Os colhões de Portugal que não existem no Brasil
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Os colhões de Portugal que não existem no Brasil

Quem não se lembra daquela fatídica final da copa de 98? Enquanto Edmundo voava no auge de sua carreira um cambaleante Ronaldo aparecia no vestiário para jogar aquela final após uma convulsão.

Bruno
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Quem não se lembra daquela fatídica final da copa de 98? Enquanto Edmundo voava no auge de sua carreira um cambaleante Ronaldo aparecia no vestiário para jogar aquela final após uma convulsão.

"Como barrar o melhor jogador do Brasil e do mundo" - questionou Zagallo na época. A resposta está hoje na seleção portuguesa. CR7 é muito mais importante para a história do futebol Português do que Ronaldo foi para o Brasil (atenção haters analfabetos funcionais: eu me refiro às SUAS SELEÇÕES, não ao futebol mundial, onde, obviamente o R9 está um patamar acima do CR7, mas temos que lembrar que no futebol brasileiro estão próximos a ele Pelé, Romário, Zico, Garrincha, entre outros... E na época R9 não brilhava só, contava com uma constelação ao seu redor: Bebeto, Denilson, Leonardo, Roberto Carlos, etc. CR7 não tem ninguém deste patamar ao seu lado em Portugal e é o único craque atual de uma história que, tirando Eusébio e Figo, teve pouquíssimos fora de série)

Resumindo: quando nosso Ronaldo estava fora tínhamos outros jogadores decisivos. Menos habilidosos que ele, é verdade, mas com poder de mudar uma partida. Quando o Ronaldo deles está fora, não há ninguém. 

O campeonato português é um dos mais fracos da Europa. Em termos de desigualdade ele está no topo entre os principais países (Inglaterra, Espanha, Itália, Alemanha, França e Holanda). Em termos financeiros ele está abaixo. Rende quase a mesma coisa que o brasileirão (https://ludopedio.org.br/arquibancada/desigualdade-internacional-nas-ligas-de-futebol/). Mas não tem a mesma dificuldade.

Pra se ter uma noção, repare que, juntos "Os Três Grandes" (Benfica, Porto e Sporting) detêm 84 dos 86 títulos de campeão disputados. Enquanto que no Brasil um campeonato começa com 7 ou 8 fortes. E historicamente existem 12 grandes mais uns 4 médios com chances de surpreender.

Isso significa que o brasileirão historicamente sempre foi mais equilibrado do que o "lusitanão", ou seja, quem joga no Palmeiras, Flamengo ou Atlético-MG enfrenta adversários com níveis mais próximos dos seus, enquanto Porto, Benfica e Sporting jogam contra galinhas mortas. É só raciocinar: por pior que possa ser a defesa do Inter, do Santos ou do Fluminense, nada se compara à facilidade de enfrentar Rio Ave, Casa Pia ou Boavista!

Mas o que isso quer dizer?Quer dizer que ser o artilheiro do campeonato português é muito mais fácil do que ser artilheiro do brasileirão. Apesar disso, o técnico de Portugal, Fernando Santos, não mediu esforços para levar o artilheiro do campeonato português - Gonçalo Ramos - para a Copa. O Deu valor. O deu vaga nos convocados. Não se importou com a fragilidade de seu campeonato local. Apostou no talento.

Enquanto isso, nosso técnico não levou o primeiro jogador da história a ser artilheiro de dois campeonatos nacionais no mesmo ano (2018), aquele com mais artilharias da Copa do Brasil (3) e da história dos 3 principais campeonatos disputados por clubes brasileiros (7 ao todo), único jogador brasileiro a marcar em todas as fases da Libertadores, maior artilheiro em uma temporada do futebol brasileiro na década (ao lado de Neymar), maior artilheiro do Santos e Flamengo na década, maior artilheiro em uma edição dos pontos corridos do Brasileirão com 20 clubes e maior artilheiro brasileiro da história da Libertadores, com 29 gols e um dos maiores batedores de pênaltis do futebol brasileiro (e talvez mundial). Sim. O Gabigol.

Zagallo e Tite são diferentes em muitas coisas, mas são iguais em uma: a falta de colhões!

Seríamos campeões com Gabigol? Talvez não. Nem mesmo Portugal conseguiu superar Marrocos com seu pupilo Gonçalo Ramos e saiu da copa, mas esse texto é sobre colhões, não sobre erros e acertos.

O que quero dizer é que técnicos portugueses tem colhões. Brasileiros, não. Fernando Santos não apenas levou o artilheiro Gonçalo Ramos, como o deu a titularidade na vaga de CR7! Isso são colhões ou não são?

É preciso ter (muita) coragem para barrar seu maior craque. Você será criticado eternamente em caso de derrota, mas se perder com ele, não será criticado também?

Os principais casos de apostas altas de portugueses no futebol brasileiro são Jorge Jesus, Abel Ferreira, Jesualdo Ferreira, Ricardo Sá e Paulo Souza. Os 2 primeiros tiveram grande sucesso. Os três últimos, fracassos enormes. Mas todos tem algo em comum: colhões! percebam que nenhum deles ficou na mesmice. No feijão com arroz. Na zona de conforto. Não. Todos arriscaram alto. Tiveram coragem. O oposto do treinador comum brasileiro.

Em 98 Zagallo poderia ter feito o mesmo. Poderia ter barrado Ronaldo na final contra a França e preservá-lo para o segundo tempo, assim como Portugal fez com CR7. Talvez perdêssemos só de 1x0. Talvez nos pênaltis. Talvez ganhássemos. Ou talvez Edmundo jogasse mal e perderíamos de 3x0 do mesmo jeito. Talvez.

O mesmo serve para Gabigol. Talvez perdêssemos para Croácia com ele em campo também. Talvez ele perdesse um pênalti também (coisa rara, mas possível). Não sabemos. E jamais vamos saber. Porque técnico brasileiro tem medo de arriscar. Eles não tem colhões como os portugueses tem. Por isso é hora de esquecer os brasileiros e apostar em técnicos portugueses.

E tenho dito.

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