R$ 5.700.000.000,00. Do nosso fundão para o deles

Conta em seu livro o ex-ministro de Sarney, Saulo Ramos, a história de quando chamou o ex-ministro do STF Celso de Mello, nomeado pelo próprio Sarney, de "juiz de merda" quando este ligou justificando ter votado contra a ação do interesse do presidente quando viu que mesmo sem o seu voto a causa já era vitoriosa e não faria diferença votar contra.

Partidos de merda fizeram a mesma coisa ontem para ficar bem na fita. PSOL, Novo, Podemos e PSL votaram contra o fundão, sabendo que seria aprovado do mesmo jeito. Talvez o Novo se recuse a usar, mas duvido que os outros 3 façam o mesmo.

Enfiaram a mão no nosso bolso mais uma vez em R$ 26,51, o que ficou ainda mais fácil depois de enfiarem uma agulha nos braços das pessoas sem precisar explicar bem o que estão injetando, se funciona mesmo, se tem efeito adverso, se pode causar algum problema futuro. Já não tem mais um "passa aí a grana" ou "fica quietinho" na hora de tomarem nosso dinheiro. Fazem isso com base em leis que eles mesmos alteraram ou criaram em benefício próprio, porque sabem que a chiadeira não vai passar de chiadeira. Mais uma.

O que fará o povo? Vai às ruas protestar? Vai fazer greve para cessar a geração dos impostos que financiam esses assaltos? Vai na porta do Congresso gritar pro concreto enquanto deputados e senadores estão de férias? Não fez isso o ano inteiro, não seria agora. Eles sabem e contam com isso. Então põem esses temas na última sessão legilslativa dos anos, aprova nas duas casas no mesmo dia, e, "vamos ao recesso". Em fevereiro ninguém irá à Brasília fazer o que não fez o ano inteiro. Mais um veto do presidente derrubado. E o bandido é ele.

A gente nem sempre é responsável pelo deputado ou senador que está representando nosso povo ou estado. Nas eleições proporcionais para a Câmara dos Deputados o quociente eleitoral fez com que a maioria deixe de ser efetivamente representada. O fato de apenas 27 entre 513 deputados federais terem sido eleitos com seus próprios votos é a prova cabal desse crime contra o cidadão/eleitor/contribuinte, afinal nos ferramos nas 3 condições. Só existe um meio para mudar isso.  Mudar o sistema eleitoral, uma nova lei. As últimas mudanças só reforçaram os vícios que o quociente eleitoral produz no resultado das eleições e na legitimidade da representatividade do cidadão através daquele cargo ocupado por alguém que não teve votos suficientes para estar onde está. E ainda que venha essa mudança só representaria mudanças para 2024 e 2026, muita água debaixo dessa ponte até lá.

Já para o senado, de eleição majoritária, se tem tanta porcaria sentada naquelas cadeiras, a culpa é tão somente do eleitor, ainda mais agora que o dinheiro que financia a campanha deles é ele quem paga. Votar errado em senador é desinformação, burrice voluntária ou interesse. Se não fosse assim nossos estados não seriam tão mal representados. Senador representa os interesses do estado e não do povo do estado, mesmo que o segundo esteja embutido no primeiro. Mas o que nosso sistema faz é possibilitar que um governador passe seu mandato inteiro com três senadores de oposição representando os interesses do estado por ser governado por um inimigo político. É essa possibilidade que torna importante escolher muito bem um candidato ao senado, motivo pelo qual muitas legendas priorizam investimentos para tentar eleger senadores, vale o investimento.

Tem um circo eleitoral acontecendo na nossa cara, com nosso dinheiro, sobre o futuro do país, que pode trazer muitas surpresas no próximo ano, de meramente surpreendente a bem desagradáveis, e é aí que vamos entender de verdade o que esse povo como um todo quer de verdade para o futuro do Brasil. Penso que o que já vimos do judiciário nós últimos 3 anos vai virar estória da carochinha. Será a primeira eleição "com a sociedade editada pelo STF", com o "semi-presidencialismo em vigor tendo o STF como poder moderador" e, não menos perigoso, muito pelo contrário, teremos o ex-ministro da defesa e desafeto do presidente, General Azevedo, no comando geral do TSE, abaixo apenas dos ministros da corte, e ninguém menos que Alexandre de Moraes, presidindo as eleições. E, mantidas as condições de temperatura e pressão, Rosa Weber assume a presidência do STF até sua aposentadoria compulsória em outubro de 2023.

Pois é. A gente deixou acontecer. A derrubada a esse veto de Bolsonaro era fava contada. Ele fez o papel dele de mostrar e comprovar o motivo de dia discordância, sabendo que o veto seria derrubado. E fomos vendo o Brasil de ato monocrático em ato monocrático, de liminar em liminar, de prazos de 48 horas para o presidente explicar seus atos, deputado federal preso em pleno mandato com anuência vergonhosa da casa, presidente de partido preso, ambos sem crime, caminhoneiro preso, jornalista preso, cidadão investigado, sites desmonetizado, proibido de trabalhar, contas censuradas, ativistas seguidos e perseguidos, presidente investigado em 6 inquéritos, sem o STF pedir autorização da Câmara, como foi quando quiseram investigar Temer e Rodrigo Maia salvou sua pele 2 vezes. O que mais precisa?

Autoridade para coordenar o combate à Pandemia retirada do presidente através de delegação aos governadores e prefeitos para gerir cada um seu próprio plano local de combate ao Covid, assim como gerir o dinheiro público destinado ao enfrentamento do vírus, ficando a União com a responsabilidade de pagar a conta. E o dinheiro foi desviado, a CPI do circo não tratou governadores e prefeitos, o primeiro caso da história do Congresso Nacional no qual é o relatório final que gera uma CPI, e não o contrário, que além de correto é o mínimo que se espera, até para a falsidade parecer menos falsa. Vimos várias assim.

Quando olhamos 5,7 bilhões dividos por 215 milhoes de brasileiros, chegamos a R$ 26,51 por habitante para sustentar isso. Parece até pouco, a gente nem percebe que paga. Não paga uma pizza gigante. Não paga duas cervejas. Quase 4 litros de gasolina. Mas não é um valor isolado. É mais R$ 26,51 que deixam de ser investidos, que são somados a uma média de 35% sobre tudo que a gente consome. A cada R$ 100,00 consumidos, cerca de R$ 35,00 é imposto direto.

Que venha 2022. Que traga junto muita luz e consciência a todos nós. Não será fácil. Já não tem mais previsível, nem provável. E ao contrário do que cantou Tim Maia, vale inclusive dançar homem com homem e mulher com mulher. Tudo será usado na briga pelo voto do eleitor, muito baixo nível, muita acusação, e ainda terá muita gente que vai preferir acreditar na ladainha de quem promete fazer o que não fez durante os 35 anos nos quais tiveram a chance e o dinheiro para fazer, mas preferiram perder as chances e ficar com o dinheiro. A escolha do eleitor é individual. Mas no fundão tomamos todos juntos.

Não passemos o ano sem lembrar de que deixamos de fazer muita coisa, o quanto nossa leniência, comodidade, acomodação, zona de conforto, nos impediram de agir, cada um com sua desculpa, justificativa, razão, e não me cabe julgar essa individualidade. Mas como coletivo fracassamos mais vez. Não somos uma nação, a pátria a qual muita gente se refere não tem sentimento de nada para muita gente. Aprenderam a associar pátria com assistencialismo, com aquilo que o governo dá sem que seja necessário muito esforço para obter, mesmo negociando a liberdade de pensar em troca dessa migalha. E são milhões nessa condição. Não é assim que um país forma cidadãos, eleitores e contribuintes. Que Deus nos ajude já que a gente mesmo se ajuda muito menos do que deveria.

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