Lazáro Barbosa era a ponta de um gigantesco iceberg
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Lazáro Barbosa era a ponta de um gigantesco iceberg

Nesta semana, assistimos ao fim de uma caçada policial, na região de Cocalzinho, estado de Goiás, que já durava 20 dias, a um criminoso, Lázaro Barbosa, de 32 anos, que, em razão das evidências que constituíram todo o percurso da fuga, não ag...

Paulo Mathias
4 min
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Nesta semana, assistimos ao fim de uma caçada policial, na região de Cocalzinho, estado de Goiás, que já durava 20 dias, a um criminoso, Lázaro Barbosa, de 32 anos, que, em razão das evidências que constituíram todo o percurso da fuga, não agiu sozinho. A perseguição chegou ao fim, nesta última terça-feira, 29 de junho, em uma troca de tiros do assassino com a polícia, em Águas Lindas de Goiás, onde ele foi morto. Após o incidente, a Polícia Civil de Goiás dará continuidade às investigações, com o auxílio de agentes do Distrito Federal. Segundo o Secretário de Segurança Pública de Goiás, Rodney Miranda, houve uma possível rede de proteção na região para auxiliar a fuga de Lázaro. A morte do criminoso pode dificultar as apurações do crime, embora tenha sido inevitável. O que fica claro é um fato que dá início a uma busca de maior amplitude, de um grupo criminoso organizado, com inúmeros suspeitos. O que sabe até o momento é que Lázaro também agia como jagunço ou segurança na região. Mais uma vez, as evidências apontam para o criminoso como representante de uma organização maior, conforme as palavras do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que “Lázaro não era um lobo solitário”. Com isso, se inicia uma nova caçada absolutamente necessária, agora, em busca de novos integrantes.

Corpo de Lázaro Barbosa sendo levado pela Polícia
Corpo de Lázaro Barbosa sendo levado pela Polícia

No rol de crimes praticados por Barbosa, o que se sabe em sua ficha corrida é que existem mais de 30 acusações em seu histórico criminal. Desses crimes, pelo menos 19 deles foram realizados durante a recente busca ao assassino. Dentre esses crimes, houve tentativas de assassinato, homicídios, invasões de fazendas, tortura, estupro, sequestros e outros. Seus crimes tiveram início em 2008, com uma coleção de fugas das prisões. Nesse ano, Lázaro foi preso por duplo homicídio qualificado, após matar dois homens na Bahia. Fugiu em 2009 e, em seguida, com seu irmão, invadiu uma chácara, cometeu roubo e estuprou uma mulher. Em 2011, foi condenado a mais de 15 anos de prisão. A seguir, no ano de 2013, foi feito o primeiro pedido de progressão da pena, e, em 2014, passou a cumprir em regime semiaberto. Voltou à prisão em 2016, porém, no mesmo ano, em uma “saidinha” de Páscoa, não retornou. Recapturado em 2018, conseguiu fugir, mais uma vez, pelo teto da prisão. Em 2020, invadiu uma chácara, em Santo Antônio do Descoberto, para capturar celulares e armas do local. Em 2021, após ter feito uma família refém, em junho, no dia 9, invadiu uma chácara em Ceilândia e matou o pai, dois filhos e a mulher. Assim, foram se sucedendo outros roubos, trocas de tiros com a polícia e nova fuga, até culminar com sua morte, em 28 deste mês. Isto tudo quer dizer o quê? Quem está por trás dessas manobras, aparentemente solitárias, mas com evidências que apontam que o fugitivo recebeu, durante todo o período de fuga, ajuda de outras pessoas envolvidas nos crimes. Um dos fatores que chamaram a atenção da polícia foi o valor de R$ 4.400,00 reais encontrados no bolso do criminoso. Agora resta desvendar a trama que “utilizou” Lázaro para concretizar seus objetivos. Na busca aos suspeitos, esta semana, foram presos, em Cocalzinho – o fazendeiro Elmir Caetano Evangelista e o caseiro Alain Reis dos Santos, suspeitos de ajudarem Lázaro a se esconder da polícia.

Em meio a todo esse processo, muitas perguntas surgem, algumas ainda sem resposta. Um dos questionamentos é se Lázaro teria agido sozinho. Para esta pergunta, a polícia já está em busca de elos entre o assassino de Goiás e pessoas que possam estar relacionadas ao crime organizado da região. Além disso, por que recebeu ajuda de alguns fazendeiros, e o que se sabe até o momento, é que essas pessoas se apresentaram como amigos da família do assassino. Outra pergunta que não quer calar é qual a motivação para tantos crimes, e, outra vez, se evidencia que há uma quadrilha por trás do serial killer. Mas, os questionamentos não param por aqui, e surge a pergunta a respeito das facilidades de fuga do criminoso. A resposta mais evidente é que deve ter recebido ajuda, durante essas fugas. Resta saber de quem e por quê. E quanto ao benefício de sua saída temporária? Mesmo com o laudo de “psicopata”, pelos psicólogos contratados pela Polícia Federal, em 2009, pôde sair na Páscoa desse ano – o que representa uma falha do nosso sistema penitenciário e da Justiça brasileira.

Uma história que para muitos parece ter chegado ao fim, com a morte de Lázaro, comemorada como uma libertação da série de crimes cometidos por um assassino, estuprador, torturador e autor de tantos outros crimes que tiraram a paz de uma região do interior de Goiás. Mas a saga não termina por aqui. A polícia já está se organizando, distribuindo as buscas entre os delegados do local para investigar sobre a provável rede de proteção que ajudou na fuga do criminoso. O que aponta a morte de Lázaro como marco inicial de algo muito maior, por trás de tantos crimes, que, com certeza, deu cobertura a fugas, obtenção de armas, dinheiro, acolhidas em fazendas e outras ações que colaboraram para adiar sua prisão e morte. Resta a nós aguardar os fatos que unam as pontas de uma operação do crime organizado, em que Lázaro pode ter sido somente uma delas.