Se você achou que eu estava me referindo a Jair Bolsonaro, acertou e errou ao mesmo tempo. Acertou por ser ele o único presidente da república nos últimos 35 anos que briga pelo Brasil. Ao mesmo tempo errou porque eu realmente me refiro ao po...
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Se você achou que eu estava me referindo a Jair Bolsonaro, acertou e errou ao mesmo tempo. Acertou por ser ele o único presidente da república nos últimos 35 anos que briga pelo Brasil. Ao mesmo tempo errou porque eu realmente me refiro ao povo e não a ele ou ao cargo que ele ocupa. | ||
Talvez antropólogos e sociólogos sérios pudessem dar uma explicação histórica sobre a leniência do povo brasileiro. O problema é que, geralmente, esses profissionais são ligados à esquerda e à causas que inventam explicações ao invés de tratar o assunto com a seriedade que merece. | ||
Até 2014 éramos pelo menos uma "pátria de chuteiras". Mas os 7 a 1 que tomamos da Alemanha em pleno estádio do Mineirão nos fez tirar as chuteiras dos pés. Vide a Copa de 2018, quando a adesão dos brasileiros à seleção canarinho foi pífia, uma espécie de "troco" do torcedor ao vexame de 2014. | ||
Desde 1985, quando o Brasil voltou a ter um regime democrático, assistimos calados Sarney, Collor, Itamar, FHC 2 vezes, Lula 2 vezes, Dilma 1 vez e meia, e Temer acabarem com o país em todos os sentidos. E repito, calados. | ||
As únicas e reais manifestações que assistimos contra presidentes da república aconteceram com os caras pintadas no governo Collor e no movimento passe livre em junho de 2013, sendo que esse segundo se replicou em outros momentos posteriores pelo impeachment da Dilma. Ambos, porém, não foram espontâneos. Foram movimentos orquestrados pela esquerda ou organizados por grupos como MBL, Vem Pra Rua e Revoltados Online, que, depois, soubemos que, na verdade, alguns eram uma nova esquerda surgindo e não uma guinada para a direita. | ||
Vivenciamos os fracassados planos mirabolantes de Sarney, o assalto à poupança da população feito por Collor, o enorme roubo aos cofres públicos quando das necessárias privatizações no governo FHC, o mensalão e petrolão de Lula, a destruição da economia feita por Dilma, e o fortalecimento da proteção a corruptos e bandidos feita por Temer. | ||
O que de fato fizemos desde Sarney além de eleger um presidente de direita? Nada. E o que fizemos após eleger esse presidente de direita além de esbravejar nas redes sociais e ir para as ruas em movimentos pífios, desorganizados, demasiadamente espaçados e sem pautas bem definidas ou organizadas? Também nada. | ||
Parece difícil colocar nas cabeças das pessoas que não existem mártires e heróis, e que, de fato, elas sequer merecem que alguém se martirize ou promova atos heroicos quando elas mesmas não fazem nada por si ou por suas cidadanias. | ||
O que temos visto acontecer na política brasileira nos últimos 2 anos é o contra-ataque das elites corruptas, destruindo investigações e personagens como Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, que já se posicionaram como mártires e heróis, mas que, no fundo, também fazem parte de uma elite que pensa em seu próprio umbigo, chegando mesmo a se tornarem vilões quando se põe uma lupa sobre tudo o que fizeram. | ||
Não estou dizendo com isso que a Lava Jato foi um engôdo ou que o que foi feito ali esteja no âmbito da ilegalidade. Digo apenas que essas pessoas se acharam maiores do que a própria Lava Jato, e que, por causa disso, tanto elas quando a própria Lava Jato foram colocadas em descrédito, colaborando fortemente para que o povo brasileiro arrefecesse seu desejo de mudar o Brasil. | ||
Diz a Wikipedia em sua definição de cidadania: "Cidadania é a prática dos direitos e deveres de um(a) indivíduo (pessoa) em um Estado. Os direitos e deveres de um cidadão devem andar sempre juntos, uma vez que o direito de um cidadão implica necessariamente numa obrigação de outro cidadão. Conjunto de direitos, meios, recursos e práticas que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo." | ||
Cidadania não é uma coisa que se possa terceirizar. Não há meios de um juiz, um presidente da república, ou qualquer outro cargo ou função pública ou privada exercer a cidadania de terceiros. Eles podem, no máximo, defender esse conceito, mas não podem exercitá-los pelas pessoas. | ||
Enquanto o povo brasileiro não tomar as rédeas de sua cidadania, exercendo seus direitos e suas obrigações, não serão criadas as condições necessárias para mudar o país e afastar políticos de calça apertada, ministros do STF que interferem no poder executivo e no poder legislativo para proteger bandidos, e as centenas de bandidos que ocupam os poderes da república desde às Câmaras Municipais de vereadores até as prefeituras, governos estaduais e presidência da república. | ||
O problema não está com eles. São bandidos e fazem apenas o que os bandidos fazem. E a roubalheira generalizada com as verbas destinadas à pandemia não me deixa mentir. Eles roubam porque estão lá, eleitos pelo povo, que elege sem saber votar, mas que não sabe fazer nada para retirá-los de lá quando mostram suas verdadeiras faces. | ||
Enquanto o povo brasileiro não souber defender sua cidadania, não haverá quem o faça por ele. Não há injustiça quando o justo se cala diante da opressão e se submete a seus algozes. | ||
Quando se trata de cidadania, a única saída é cada um deve ser mártir e herói da sua própria causa. Ou perecer diante do sistema. | ||
Existe a hora de falar e a hora de calar. A de falar está se esgotando. Em breve só nos restará calar. |