Mesmo se Bolsonaro for reeleito, Lula é o vencedor de 2022

Não, eu não sou de esquerda e muito menos esse é um texto de esquerda. Mas uma das principais características que diferenciam esquerda e direita é o ceticismo e nós, conservadores, não podemos ignorar os fatos: mesmo se Bolsonaro for reeleito, Lula é o vencedor de 2022.

Para entender tudo o que Lula significa para a população, para a esquerda e para a direita é preciso lembrar sua história e o que o tornou a principal figura política do nosso país pós-Vargas.

Lula cumpre bem o papel que a maioria da nossa população, culturamente ensinada a odiar pessoas bem sucedidas, idolatra: uma pessoa comum que chegando no mais alto cargo da República não abandonou a simplicidade. De origem humilde e de uma das regiões mais pobres do país, o metalúrgico surge com um discurso anti-corrupção, de reforma agrária, revolucionário e como símbolo do pobre que deu certo. Ao enfrentar sucessivas derrotas eleitorais, o petista se aproximou dos religiosos e dos empresários, esqueceu o papinho revolucionário e se tornou pragmático mesmo antes de presidir o país.

Na minha opinião, o período de Lula na presidência tem dois méritos que garantem o seu capital político até hoje.

A primeira grande sacada foi o Nordeste. Dessa terra anteriormente abandonada que vem o grande público do petista. Mas abandonada por quem? Pelos próprios nordestinos.  O primeiro presidente da República era alagoano. O primeiro presidente do período militar era cearense. No período da redemocratização temos os nordestinos Sarney e Collor, que mesmo sendo carioca nasceu politicamente em Maceió. De qualquer forma, Lula melhorou os sistemas de benefício social que já existiam e, com o segundo grande mérito, potencializou isso eleitoralmente.

E qual esse grande segundo mérito? A mídia. Você já deve ter ouvido que na época do Lula o pobre viajava de avião, a economia voava e emprego não faltava. De quem você escuta isso? Empresários ou trabalhadores? Pessoas ricas ou pobres? Essa afirmação é bastante popularizada por conta da mídia e prova como o petista usou bem os veículos de comunicação porque em seu governo não havia motivo para toda essa euforia.

No período de 2003 à 2010 o Brasil teve um rendimento melhor que nos anos anteriores, mas muito abaixo do desempenho econômico dos países emergentes no mundo. Para se ter uma noção, o Brasil cresceu menos que a Venezuela, Colômbia, Chile e Argentina.

A nossa taxa SELIC disparou para 26,50% e provocou uma onda de desemprego que atingiu 13%. Não estou dizendo que o período foi ruim economicamente, porque não foi e houve sim melhora, mas essa melhora é muito inferior ao que é alardeada. Para se ter noção, o governo Bolsonaro mesmo com todas suas crises políticas e o enfrentamento da pandemia conseguiu bater recordes de admissões: o saldo empregatício de fevereiro desse ano foi o melhor das útlimas 3 décadas .

Como um recorde de cargos formais pode acontecer se vivemos um período de recessão econômica e tivemos um jardim do Éden econômico no período Lula?

Aqui está o mérito do petista. Seu cari$ma, sua capacidade de dialogar com o Congre$$o e todas suas conquistas foram inflacionadas pela mídia. E são até hoje porque ele os tem na mão. Mesmo os escândalos de corrupção não foram capazes de interromper a eleição, e reeleição, de Dilma Rousseff.

Mas é aqui que tudo muda.

Com o fracasso das gestões Dilma, criou-se uma antipatia ao maior partido de esquerda do país e consequentemente ao seu maior líder, que começa a ser questionado perante a opinião pública. O surgimento da Lava-Jato acelera esse processo revelando o que sempre foi exposto, mas perdoado por todos: Lula é corrupto. Nesse episódio o brasileiro tem um sentimento ainda pior do que de ser enganado: o de ser traído. Sabemos que a maioria da direita já votou no Lula. A decepção política foi tanta que Lula conseguiu transformar eleitores em inimigos. Há quem compare isso com os que se decepcionaram por ter votado no Bolsonaro, mas aqui há uma diferença: ainda que decepcionados, os eleitores de Bolsonaro em 2018 continuam defendendo as mesmas pautas, sejam elas liberais ou conservadoras. O que aconteceu com Lula foi totalmente diferente. O movimento anti-PT, ou anti-Lula, foi o que realmente fez surgir  a direita ideológica no Brasil e até eleger um presidente baseado nas ideias liberais.

Falar de Lula como possibilidade para 2022 até ano passado era um absurdo eleitoral, uma piada de mal gosto. Além de ser ficha suja, o petista era sinônimo de corrupção, rejeitado pelo centro e até por grandes figuras da esquerda. Mas o STF mudou tudo anulando suas condenações e, mesmo que na prática isso não tenha acontecido, tornando-o perseguido político e inocente.

Prato cheio para quem? Mídia. Além de desgastarem o presidente 24 horas com desinformação, os principais veículos da nossa imprensa começaram a compartilhar a ideia de que Lula realmente era uma possibilidade. E isso foi feito na maior cara de pau. Em nenhuma entrevista após a decisão do STF Lula é questionado sobre as provas de Moro. Também não é questionado se acha que será novamente condenado pela Justiça do DF. Suas relações com as empreiteiras e seu envolvimento nos escândalos da Petrobras e Mensalão também são ignorados. Em todas suas recentes entrevistas as perguntas são sempre como você provará que é inocente? e o que você faria na presidência? 

A mídia transformou Lula em candidato e Bolsonaro em maluco. E uma parte da população, não apenas a esquerda, comprou essa ideia. Lula, que estava morto, está bem vivo politicamente. O ladrão rejeitado que fazia com que pessoas votassem em qualquer outro que vá contra ele agora é visto por algumas pessoas como a mesma coisa que o atual presidente, ou até mais equilibrado e polido, e essas mesmas pessoas não veem mais necessidade de votar no concorrente do petista para evitar um mal maior.

O fato é que Lula não é mais rejeitado nem pela própria direita. A imprensa trabalhou bem e nós teremos muito trabalho para desfazer todo seu messianismo próximo ano.

Acredito que as chances de Bolsonaro se reeleger são maiores do que as chances de Lula voltar, porém o simples fato do maior ladrão da história desse país não ser combatido, nem pelo povo e nem pela própria direita, com a mesma veemência de anos anteriores já prova que Lula é o grande vencedor de 2022.

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