A intolerância dos “tolerantes”
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A intolerância dos “tolerantes”

Matheus de Castro Braz
2 min
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O teólogo canadense D. A. Carson (PhD, University of Cambrigde), escreveu um livro há alguns anos exatamente com esse título. Por mais paradoxal que seja, o conceito de tolerar ou não uma opinião ou ideia, está mudando. Em pleno período eleitoral, temos visto grupos que se dizem “a favor da democracia”, que, em nome da tolerância, têm demonstrado uma incrível intolerância com aqueles de quem divergem.

O ex-presidente do Instituto Liberal, Rodrigo Constantino, foi enfático ao comentar o título acima e livro, em artigo publicado no jornal “O Globo”: “Carson argumentou que a “nova” tolerância representa uma forma peculiar de intolerância e que antigamente, tolerar era aceitar a existência de pontos de vista diferentes, podendo conviver com eles,  ainda que os combatendo”.

Um grande exemplo dessa tradição, ressurgiu recentemente em meio ao nebuloso período eleitoral brasileiro em que vivemos: a frase atribuída a Voltaire dita para Rousseau - “Não concordo com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo” -. Vale notar que Voltaire considerava Rousseau um “poço de vileza”. Isso é importante, pois o ato de tolerar era nobre justamente porque o filósofo rejeitava claramente o pensamento e até a pessoa a quem estendia sua tolerância. Tolerar era aceitar as diferenças, não abraçá-las como nobres em si.

Agora, o “tolerante” precisa tomar qualquer opinião como verdadeira. Em vez de aceitar a liberdade de expressão de opiniões contrárias, ele deve acatar todas essas opiniões.

A tolerância dos “tolerantes” é bem seletiva e limitada, na prática. Podem demonizar as elites, o homem branco ocidental, os ricos, os católicos, os protestantes, os “neoliberais”, e ainda conseguem posar de defensores da diversidade e da tolerância depois. 

Resumindo, os que se dizem tolerantes costumam ser os primeiros a atacar e excluir aqueles com opiniões divergentes, indo contra o simples princípio de liberdade de escolha individual. Onde fica a coerência nisso tudo?