Regularmente o noticiário econômico divulga vários tipos de previsão. De inflação, crescimento econômico, taxa de câmbio, taxa de juros. E normalmente a realidade é sempre diferente do que estas previsões apontavam. Mas por que isso acontece?
Todos os dias a mídia de notícias econômicas informa todo tipo de previsão sobre a economia do Brasil e do mundo. Por exemplo, que o crescimento do PIB no ano que vem vai ser de 3,5%, que a inflação no final do ano vai ser de 9,3%, que a taxa de câmbio vai ser de R$ 5,32 por dólar, que a dívida pública vai atingir 96% do PIB, que isso, que aquilo, etc, etc, etc. E muito provavelmente nenhum desse números vai se confirmar. Alguns até chegarão perto, mas muitos outros ficarão bem distantes da realidade. | ||
Mas por que isso acontece? Basicamente por três fatores. O quanto cada um influencia é difícil de determinar e também varia de caso a caso. Mas vamos lá a esses fatores: | ||
1 - Os dados são imprecisos. | ||
Como qualquer fórmula, as utilizadas na economia também partem de dados para chegar aos resultados. E se esses dados tem falhas, os resultados também serão falhos. E muitas das variáveis econômicas são de difícil mensuração, o que dificulta chegar a resultados corretos. Por exemplo, uma das fórmulas da economia relaciona o nível de consumo à renda. Agora imagine a dificuldade de se mensurar a renda de um país. Para isso é preciso somar o valor de todos os salários, o lucro de todas as empresas, a renda recebida de todos os profissionais liberais e de todos os trabalhadores informais. Além disso ainda temos que somar toda a renda trazida de fora do país e descontar toda a renda levada para fora do país. | ||
Claro que esse valor é impossível de calcular na prática. O que temos são estimativas e, portanto, é impreciso. Sendo assim, essa fórmula que relaciona renda e consumo, ao partir de um dado que é impreciso, também chegará a um resultado impreciso. | ||
2 - A situação muda. | ||
Imagine que uma pessoa vai viajar de uma cidade a outra distante 100 km. Ela vai pegar estrada às 7h da manhã e vai viajar à velocidade de 100 km/h. Diante disso, é muito simples fazer a previsão de que essa pessoa chegará à outra cidade às 8h da manhã. No entanto, na realidade a pessoa esqueceu de colocar o despertador pra tocar e acordou só às 7h30. Além disso, o pneu do carro furou e ainda, devido a um acidente, a estrada ficou totalmente bloqueada por 1h30. Claro que quando a estrada foi liberada ainda tinha um longo congestionamento à frente. Com tudo isso, nosso viajante só chegou no seu destino às 12h. | ||
Ou seja, as previsões só funcionam muito bem se as condições nas quais elas foram feitas não se alterarem. A pessoa só chegaria realmente às 8h da manhã se tivesse saído às 7h e se viajasse a 100 km/h sem parar. Mas a situação mudou e por isso o resultado muda. Até por isso o correto é usar o termo projeção e não previsão. Previsão são os que os videntes fazem, que preveem a queda de um avião ou a morte de uma celebridade. O que os economistas fazem são projeções. Ou seja, dado uma situação inicial e mantendo-se as condições vigentes, projeta-se uma situação final. Obviamente, se alguma condição mudar o resultado será diferente do que foi projetado. | ||
O problema para a ciência econômica é que as condições mudam muito frequentemente o que acaba por invalidar as projeções feitas antes dessas mudanças. E quanto maior a mudança (o início de uma guerra, por exemplo, ou a morte inesperada de um presidente), maior a incerteza e mais a realidade se desviará das projeções feitas. | ||
3 - As fórmulas não são exatas. | ||
As fórmulas da física são uma expressão de fenômenos da natureza. Por exemplo, a fórmula de queda livre é resultado da ação da força da gravidade sobre um corpo. Essa força é constante e sempre será assim, independente de qualquer outra coisa. Por isso podemos calcular com precisão a velocidade e o tempo que um corpo leva pra cair de uma determinada altura. | ||
Já as fórmulas da economia não são exatas, pois elas são expressões do comportamento humano. Ou seja, elas são resultado do comportamento de todas as pessoas diante de uma determinada variável. Por exemplo, diante de um aumento da renda, as pessoas vão gastar mais ou poupar mais? Diante de aumentos de preços dos produtos, as pessoas vão consumir menos ou não? Se vão consumir menos, o quanto menos? As fórmulas da economia tentam calcular o resultado desses comportamentos de todas as pessoas em conjunto o que, obviamente, é impossível. O máximo que pode-se conseguir são aproximações. | ||
Então resumindo, as previsões econômicas muitas vezes diferem significativamente da realidade porque partem de dados imprecisos, acontecem fatos imprevistos que modificam a situação e as fórmulas não são exatas. Isso quer dizer que todas aquelas projeções econômicas que são anunciadas regularmente não servem pra nada? Não é bem assim. Mesmo com todos esses problemas, ainda assim essas projeções, de modo geral, mostram corretamente o rumo das coisas e é sempre melhor ter um rumo, ainda que impreciso, do que não ter rumo nenhum. |