Estas redes, usualmente, não possuem ligações verticais e suas interações ocorrem horizontalmente, na troca – sem cobrança - de conhecimento, ou na possibilidade de escapar do sistema que atrasa, ou ainda para transpor a hierarquia que não se...
Estas redes, usualmente, não possuem ligações verticais e suas interações ocorrem horizontalmente, na troca – sem cobrança - de conhecimento, ou na possibilidade de escapar do sistema que atrasa, ou ainda para transpor a hierarquia que não se alinha. | ||
É, numa síntese petulante, um escambo de habilidades sem que seja necessária a moeda corrente da alocação, da formalidade ou da subordinação hierárquica. | ||
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Há exatos 25 anos, eu escrevia um livro que abordava a existência, a importância e principalmente, a influência, dos submundos corporativos no ambiente laboral. Argumentei que, por baixo de uma estrutura, em tese, perfeita e hierarquicamente organizada, pulsava o verdadeiro e decisivo dia a dia da empresa. | ||
Com exemplos, apresentei este complexo tecido de conexões emaranhadas, conectado por túneis de conhecimentos complementares, parcerias incondicionais e colaborações cruzadas, nunca mapeados na planta geral do organograma ou no quadro da Visão. | ||
Das quatro editoras que enviei meus manuscritos, nenhuma se dispôs a publicá-los...isto foi um tanto deprimente, confesso, para alguém de 23 anos disposto a confrontar teorias inflexíveis de Golias da Gestão, com a simples funda da prática... | ||
Eu ainda guardo meus pergaminhos, recheados com anotações de dois amigos que se dispuseram a revisá-los. Porém, talvez, relendo-os agora com uma rodagem mais alta no odômetro da vida, eu devesse ser mais grato por este bloqueio literário! | ||
Não que agora eu desacredite da existência deste underground, pelo contrário, reafirmo e renovo ainda mais minha convicção e, principalmente, por tê-lo vivenciado e utilizado muito fortemente. | ||
Porém, há um erro crasso em minha leitura da época de como tratar estas galerias de cooperação: propus que líderes devessem trazê-las à tona, dá-las visibilidade, reconhecer e formalizá-las na estrutura oficial da empresa. Uma péssima conclusão para algo que justamente dependeria, vitalmente, de seu anonimato e intimismo para existir. | ||
Um grande equívoco, sem dúvida! Em palavras na nossa mesa de bar, seria como convidar o diretor para o happy-hour, antecipando-me desde já nas desculpas por tal descortesia... | ||
Creio, finalmente, compreender melhor hoje estas vinculações não institucionalizadas, e que são, em essência, redes fortes de relacionamentos, com seus elos e suas ligações definidos por legítimas conquistas dos que a compõem dentro de cada grupo! As posições ocupadas em sua malha não foram instauradas por requisitos decorrentes de políticas ou estratégias, nem pelo que se define como condição obrigatória para o mérito estabelecido. | ||
Mas sim, legitimadas naturalmente e justamente pelas características próprias de cada integrante, seja por irradiar uma liderança técnica, seja pela habilidade de unir os diferentes, seja por saber despressurizar, seja, até mesmo, por ser, talentosamente, o bufão da corte! | ||
Estas redes não possuem ligações verticais e suas interações ocorrem sempre horizontalmente, na troca – sem cobrança - de conhecimento, tanto na possibilidade de escapar do sistema que atrasa, como para transpor a hierarquia que não se alinha. É, numa síntese petulante, um escambo de habilidades sem que seja necessária a moeda corrente da alocação, da formalidade ou da subordinação hierárquica. | ||
Por fim, entendo que não seja possível às corporações trabalharem sem as estruturas formais e os sistemas estabelecidos [até que eu publique o próximo livro, caso me permitam...] afinal é preciso haver padrão para a repetição e os processos de validações em sistemas de grande escala. | ||
Entretanto, é absolutamente necessário que líderes consigam identificar estas redes subterrâneas, primeira e urgentemente, para não rompê-las, segundo, para permitir que as instituições usufruam de suas consistência técnica, convergência de ideias e até mesmo, heterogeneidade de abordagens. | ||
** fim da parte I ** |