Tenha um mestre

Dói menos aprender por meio dos ensinamentos de alguém. Mas a verdadeira experiência não se aprende, se vive. Grande parte do nosso aprendizado ocorre por tentativa e erro, e aprendemos muito com as quedas. Mesmo assim, é possível e necessário encontrar pessoas que sirvam de inspiração e que ajudem você a escapar das grandes quedas. Quando aprende com quem sabe, você comete menos erros.

Certa vez, um mestre me disse a seguinte frase: “Quando a solução está ficando mais complexa que o problema, a solução está errada.” De fato, eu estava indo por um caminho errado e tive que mudar de rota para resolver o problema. Dicas valiosas como essa só podem ser transmitidas por um mestre olhando de fora ou de cima.

A importância de ter um mentor

A palavra “mentor” vem da Odisseia, do poeta grego Homero. Quando Ulisses parte para a guerra, deixa Telêmaco – seu único herdeiro – aos cuidados de Mentor, um amigo da família, para que este sirva de orientador à criança.

Um bom mentor exercita suas competências com uma combinação de comunicação clara e sincera, diretriz, carinho e, principalmente, com alegria. A função dele é ser um auxiliar na jornada do seu desenvolvimento, um orientador para servir de apoio em sua evolução pessoal e profissional.

A relação de confiança e cooperação criada por meio desse processo beneficia ambas as partes, pois proporciona que você e seu mentor tenham a oportunidade de trocar conhecimentos, experiências e diferentes pontos de vista. A partir das reflexões sobre seus projetos de vida e de carreira, ambos acabam potencializando os próprios talentos e habilidades.

Tive a feliz oportunidade de conviver com vários mestres que contribuíram muito com a minha formação. Tenho profundo carinho, respeito e admiração por eles e pelo privilégio da convivência diária.       Desde pequeno aprendi a observar as qualidades das pessoas, e essa postura me ajudou a prestar atenção no que eu mais admirava em cada referência que tive na vida. Sendo assim, hoje eu me considero uma parcela, um pouquinho de cada um que admirei ao longo da minha trajetória, de pessoas que foram referências nesta caminhada.

O privilégio de ser o mentor

Também tive o privilégio de servir de inspiração para algumas pessoas. Posso afirmar que, das diversas alegrias de ser mentor, com toda a certeza a principal é: ao ensinar, você aprende mais ainda. Esse processo de se dedicar para ajudar ou ensinar alguém faz você resgatar seus modelos mais elementares e conceitos esquecidos. Ao criar um método pedagógico para ensinar outra pessoa, você também acaba sendo profundamente beneficiado.

O segundo aspecto da mentoria que traz alegria é o sentimento de gratidão das pessoas ajudadas. Isto faz a sua vida valer a pena: receber uma ligação, uma mensagem, um e-mail de agradecimento de pessoas que aprenderam algo com você. Esses gestos revigoram a energia. Quando nos cercamos de pessoas que nos querem bem, que nos admiram, que estão comprometidas com nosso propósito, tudo parece fazer mais sentido e as respostas aparecem com mais harmonia. Por isso, escolha bem quem e o que você quer cultivar por perto.

Simplifique!

A simplicidade é bela e poderosa, e vale para tudo na vida. Quando somos jovens, temos a tendência de buscar alternativas complexas para questões simples e de complicar situações básicas. Todos os mestres que conheci tinham algumas qualidades que julguei serem importantes. Uma delas era a capacidade de olhar para questões complexas e estruturar a forma de perceber o problema a fim de buscar as soluções mais coerentes.

Veja bem, simplificar não significa minimizar. Você vai perceber que, diante de muitos desafios e com pouco tempo para solucioná-los, é fundamental desenvolver a habilidade de estruturar de forma simples tanto os problemas como as soluções. Uma das formas de desenvolver mais rapidamente esse aprendizado é tendo um relacionamento próximo com seu mentor. Por isso é tão importante escolher seu mestre com cuidado.

Às vezes cometemos o mesmo erro mais de uma vez por estupidez. Outras vezes aprendemos com o erro e não voltamos a cometê-lo. Porém, apenas com a orientação e o aprendizado adquiridos por meio de livros, exemplos e mestres poderemos evitar erros. Porque, apesar de todos nós procurarmos o conhecimento e a verdade, jamais os possuímos. A vida é sempre dura na hora de ensinar, e apenas a busca permanente, a humildade intelectual e os bons exemplos vão ajudar você a se preparar para as dificuldades.

Nunca pare de aprender. Um dia o mentor pode ser você!

Procure ter bons orientadores enquanto é jovem. Não adianta achar que você é diferente, que sabe mais e que pode aprender sozinho. A verdadeira inteligência é a vontade de querer descobrir sempre mais. Com o passar do tempo, você vai perceber que as pessoas mais inteligentes continuam se achando ignorantes.

Procure aprender o máximo possível com seu mestre. Dessa forma, talvez um dia você possa devolver à humanidade tudo o que absorveu, tornando-se também uma referência na vida de alguém.

Bastidores:

Mindset é mais um estrangeirismo da língua inglesa que o mundo inteiro adotou. Se desmembrarmos a palavra em duas, teremos o termo “mind”, que significa mente, e o termo “set”, que pode ter inúmeras traduções, mas a que mais se encaixa nesse contexto é configuração. Logo, ao pé da letra, podemos dizer que mindset nada mais é do que a configuração da mente.

Um dos maiores aprendizados que tive com um dos meus mestres foi uma revolução na configuração da minha mente. Vou explicar.

Nasci em 1982, em Curitiba. Naquele tempo, meus pais, com o conhecimento que tinham e com a realidade da época, me prepararam e treinaram para seguir o roteiro tradicional: cursar uma faculdade e conseguir um emprego, de preferência no setor público ou em uma empresa multinacional. Meus pais falavam sobre esse tema com muita frequência e tenho certeza de que todos da minha idade passaram por algo parecido. Portanto, no âmbito profissional, meu mindset foi moldado dessa forma.

Vamos pular alguns anos. Eu estava na minha sala quando meu chefe, e dono da empresa onde eu trabalhava, chegou no fim do dia com o filho de aproximadamente 8 anos. Eu era Diretor de Produto e trabalhava em uma grande empresa de moda, e diversos aspectos ali despertavam a curiosidade de uma criança.

Eu e meu chefe fomos para uma mesa maior e, enquanto conversávamos, demos ao menino alguns lápis de cor e livros de estampa das estilistas. Enquanto eu o atualizava sobre os principais assuntos, o filho dele copiou alguns desenhos e coloriu algumas estampas. Quando terminou, veio nos mostrar seu trabalho, desenhos normais de uma criança dessa idade.

Eu, como pai, teria falado algo mais ou menos assim: “Uau filhão, que desenhos lindos! Parabéns! Acho que você pode ser um desenhista.” Mas meu chefe deu um nó no meu cérebro e respondeu com estas palavras, que nunca vou esquecer:

"Filho, que legal, quanto talento! Senta aqui para conversarmos sobre esse desenho. O que você acha de a gente montar uma estamparia um dia e nossa empresa fazer desenhos para o mundo todo? Ou então a gente monta um aplicativo de vender estampas, onde todo mundo pode desenhar e vender seus desenhos para quem quiser comprar. Ou então podemos pintar uns quadros com essas cores lindas. Os seus quadros poderiam vender no mundo inteiro. Quer aprender mais sobre desenho e pinturas? Podemos pesquisar juntos sobre o assunto..."

Dica prática: Mudança de mindset

Depois do episódio contado na seção de Bastidores, da conversa entre meu chefe e o filho, percebi a importância da mudança de mindset. Enquanto eu ainda estava limitado ao meu modelo mental e ofereceria uma resposta ao meu filho com base em meu mindset da década de 1980, meu mestre deu uma resposta completamente diferente, inovadora, oferecendo opções, fazendo a criança refletir, ampliando horizontes e ainda possibilitando uma pesquisa mais aprofundada sobre o assunto.

Não importa se uma criança vai ser designer ou CEO. O que importa é que não se deve limitar o pensamento dos outros com o nosso jeito de pensar. Precisamos estimular o outro a pensar diferente, explorar alternativas, ampliar a configuração mental e, principalmente, usar a criatividade. A criatividade é a melhor ferramenta para resolver problemas e, ainda que os robôs possam no futuro substituir o emprego de milhares de pessoas, não poderão substituir a genialidade de uma mente criativa.