POLPA DENTÁRIA
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POLPA DENTÁRIA

POLPA DENTÁRIA

JAMES ALLEN
7 min
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TECIDO PULPAR

A polpa dental é um tecido conjuntivo frouxo, especializado e de origem mesodérmica. O tecido pulpar desenvolve várias funções como: indução da diferenciação de células do epitélio interno do esmalte em ameloblastos para que seja produzido esmalte; formação contínua de dentina pelos odontoblastos; nutrição da dentina através do fluído intratubular; defesa do tecido através da formação da dentina reacional e reparadora; transmissão de sinais a partir de estímulos na dentina através da inervação. De uma forma geral, o tecido pulpar possui uma estrutura semelhante à de outros tecidos conjuntivos.

Histologicamente, ao se examinar o tecido pulpar da região mais próxima à dentina para o centro, observam-se camadas distintas denominadas: camada odontoblástica; camada pobre em células; camada rica em células; e polpa propriamente dita.

A camada mais externa (camada odontoblástica) está completamente presente somente em polpas que não estão sofrendo nenhum tipo de injúria. Os corpos dos odontoblastos localizam-se em contato íntimo com a pré-dentina e podem não estar integramente presentes quando o dente está sofrendo alguma injúria como a cárie dental ou trauma pelo preparo cavitário, por exemplo. Nessa camada podem ser encontrados capilares sanguíneos, fibras nervosas e células dendríticas. Os odontoblastos possuem variação de tamanho e posição de núcleo, assim dá a impressão de irregularidade dessa camada, sugerindo a presença de uma camada com mais de 3 células de espessura. Os odontoblastos são unidos por junções tipo gap, desmossomos, e junções estreitas.

A camada pobre em células localiza-se logo abaixo da camada de odontoblastos, assumindo uma espessura de aproximadamente 40μm, onde praticamente não se pode observar células. É possível notar que vasos sanguíneos, fibras amielínicas e processos citoplasmáticos de fibroblastos a atravessam. Parece haver uma relação entre a presença dessa camada e o estado funcional do tecido pulpar, pois em polpas jovens ou polpas envelhecidas não é possível observá-la.

A camada rica em células está em contato com a camada pobre em células, onde é possível observar uma quantidade significante de fibroblastos, macrófagos e linfócitos. A polpa propriamente dita é o coração do tecido, pois contém a maioria dos vasos sanguíneos e fibras nervosas. Contêm normalmente, células como os fibroblastos, macrófagos, linfócitos, e células mesenquimais.

Odontoblastos

Os odontoblastos são células mesenquimais altamente diferenciadas, cuja função principal está relacionada à produção de dentina, por isso serem caracterizados como células do complexo dentino-pulpar.

Os odontoblastos são células sintetizadoras e secretoras, produzem basicamente glicoproteínas, colágeno e substância fundamental. As proteínas são transportadas pelos processos odontoblásticos, responsáveis pela secreção. A matriz secretada forma a pré-dentina que se matura e mineraliza. Parece que o odontoblasto sintetiza principalmente colágeno tipo I e pouco colágeno tipo V.

Fibroblastos

Os fibroblastos são células tipo constitutivo e se encontram em abundância no tecido pulpar. Estão envolvidos na produção de colágeno e substância fundamental, bem como na eliminação do excesso de colágeno pulpar.

Parece que os fibroblastos têm relação com o processo de reparo pulpar, pois a atividade mitótica precedente à diferenciação para substituição dos odontoblastos parece ocorrer entre os fibroblastos.

Células de Defesa

Macrófagos e linfócitos são encontrados no tecido pulpar. Outras células inflamatórias como os neutrófilos, plasmócitos e mastócitos podem ser encontrados em situações de inflamação pulpar. O macrófago é uma célula residente nos tecidos, que se origina dos monócitos sanguíneos. São geralmente encontrados próximos aos vasos sanguíneos e relacionam-se com a atividade imunológica.

Os macrófagos participam do sistema de vigilância imunológico por ser uma célula apresentadora de antígeno. São células responsáveis pela liberação de inúmeras citocinas e quimiocinas importantes para o desenvolvimento e manutenção do processo inflamatório.

Componentes Extracelulares

Os componentes extracelulares são representados basicamente pelas fibras e substância fundamental amorfa. As fibras encontradas no tecido pulpar incluem fibras reticulares, que se coram em preto quando se utiliza nitrato de prata; colágeno tipo I e III, que representam a maioria das fibras encontradas na polpa; e fibras de elastina que se encontram somente na parede dos vasos sanguíneos.

A finalidade básica das glicoproteínas é agir como moléculas de adesão. A fibronectina é a principal glicoproteína, que juntamente com o colágeno influencia na adesão, mobilidade, crescimento e diferenciação celular. Inclusive a resposta reparadora do tecido pulpar a estímulos, como o hidróxido de cálcio, parece estar relacionada ao aumento na produção da fibronectina pelas células pulpares.

A substância fundamental age também como um meio para excreção celular, onde os produtos do metabolismo celular, bem como nutrientes podem trafegar entre as células, as fibras e os vasos sanguíneos. Durante um processo inflamatório, ocorre a degradação da matriz extracelular pelas enzimas lisossomais como: enzimas proteolíticas, hialuronidase, condroitina sulfatase e enzimas bacterianas.

Dessa forma, a regulação osmótica e a nutrição celular se vêm comprometidas.

Inervação Pulpar

Sabe-se que a maioria das queixas principais dos pacientes que procuram atendimento endodôntico está relacionada à dor de origem pulpar ou perirradicular. Assim o entendimento da inervação pulpar é necessário para que se possa estabelecer um completo entendimento do quadro, e realizar um perfeito planejamento e tratamento do caso clínico.

Os sinais recebidos pelo dente são captados por fibras nervosas mielinizadas e amielinizadas presentes no tecido pulpar, as quais transmitem os estímulos ao cérebro para que sejam decodificados. A inervação pulpar vem da divisão mandibular e maxilar do nervo trigeminal.

Existem dois diferentes tipos de fibras nervosas no tecido pulpar, cada uma com função, diâmetro e velocidade de condução do impulso nervoso distintos. A fibra tipo A (mielinizada) e a fibra tipo C (amielinizada). A fibra tipo A apresenta-se na forma de A-beta (Aβ) e A-delta (Aδ). A maior quantidade de fibras sensoriais encontradas no tecido pulpar são as fibras A-delta e C. As fibras A delta estão relacionadas à dor, temperatura e toque, possuem um diâmetro de 1 a 5 μm e velocidade de condução do estímulo de 6-30 m/s. Enquanto as fibras tipo C são relacionadas à dor, possuem um diâmetro de 0,4-1,0 μm e velocidade de condução menor de 0,5-2,0 m/s.

Mesmo quando da degeneração pulpar, as fibras tipo C podem ainda responder aos testes de sensibilidade pulpar. É de se esperar que as fibras tipo C mantenham-se excitáveis mesmo em situações de hipóxia.

Os feixes nervosos adentram a polpa radicular juntamente com os vasos sanguíneos até distenderem-se na zona rica em células onde se ramificam dando origem a um plexo de axônios denominado plexo de Raschkov.

Testes Pulpares

O teste elétrico visa à estimulação das fibras tipo A presentes na região entre a dentina e a polpa. As fibras do tipo C não respondem adequadamente aos testes elétricos, pois é necessária uma corrente elétrica de maior amplitude para que se possa estimulá-las. O ponto ideal para estimulação elétrica em dentes anteriores é a borda incisal, devido ao menor limiar de excitabilidade das terminações nervosas. 

Já os testes térmicos visam a estimulação das mesmas fibras atingidas pelo teste elétrico. As fibras tipo C têm pouca participação na resposta aos testes de vitalidade, e são ativas quando os testes atingem uma intensidade que causam alguma injúria ao tecido pulpar.

Sensibilidade Dentinária

A dentina pode ser sensível ao toque, calor, frio, alimentos doces, soluções hipertônicas, e outros estímulos.

Acredita-se que a movimentação do fluido no interior dos túbulos dentinários seja o mecanismo de condução do estímulo às terminações nervosas sensoriais localizadas na área limítrofe entre a dentina e a polpa. A teoria hidrodinâmica foi proposta por Brannström, em 1963, e propõe que o rápido movimento do fluido no interior dos túbulos dentinários de dentro para fora da polpa causa deslocamento do conteúdo dos túbulos dentinários e distorção mecânica dos receptores nervosos, e assim, origina a sensibilidade dolorosa.

A hipersensibilidade dentinária parece ser o resultado de uma ativação das fibras de dor A delta, principalmente.

Durante um processo inflamatório agudo, a vasodilatação aumentaria o fluxo sanguíneo, e assim o volume de sangue e o aumento da pressão intersticial. O aumento da pressão levaria à compressão das vênulas que possuem pressão intravascular menor que as arteríolas e capilares. A compressão das vênulas ocasionaria isquemia e necrose localizadas.

Outro fator importante durante os eventos inflamatórios é a presença de mediadores químicos. Dentre os mediadores químicos mais importantes, estão as aminas vasoativas (histamina e serotonina), proteases plasmáticas (sistema complemento, sistema de cininas e sistema de coagulação), metabólitos do ácido araquidônico (prostaglandinas, leucotrienos e lipoxinas) fatores ativadores plaquetários, citocinas, quimiocinas, óxido nítrico e neuropeptídeos.

ALTERAÇÕES PROVOCADAS PELA IDADE

As alterações observadas com o avanço da idade são de difícilcorrelação exclusiva com o processo de envelhecimento, pois as alterações fisiológicas, defensivas e patológicas se superpõem.

De qualquer forma, uma das principais modificações refere-se ao tamanho da câmara pulpar e consequentemente o volume do tecido pulpar com a contínua formação de dentina secundária, em função do envelhecimento.