O não golpe que golpeou os reais golpistas.
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O não golpe que golpeou os reais golpistas.

A esquerda estava preparada para se rebelar aos militares que supostamente invadiriam as ruas no 8/9.

HS Naddeo
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Observar, interpretar, pensar, entender, elaborar, agir. Não sei se essa ordem funciona assim para todos, mas é mais ou menos o trajeto que meu raciocínio faz diante dos fatos. Porque só podemos fazer uma análise racional se tratarmos dos fatos, e conseguir chegar ao ponto que, de fato, os geraram. Foi por isso que escolhi nopontodofato como nome e objetivo deste trabalho, obviamente com falhas e limitações, mas bem intencionado no que se propõe.

A cada ano queremos coisas mais rápidas. Nosso tempo é movido na velocidade disponível de internet, cada vez mais rápida. Celulares e computadores cada vez mais rápidos. Acesso aos fatos no momento em que eles acontecem, ao vivo. Toda nossa cadeia de processos está ligada à velocidade. Vejam vocês que a única e efetiva vantagem que a urna eletrônica oferece é a velocidade dos resultados, como se isso mudasse alguma coisa que não seria dita em 3 ou 4 dias se fossem com comprovantes impressos e auditados. Mas não é esse o tema. É a velocidade.

Penso que não existe cura instantânea para doença alguma. Tomadas as medicações dentro de suas prescrições, existem doenças que se cura em dias, outras meses, até anos, depende do estágio em que se descobre, os estágio em que se combate, o tipo de tratamento adotado, os riscos de cada opção, o estado geral da saúde do paciente, sua resistência, a estimativa de tempo para a cura e muitas vezes um tratamento que sirva apenas para gerar conforto porque não dá mais jeito para curar a doença. E se o paciente ficar trocando de médico por discordar de diagnósticos e prognósticos tentando achar alguém que lhe diga o que ele quer ouvir, vai morrer por excesso de informações e não pela falta delas.

Somos uma sociedade doente, muito doente. Cada qual com duas peculiaridades e valores, mas esse é um processo mundial. A globalização, e todos os seus mecanismos de adentrar na cultura alheia e implantar a sua, foi muito efetiva na estratégia e resultados obtidos. Produziu pelo menos 3 gerações de pessoas que não aprenderam a pensar porque lhes foi negado o direito de aprender a pensar. As escolas deixaram de contar a história para contar versões da história, emitindo opinião ao invés de informações. E fizeram isso, passo a passo, por muito tempo, cerca de 60 anos. E taí a velocidade de novo. Tempo e velocidade.

Por que as pessoas insistem na ideia de que os problemas do Brasil terão, ou teriam, como ser resolvidos em um único ato? Se as forças armadas tivessem amanhecido nas ruas dia 8 de setembro como estaríamos agora? Estaria tudo resolvido? Plim!

Não vou discordar ou concordar de gente muito mais bem informada do que eu que diz que o presidente fez acordo ou de que não existe acordo nenhum. A única relevância disso, para mim, é o uso político que se faz disso, tipo disse o "InConstantino" ao dizer que Bolsonaro sucumibiu ao sistema. Quanta precipitação. O que, do todo, conseguimos saber de verdade? Que conversa de pé de orelha conseguimos ouvir para saber o que foi dito? A mim interessam as questões práticas, e se há ou não o acordo, os fatos têm dado indicativos de que algumas mudanças já começaram encaminhar, basta ver a declaração de Gilmar Mendes sobre dar um voto de confiança ao presidente. Mas será necessário tempo para ficar comprovado. Não tem solução instantânea.

Não foram poucas as horas de bastidores que precederam as manifestações nem tampouco a reunião da qual Temer participou, segundo a imprensa recrutado por Bolsonaro. Vai saber de verdade quem chamou quem a pedido de quem? Ainda que a versão oficial corresponda realmente ao fato, pode ser apenas uma versão adequada, uma narrativa que faça parte de um processo.

Supremo Tribunal Federal e Congresso Nacional entenderam o recado das ruas. Mais do que isso, entenderam o tamanho da força que Jair Bolsonaro tem nas ruas. E nós quartéis. E nas Polícias Militares e civis Brasil afora. Tanto é que o PT não está apoiando as manifestações de hoje, 12/9, apesar de estar liberando sua militância para participar. Se a manifestação for um sucesso ele credita a si próprio ter liberado sua militância. Se for um fracasso dirá que fracassou porque sua militância não foi. E diante do 7/9, dificilmente a esquerda terá tamanho para fazer frente. O PT não quer seu nome nesse atestado de óbito. Vai preferir morrer sozinho.

Temos que acreditar que existem mudanças em andamento, e não se trata de ato de fé, esperança, mas de analisar as evidências, como a da própria postura do presidente. Um estadista não encaminha seu povo para um flagelo. E estaríamos em uma guerra civil se tivesse sido deflagrada a convulsão social pela eu a esquerda espera ansiosamente. Dá para entender isso? A esquerda estava preparada para se rebelar aos militares que supostamente invadiriam as ruas no 8/9. Armada até os dentes. A imprensa já tinha prontas as narrativas para espalhar pelo mundo e apresentaria a esquerda como a defensora da democracia contra o genocida ditador. Só que não aconteceu nada disso. E se a esquerda colocasse sua milícia na rua a golpista seria ela. Por isso estamos sãos e salvos nesse momento.

Acordo ou não acordo, o que ficou claro é que foi evitado um conflito no Brasil que deixaria marcas profundas na nossa história. E que os mandatários de poderes no executivo, judiciário e legislativo atuaram para que isso não acontecesse. O executivo por demonstração de força e autoridade moral, judiciário e legislativo porque entenderam para que lado a banda tocaria se fossem adiante.

Cada doença com seu tratamento e tempo de cura. A sociedade brasileira não está sofrendo apenas de dor de cabeça por exposição ao sol. A doença é séria, o tratamento é rígido, o remédio é amargo, provoca efeitos colaterais adversos, as vezes ânsia de vômito, demora para surtir efeitos duradouros, e requer que o paciente confie no que o médico está fazendo. Ou pode se arriscar a consultar um médico cubano que vai receitar a dipirona socialista como remédio para todos os males.

As coisas acontecem na velocidade de Deus, que é quem encaminha a sabedoria para que os homens  de fé façam as coisas na velocidade certa para alcançar os resultados esperados. E temos que ter fé em um presidente que arrisca sua  popularidade para evitar que o povo que ele representa enfrente o caos social, a baderna, a violência apenas para provar que tem algum poder. O verdadeiro poder está em saber fazer as escolhas com assertividade.

A bandeira branca foi estendida. Não é rendição, recuo, trégua ou armistício. É uma proposta de paz. E isso coloca nos ombros dos adversários a responsabilidade de mostrarem se querem guerra ou paz. Atirar contra quem estende uma bandeira branca é ato de covardia.

Porém, ainda que seja improvável que uma medida dura seja executada para por ordem no Brasil, ela não é descartável porque não envolve apenas Jair Bolsonaro ou disputa ideológica. O buraco é muitíssimo mais embaixo e envolve crime organizado, corrupção, ameaça estrangeira. Não é uma doença só. Não é fácil combater tantos focos ao mesmo tempo. E cada qual com seu remédio.

O que o Brasil mostrou no 7 de setembro é que tem milhões de anticorpos dispostos a combater todas essas doenças e um método menos invasivo o possível para combatê-las, e que se ainda assim for necessário aplicar uma vacina, ela existe.

Do outro lado,o que deveremos ver hoje nas manifestações de esquerda é que vírus podem até se alastrar em um organismo, mas serão sempre vírus, e que há métodos eficazes de combatê-los, seja com os milhões de anticorpos de 7 de setembro ou com a vacina que, felizmente, não precisaram ainda ser aplicadas, ainda que seja essa a grande frustração de setores da direita e, principalmente da esquerda. Mas o tempo vai mostrar que em nome da estabilidade social foram feitas as melhores escolhas, de todos os lados. O ponto de ruptura ao que já me referi outras vezes finalmente aconteceu.

Consulte a imprensa e as opiniões da esquerda antes de expressar seus sentimentos e pensamentos sobre o que está acontecendo desde o 7 de setembro. Pode se surpreender ao descobrir que está pensando a mesma coisa que eles.

Observar, interpretar, pensar, entender, elaborar, agir. Funciona para mim. Recomendo.

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