TSE, o lugar onde o voto faz a curva
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TSE, o lugar onde o voto faz a curva

Se Alexandre de Moraes terá mesmo coragem de cassar o registro da candidatura de Jair Bolsonaro, saberemos em breve.

HS Naddeo
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A culpa pode estar nas curvas de um ateu comunista

Ninguém duvida da beleza e da qualidade do trabalho de Oscar Niemeyer. Suas curvas se espalharam pelo mundo, mas, em Brasília, talvez, esteja a maior quantidade de obras de seu portfólio arquitetônico, espalhadas por incontáveis edifícios públicos, o que, quem sabe, inspirou nossos políticos à pratica política cheia de curvas e voltas, incapazes de fazer política de modo reto, direto. E o edifício do TSE não é diferente disso. Um lindo elefante branco que abriga em 2022 um orçamento de R$ 10,2 bilhões de reais, em cujas despesas não prevê a implantação de impressoras para voto impresso auditável, e de cujo total R$ 6 bilhões são destinados apenas a pagamento de salários e encargos sociais dos marajás que o habitam.

Vale mencionar que a implantação das tais impressoras custariam mais R$ 2 bilhões de reais. E não custa lembrar de que o Brasil realiza eleições apenas de 2 em 2 anos, e que a corte do TSE, composta por 9 ministros, se reúne apenas 1 vez por semana. E para tanta movimentação de trabalho, nosso elefante branco cheio de curvas custou a bagatela de R$ 327 milhões de reais, pagos por nós, obviamente, e foi inaugurado em 2011. Não podemos dizer que é um edifício feio. Também não sei se diria que é bonito. Mas penso que suas curvas ilustram bem a maneira como o tribunal que nele se hospeda costuma agir para atingir seus objetivos, e, penso também, que ninguém representa melhor a arquitetura de Niemeyer do que Alexandre de Moraes, a quem poderíamos, sem medo de errar, chamar de um ministro de cúpula.

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Obviamente o intuito deste artigo não é falar sobre arquitetura, mas não poderia deixar de apresentar uma citação de Niemeyer antes de entrar no assunto, pois fala muito da Brasília não arquitetônica que se instalou em seus edifícios.

“Não é o ângulo reto que me atrai; nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.” 

Na semana passada começou a circular pela imprensa e pela internet a informação de que seria assunto corrente nos corredores do TSE que Alexandre de Moraes, como presidente do tribunal, tem demonstrado, sem muita cerimônia, disposição para cassar o registro da candidatura do presidente Jair Bolsonaro à reeleição (o trecho que trata do assunto começa a partir do minuto 8'30". Será que ele teria tanta coragem? Tem Alexandre de Moraes e demais ministros do TSE a noção do que significaria tal atitude? Ou será que há alguma ideia maior por trás dessa possibilidade?

Penso que seriam três as possíveis consequências por tamanha inconsequência. A se levar em conta o apoio popular que tem Bolsonaro, a primeira seria uma convulsão social sem precedentes na história do Brasil. A segunda, e talvez apostem nela, é, apesar do apoio explícito ao presidente, a contumaz incapacidade de reação do povo brasileiro, dado o histórico recente de sapos engolidos a seco, como, por exemplo, a absurda soltura, livramento e capacitação de Lula para disputar as eleições de 2022. E a terceira, e mais trágica, uma guerra civil derivada da primeira hipótese, o que, a mim, as vezes parece um objetivo de muitas partes envolvidas no processo eleitoral, consonante com a frase "vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar eleição!", dita por José Dirceu.

A determinante interferência de ministros do STF/TSE no legislativo para que o voto impresso auditável não fosse implementado é o momento em que o voto faz a curva. A recusa pela implementação das impressoras nas quais os eleitores poderiam aferir se seus votos escritos seriam compatíveis com o que foi digitado na urna é algo inexplicável, injustificável, que não encontra nexo em nenhuma das desculpas até aqui dadas por vossas excelências. Dinheiro nunca foi problema. Uma camada a mais de transparência era tudo o que se pleiteava ao se introduzir a possibilidade de que votos impressos, seguramente protegidos em urnas próprias e invioláveis para recebê-los, pudessem ser contados em caso de dúvida, ou mesmo por amostragem. Seria inclusive uma demonstração inequívoca promovida pelo próprio TSE para que a população viesse a readquirir confiança no nosso sistema eleitoral.

Fosse eu presidente do TSE, convicto da segurança que se apregoa, não apenas implantaria as impressas, mas promoveria a contagem total dos votos em 2022, assegurando de vez a lisura do processo e ao mesmo tempo confrontando com fatos todo e qualquer cidadão brasileiro, do mais simples ao presidente da república, provando que o sistema eleitoral brasileiro é íntegro e inviolável, e, portanto, absolutamente confiável. Mas não. O TSE age como o marido que jura para sua esposa que ela não encontrará nenhuma mensagem indevida no seu Whatsapp, mas não revela a senha de seu celular para que ela possa conferir se ele está dizendo a verdade.

É assustador imaginar a infinita possibilidade de cenários daqui até a eleição, e mesmo depois dela, dê o resultado que der. Mas, principalmente, se Jair Bolsonaro não se consagrar vencedor apesar de todas as demonstrações populares de que sua derrota parece ser praticamente impossível, sendo ele recebido, aclamado e acompanhado por multidões onde quer que vá, ao contrário do seu maior adversário que mal consegue encher uma Kombi de apoiadores quando chega em algum lugar e que vem preferindo apenas exposições em ambientes fechados e/ou controlados para evitar o desconforto de ser chamado de ladrão, como acontece toda vez que precisa, necessariamente, se expor ao público.

Se Alexandre de Moraes terá mesmo coragem de cassar o registro da candidatura de Jair Bolsonaro, saberemos em breve. Mas o direito dos cidadãos que exigem mais transparência e confiabilidade no sistema eleitoral, suspeita que na verdade recai sobre quem preside, organiza e executas as eleições, e não exatamente nas urnas em si, esse já foi cassado, assim como têm sido cassadas também as nossas liberdades expressas na Constituição Federal e a própria Constituição Federal em si, cujos artigos e parágrafos vêm sendo deliberadamente ignorados, reinterpretados e adulterados para que a (in)justiça avance sobre nossa população através de pessoas investidas de autoridade para os quais não tem envergadura moral para ocupar.

O futuro do Brasil está nas nossas mãos. E não nos bastará vigiar e orar. Temos que estar atentos. Daqui até 2 de outubro não há tempo para descansar. Qualquer cochilo poderá ser tarde demais.

Pouco antes de ser preso pelos soldados romanos no Getsêmani, Jesus estava com Pedro e dois filhos de Zebedeu. Conforme relata Matheus, capítulo 26, versículos 38 a 47:

Mateus 26:38 - Disse-lhes então: "A minha alma está profundamente triste, numa tristeza mortal. Fiquem aqui e vigiem comigo".Mateus 26:39 - Indo um pouco mais adiante, prostrou-se com o rosto em terra e orou: "Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres".Mateus 26:40 - Depois, voltou aos seus discípulos e os encontrou dormindo. "Vocês não puderam vigiar comigo nem por uma hora?", perguntou ele a Pedro.Mateus 26:41 - "Vigiem e orem para que não caiam em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca."Mateus 26:42 - E retirou-se outra vez para orar: "Meu Pai, se não for possível afastar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade".Mateus 26:43 - Quando voltou, de novo os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados.Mateus 26:44 - Então os deixou novamente e orou pela terceira vez, dizendo as mesmas palavras.Mateus 26:45 - Depois voltou aos discípulos e lhes disse: "Vocês ainda dormem e descansam? Chegou a hora! Eis que o Filho do homem está sendo entregue nas mãos de pecadores.Mateus 26:46 - Levantem-se e vamos! Aí vem aquele que me trai!"Mateus 26:47 - Enquanto ele ainda falava, chegou Judas, um dos Doze. Com ele estava uma grande multidão armada de espadas e varas, enviada pelos chefes dos sacerdotes e líderes religiosos do povo.

Para Jesus não foi possível afastar o cálice. Mas nesta eleição está em nossas mãos fazer isso, impedir que os traidores possam concluir o que estão fazendo ao presidente e ao Brasil. Cabe a nós impedir a chegada da multidão armada, e  enfrentá-la se necessário. E talvez seja realmente necessário.


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