O brasileiro não está nem aí, mas, 2023 está logo aí.
Em junho de 2019 passamos por uma tragédia na nossa família. Minha sogra muito doente há 8 meses, imóvel em uma cama, sem se mexer, sem falar, sem poder comer ou fazer suas necessidades de modo digno. Meu sogro, deprimido com o quadro da esposa, num ato de amor ou de loucura, tirou a vida dela e em seguida a própria vida. Estávamos morando na mesma casa, eu vi os corpos primeiro, o que faz de um momento sinistro como esse ser mais impactante do que receber notícia tão chocante. E me remeto exatamente ao estado de choque que senti nas 24 horas seguintes. Não conseguia chorar, esbravejar, demonstrar sentimento algum. Era algo que eu simplesmente não conseguia entender. Não fazia sentido, estava fora do alcance do meu entendimento. Um vazio amargo que fazia de toda a ajuda que demos durante aquele período, operacional e psicológica, totalmente vã. Sentia sono, cansaço físico e emocional, mas não conseguia dormir. A conta não fechava. | ||
Foram necessários ao menos dois anos para que as sequelas emocionais daquelas cenas, daquele fato, se dissipassem, fazendo valer a máxima de que o tempo cura tudo. Esperava nunca mais sentir aquela sensação de ser incapaz de compreender o que está se passando à minha volta. Achei que jamais viveria de novo a incapacidade de entender o ser humano, o que motiva uma pessoa a fazer uma escolha tão estupida motivada por amor ou loucura, que gera sequelas as vezes impossíveis de apagar da memória, e cujas consequências podem ser irreversíveis. Mais uma vez me sinto cansado, físico e emocional, e não consigo dormir. Minha cabeça não consegue entender a cegueira, a imbecilidade, a idolatria por um ser desprezível, mentiroso, que roubou uma nação durante 14 anos sem se importar com a quantidade de vidas desperdiçadas pela violência, pela ausência do estado no cuidado com a saúde, com a infraestrutura que impediu o país de se desenvolver, gerar riquezas, empregos e evolução para seus cidadãos. Um criminoso rigorosamente condenado por crimes comprovados, delatados, aferidos por ao menos 20 juízes que confirmaram sua sentença por unanimidade. | ||
Não entra na minha cabeça que um povo estivesse dividido entre um homem honesto e um bandido, e que tenha escolhido o bandido, que em 14 anos não cumpriu nada do que prometeu a esse povo, ao invés do honesto, que em menos de 4 anos fez mais do que fez o bandido em 14 anos no poder. É incompreensível que, com todos os exemplos dos países vizinhos, que agora choram as malditas escolhas que fizeram, a maioria da nossa população tenha escolhido o mesmo caminho, ignorando a infinidade de mentiras e crimes, ou, quem sabe, escolhendo o bandido exatamente por causa disso. Infelizmente, o gene da desonestidade, da falta de empatia, da necessidade escandalosa de levar alguma vantagem pessoal, é uma característica de grande parte da nossa sociedade. Só que esta não é a única resposta possível, mas ela contribuiu muito para o resultado de um processo fraudulento que começou muito tempo atrás, contra o qual fomos incapazes de reagir à altura, e que foi dando passos cada vez maiores pela certeza da impunidade e da inércia reinante no povo brasileiro. Aliás, outras duas péssimas características da nossa gente, o comodismo e a acomodação. | ||
Não reagimos quando o judiciário revogou a prisão após condenação em segunda instância, nem mesmo sabendo que para que pudessem colocar uma única pessoa fora da cadeia outras milhares, tão perigosas quanto, sairiam também. Esbravejamos, fizemos beicinho nas redes sociais, nos sentimos importantes xingando e denunciando, mas sem nenhuma ação correspondente. A lei da física não funciona com o brasileiro. Ações não temem reações, por mais absurdas que sejam. A aposta nessa certeza descondenou o condenado e o colocou em condições de disputar uma eleição para voltar ao cargo no qual produziu o maior sistema de corrupção que se tem notícia na história da humanidade. E de atrocidade em atrocidade emplacaram o método da arbitrariedade, onde passar por cima da lei virou lei porque eles simplesmente são a lei, mas não a que está escrita na constituição que deveriam guardar e honrar. E fomos nós que deixamos eles se apropriarem da lei. | ||
Contra este governo, a fraude nas urnas não começou no processo eleitoral. Foi na pandemia, com urnas fúnebres, quando o sistema fez política com a vida das pessoas, caracterizando qualquer tipo de morte como se fosse motivada pelo vírus. Assassinatos, infartos, afogamentos, suicídios, atropelamentos, confronto com a polícia, tudo foi atribuído ao vírus, inflando as estatísticas que eram alardeadas pela imprensa, que produzia um espetáculo mórbido de dramaturgia para incriminar o honesto. Jornalistas não davam notícias, só aulas de interpretação. Enquanto isso, os desonestos aproveitavam para usar o dinheiro destinado a salvar vidas para salvar suas próprias vidas da abstenção de corrupção que viviam desde o início deste governo, com apoio e incentivo do judiciário, que, com suas próprias leis, através de intervenções processuais e oratórias, dava o tom criminal que ajudava no espetáculo sensacionalista do jornalismo de ocasião. | ||
Centenas de absurdos depois veio o processo eleitoral que jamais visou tratar da eleição, mas, sim, da não eleição de Jair Bolsonaro, mais uma vez, de mãos dadas com a imprensa. Fizeram do voto auditável um sacrilégio e o enforcaram em praça pública tal qual Tiradentes. Processaram, prenderam, torturaram uma nação inteira impondo o domínio do medo. Leis foram criadas por quem apenas devia fazer com que fossem cumpridas. Legisladores fecharam os olhos e cumpriram leis que eles não criaram. Pessoas comuns, pacíficas, tiveram seus direitos suprimidos, suas privacidades invadidas. Já era uma ditadura. E como tal, veio logo a vigilância, a censura, aplaudida por quem devia repudiá-la. O sistema escolheu seu candidato e trabalhou por ele, dentro e fora do Brasil. Quem deveria falar apenas nos autos falou pelos cotovelos. Quem deveria denunciar isso se calou ou amplificou os discursos. Um algorítimo cuidou do resto. E o ladrão foi eleito presidente da república, aliado a bandidos, traficantes e os corruptos de sempre. Não houve um verde como Hulk para manifestar sua fúria. E agora o Brasil está vermelho de medo e de vergonha, no dia das bruxas. | ||
Todo mundo vai trabalhar hoje normalmente. A indignação de ontem é o conformismo de hoje. Ele venceu, sabe-se lá como, e esta realidade é o suficiente para que as pessoas voltam às suas vidas normais, saiam de grupos de discussão, fujam das redes sociais e chamem os persistentes de tolos. Uma grande parte já assimilou o golpe e está achando que os caminhoneiros são uns imbecis, que voltem logo ao trabalho para que não falte papel higiênico para ninguém, afinal, quem quer pôr a mão na própria merda? Não haverá uma praça com 10 pessoas protestando, não haverá passeatas ou gritos por liberdade. Quarta-feira é feriado, dá pra emendar. Inclusive, talvez os mais de 30 milhões de brasileiros que não votaram já tenham emendado, e já estão preocupados com o feriado do dia 15 que cai numa terça-feira. E para que pensar em política se a eleição já acabou? Tem que pensar é no natal que está chegando, no décimo terceiro que vai regar seus bolsos, ignorando que o réveillon vai começar com o branco, mas vai terminar com vermelho, e talvez nunca mais saiamos dele. Será a cor das próximas décadas. | ||
E quando 2023 chegar, chegarão com ele as facções criminosas, a conversão do judiciário em bolivariano, o plano de governo que não foi divulgado, mas que ninguém poderá dizer que não sabia quais eram as pautas, a liberação de drogas, do aborto, o desencarceramento de presos, aumento de impostos, o retorno do imposto sindical ou equivalente, a regulação dos meios de comunicação, da internet, a ideologia de gênero, as invasões de terra, a desapropriação de imóveis para fins sociais, e, por fim, nossa bandeira ser vermelha. E não vai adiantar chorar como choram os cubanos, venezuelanos, argentinos, chilenos, colombianos, bolivianos e nicaraguenses, muito menos alguém poderá dizer que não sabia que seria assim. Todo mundo sabia. Mas, o nojinho venceu a esperança. E já no dia de hoje, 31/10/2022, os resultados da bolsa de valores e do dólar vão precificar tamanha estupidez. | ||
O brasileiro não está nem aí, mas, 2023 está logo aí. E num dado momento, inevitavelmente, o povo vai se perguntar: quem poderá nos salvar? E eu informo: não chamem o Chapolin Colorado, ele usa roupa vermelha. | ||
Espero que essa tenha sido a última vez que eu me senti tão rudimentarmente sem condições de interpretar as pessoas e os acontecimentos. E que seja também a última vez que eu sinto pena de quem nunca teve essa capacidade um dia. | ||
P.S. - Parabéns a todos que colaboraram para que o Brasil jamais tenha futuro, vocês foram extremamente competentes, tanto o elenco como a plateia que permaneceu calada assistindo o espetáculo. | ||
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