O DESPEJO DA CLASSE MÉDIA

Certa vez ouvi uma história/estória/parábola, realmente não sei mais dizer, mas que ficou na memória e, na minha opinião, define bem a posição da classe média em uma sociedade, raciocínio esse que, pela lógica, tomei como verdade.

Um primeiro ministro teria ido ao Rei falar sobre as finanças, que já não conseguiam mais sustentar as guerras e a corte com todas as suas mordomias. Sua sugestão foi aumentar impostos, no que o Rei respondeu que ninguém aguentava mais pagar impostos. Então o primeiro ministro disse que a classe média aguentaria, afirmando que o maior desejo dessa classe era ficar rica, e seu maior pesadelo o risco de ficar pobre, e, em nome dessa dicotomia, sempre pagaria o que fosse preciso.

Ao longo da história a classe média já foi definida ou classificada de maneiras diferentes, mas em quase todas essas classificações e definições ela é caracterizada como a classe intermediária entre que detém os recursos ou meios de produção e os trabalhadores ou operários, sendo formada por profissionais liberais, comerciantes, pessoas que detém cursos superiores...

Marx definia a classe média como "pequena burguesia". Discípulos do marxismo a definem como a "classe coordenadora", que implementa o capitalismo a favor dos capitalistas. Porém é inegável que a classe média é um fenômeno inerente ao capitalismo, o que a transforma em um inimigo a ser batido para que o socialismo se instale.

O socialismo só funciona com duas classes sociais. Em tradução livre, a que manda e a que obedece. No entanto, para que isso dê certo, cria-se a ilusão de que tudo pertence a todos, que o sistema garante a igualdade, e que todos serão felizes para sempre.

Fica mais fácil entender o porquê Marilena Chaui odeia a classe média e até baba quando fala isso. E se você acha que é apenas por causa pelo entrave que a classe média causa à implantação do socialismo, não é. É também pelo fato que, dentro do atual regime de governo e sistema vigentes no Brasil, Marilena Chaui não passa de classe média. E parece difícil para essa gente se conformar com isso.

A Pandemia parece também não gostar da classe média. Se a Covid foi democrática na maneira que matou as pessoas, muitos dos responsáveis pelo combate a ela parecem fazer coro à Marilena Chaui. Presidentes, primeiros-ministros, governadores e prefeitos mundo afora deram fortes demonstrações de que também odeiam a classe média, ou que, no mínimo, a vêem como obstáculo.

Quarentenas, lockdowns, toques de recolher, pesadas multas, comércio fechado, restrições, imposições, tudo atingiu mais diretamente às classes médias em todos os países. Os segmentos de turismo e eventos, por exemplo, foram exterminados. O comércio foi seriamente impactado. Dezenas de profissionais liberais, formais e informais, foram retirados da economia. A classe média só não empobreceu mais porque, a custa de um grave endividamento, o governo pagou auxílio emergencial, garantiu muitos salários e empregos.

Além disso, os salários do funcionalismo público continuaram em dia - ou foram criminosamente postos e mantidos em dia por alguns governadores e prefeitos que desviaram as verbas destinadas a salvar vidas para salvarem os salários do funcionalismo, e em alguns casos para salvar a própria pele.

Outra questão significativa foi que além de ser obrigado a bancar a farra com o dinheiro destinado à Pandemia, o governo federal foi obrigado pelo Congresso Nacional a garantir à estados e municípios a reposição dos impostos que eles deixaram de arrecadar por causa do fechamento da economia que eles mesmos provocaram, ou, em poucas palavras, estados e municípios não perderam nada.

Quem perdeu foi a recuperação econômica do país, o planejamento do governo federal, a classe média que ficou mais pobre e a classe baixa que ficou mais pobre ainda, porque os grande geradores de empregos desse país são os setores de serviços e comércio, amplamente dominados pela classe média.

O genocídio da classe média é o caminho que leva ao socialismo. O extermínio da classe média, acompanhado da destituição da Constituição Federal como marco regulatório da nossa sociedade, nos empobrece, nos adoece e, ou mata as pessoas, ou mata sua dignidade.

Ao contrário de incluir a classe pobre promovendo sua ascensão, jogam a classe média na merda que vive a camada mais pobre da nossa sociedade, e não falo isso me referindo ao povo, mas à injusta e precária situação, que todos nós sabemos, vive esse povo. Esse é o verdadeiro grande reinício (The Great Reset) que está sendo promovido na economia mundial, simultaneamente em todos os países do mundo, usando o coronavírus como pano de fundo; uma revolução na economia com a eliminação da classe média através da revogação de direitos camuflada de um pseudo-desejo de salvar vidas.

Primeiro mandaram ficarmos desarmados. Depois mandaram nosso dinheiro para contas pessoais, paraísos fiscais, ditaduras amigas. Em seguida nos mandaram ficar calados usando ou rasgando leis para inocentar bandidos e prender pessoas e políticos em pleno gozo de sua imunidade parlamentar, deputado federal eleito pelo povo, pelo crime de opinião.

Então nos mandaram ficar calados e em casa enquanto inocentavam Lula. E nos mandaram usar máscaras. Calados. Em casa. E Renan Calheiros assume a CPI para incriminar Bolsonaro. E esse despotismo foi estabelecido enquanto nos colocaram calados, em casa, de máscara. Agora já nos mandam à merda sem cerimônia.

As manifestações de 1° de maio tiveram como símbolo o apoio ao presidente, mas, de fato, elas foram pelo resgate do que prega, efetivamente, a palavra democracia: liberdade e igualdade. Um cidadão um voto.

O que está em curso no Brasil é isso. A eliminação da classe média criando duas castas, a que manda e a que obedece.

O Brasil precisa ser reconstruído debaixo para cima. E muitas das estruturas precisam ser completamente demolidas para que se reconstrua algo seguro no seu lugar. E não é um presidente que faz isso sozinho. Reconstruir uma estrutura de estado podre como essa, sem generalizar, mas contaminada de parasitas, tem que começar pelo nascedouro, que são os municípios, a política no dia a dia da vida das pessoas - ou deveriam ser - e suas respectivas câmaras municipais. E isso só uma reforma política de verdade e uma ampla reforma administrativa resolverão, mas não com esse congresso.

Eu ainda não sei a que autorizaram o presidente ou a que ele se sentiu autorizado, mas quem tomou a frente e autorizou não foi apenas a classe média.

O Brasil se transformou em um lugar esquisito, inseguro e inconfiável para se viver. O simples fato de pensar e expressar pensamentos, críticos ou a favor de alguém ou de alguma coisa, já é motivo para não termos certeza do risco que isso oferece.

Ou mudamos eles, ou mudamos nós. Estamos sendo despejados.

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