diferentes destes dois. | ||
Por isso eu anotei a placa. | ||
P.S. 1 - Esqueci de mencionar a presença de Sérgio Moro. Certamente desestabilizou Lula. Nenhum condenado gosta de dar de cara com o ex-juiz que o mandou para a cadeia, especialmente quando vai mentir dizendo que é inocente. O ex-juiz conhece a verdade. Deve ser duro mentir na frente dele. | ||
P.S. 2 - A você que chegou até aqui, peço desculpas pelo tamanho. Mas era impossível descrever um debate com tantos acontecimentos (e muitos ficaram de fora) em um texto menor sem suprimir passagens e detalhes tão significativos. | ||
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