O problema não é a justiça. É quem cuida dela.
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O problema não é a justiça. É quem cuida dela.

Reflitam, excelências. Não servem lagostas e vinhos premiados na cadeia.

HS Naddeo
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A noção de injustiça no Brasil não é de hoje, mas nunca foi tão escancarada a maneira como ela é praticada, ou, se preferir, a maneira como a justiça não é praticada. Depositávamos as críticas nas leis, nos políticos, no poder econômico de quem sempre ficava impune dos crimes que cometeu, mas não tínhamos o foco direcionado para o local onde a injustiça realmente acontece.

Até então, anulações, absolvições e arquivamentos de processos mal eram divulgados, e, quando acontecia, eram justificados por investigações mal feitas, provas ilegais, abuso de poder das polícias. A população não sabia nomes de juízes, ministros das altas cortes, muito menos o que está escrito na Constituição Federal. Não entendíamos a amplitude do papel do Ministério Público no sistema judiciário e nem nos interessávamos por essas coisas. Nos consolávamos como as máximas do "rouba mas faz" ou com o "rico não vai preso".

Mas não foi Bolsonaro o responsável por esse despertar que hoje atinge até o mais humilde cidadão. Quem expôs a podridão foi a Lava Jato. A partir dali o brasileiro percebeu que usava nariz de palhaço, que trabalhava 5 meses não para pagar impostos, mas para sustentar quadrilhas, e que dessas quadrilhas faziam parte quem deveria trabalhar para impedir que elas existissem e não dar a elas cobertura para que persistissem.

Justiça é um conjunto de regras escritas que, por mais bem feitas que sejam, não se cumprem sozinhas. O sistema judiciário de qualquer país é um emaranhado de regras, normas, regulamentos, protocolos, regimentos, burocracias, sequências, funções, cargos, que no fim das contas desembocam em pessoas. E é aí que mora o perigo.

Perdemos a confiança na justiça porque perdemos a confiança nas pessoas que deveriam fazer justiça. Por mais que saibamos que muitas das nossas leis são porcas e feitas sob medida para garantir a impunidade, ninguém ataca o judiciário como instituição, mas as pessoas que o comandam e representam.

Em 1990 os brasileiros perderam a credibilidade na seleção brasileira de Lazaroni. Criticavam o treinador, o padrão de jogo escolhido por ele, a escalação que ele fez. Mas bastou ganharmos o título em 1994 para recuperarmos o respeito e a admiração pela seleção novamente. Mudou o treinador, o estilo de jogo e o time. A mudança foi tanta que Zagallo, assistente técnico de Parreira em 1994, criticadíssimo, recuperou seu prestígio e foi o treinador em 1998. Chegou na final e não ganhou. Mas saiu da Copa do Mundo prestigiado.

A atual composição do Supremo Tribunal Federal não tem mais credibilidade. Muda o presidente mas o time continua o mesmo. Um "time" de 11 ministros que jogam juntos para o adversário ganhar. O Brasil já não ganha mais nada com eles. Jogadores bichados sem talento natural para o que fazem, que só jogam em impedimento, só fazem gol contra, e sem um único árbitro para puní-los pela quantidade de faltas que cometem. Quem deveria e poderia, Senado Federal, se omite para protegê-los e ser protegido.

Como confiar nas leis sem confiar na justiça? Como confiar na justiça sem confiar nos juízes? Como confiar no sistema se ele é podre desde o momento que as leis são criadas e aprovadas? É tudo ilógico, imoral, antiético, inconstitucional, ilegal. E tudo isso é usado contra nós porque aprendemos a reconhecer e rejeitar essa podridão. Não queremos mais. Não aceitamos mais. Só que eles não aceitam e têm medo do fato de que sabemos exatamente quem eles são, como agem e a favor de quem trabalham.

Se Bolsonaro não foi o responsável por enxergarmos essa realidade é dele a responsabilidade por nos encorajar a enfrentá-la. A perseguição que o judiciário faz contra ele desde o momento em que Rosa Weber entregou-lhe um exemplar da Constituição Federal no dia da posse é inimaginável em qualquer país com um mínimo de civilidade. É claro e cristalino tanto para quem o defende quanto para quem o ataca. A diferença é que os defensores reagem, enquanto os outros aplaudem, mesmo cientes de que a única coisa que não existe nisso tudo é justiça.

Não dá mais para jogar com esse time que está preparando mais uma derrota para nós. As eleições de 2022 tem todos os ingredientes necessários para levar o Brasil à uma situação da qual podemos levar décadas para sair, às custas de muita miséria e do empoderamento dos mesmos bandidos que jogaram o Brasil no buraco que foi encontrado por Bolsonaro em 1 de janeiro de 2019. Política misturada com tráfico de drogas e toda a espécie de submundo que fez o país deteriorar seus valores de 1985 a 2018.

Foram 33 anos de saques aos cofres públicos que levarão mais 30 anos para reconduzir o país a um patamar de desenvolvimento compatível com seu potencial, se mantida a política de governo atual. Porém, se não for mantida, bastarão 4 anos para chegarmos ao que vive hoje a Argentina, e 8 anos para atingirmos o nível da Venezuela. Porém, reeleger Bolsonaro será pouco para fazer frente a esse tribunal de exceção que comanda o judiciário brasileiro. Precisaremos de um Senado Federal alinhado com a vontade popular para que juízes sejam julgados e punidos pelos abusos de poder que cometem contra a população brasileira.

Não queremos mais ser consolados. Hoje conhecemos as leis e reconhecemos as transgressões à elas cometidas por quem deveria protegê-las e honrá-las. Queremos voltar a respeitar a justiça e viver uma democracia real. Sabemos exatamente a quem criticar e porque criticar. E não serão urnas ou canetadas que impedirão que o Brasil retome definitivamente o rumo da decência, no qual o império da injustiça não tem lugar.

Reflitam, excelências. Não servem lagostas e vinhos premiados na cadeia.

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