Se o Brasil fosse um país sério, DJ Ivis já estaria preso
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Se o Brasil fosse um país sério, DJ Ivis já estaria preso

Gostaria de iniciar este artigo com algo positivo, pra cima, mas não posso me calar diante de mais uma denúncia de violência contra a mulher, por parte da ex do DJ Ivis, Pamella Gomes, por agressão física. O que mais me revolta, além do fato ...

Paulo Mathias
4 min
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Gostaria de iniciar este artigo com algo positivo, pra cima, mas não posso me calar diante de mais uma denúncia de violência contra a mulher, por parte da ex do DJ Ivis, Pamella Gomes, por agressão física. O que mais me revolta, além do fato em si, é a desconsideração por parte da Justiça brasileira de ações como essa, que alcançaram um índice elevado durante a pandemia e são tratadas como questões corriqueiras, livrando os acusados de uma punição à altura. No caso de Ivis, mesmo com todas as imagens, foi instaurado um inquérito policial para apurar as agressões, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSPDS) e o DJ se mantém em liberdade. Mais uma vez, a Justiça apresenta “dois pesos e duas medidas”, em que o status do indivíduo prevalece nas escolhas punitivas. Lamentável. 

DJ Ivis
DJ Ivis

Nesta semana, uma série de vídeos divulgados pela internet, mostraram o instante em que Pamella foi atingida pelo companheiro. Em dado momento, Ivis agride a mulher com ela próxima ou segurando a filha Mel, de apenas nove meses. Casos de violência doméstica, como esse, são, na maior parte, praticados por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, em que se pode aplicar a “Lei Maria da Penha” para agressões cometidas por familiares. Além de ser possível recorrer ao número 180 – Central de Atendimento à Mulher – e ao Disque 100, para retratar ações como essa. De acordo com a ex do DJ, ao se referir ao acontecido, diz que “Não existe fama, status, dinheiro ou influência que permita ele de ficar impune”. Porém, na realidade, não é o que acontece. Muitas dessas mulheres, por medo de retaliação e ameaças por parte do agressor se encolhem no silêncio de sua revolta e se mantêm caladas. Segundo levantamento do Datafolha, por encomenda do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), neste momento de pandemia do Covid-19, uma em cada quatro mulheres acima de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de agressão no último ano, em nosso país. O que representa cerca de 17 milhões de mulheres (24,4%) que sofreram violência física, psicológica ou sexual no último ano. Daí eu me pergunto: Qual o papel da Justiça Brasileira perante tais fatos? Quantos desses casos recebem atenção devida e os agressores sofrem punição adequada?

A resposta é simples, embora seja revoltante. No Brasil, 61,7% da população em regime carcerário são pretos e pardos, sendo que as políticas de encarceramento e aumento de pena se voltam, via de regra, contra a população negra e pobre. No caso do DJ Ivis, como a tantos outros que estamos cansados de assistir na mídia, têm um destino diverso. Aplicam-se a eles privilégios por sua condição financeira, que permite a contratação de advogados renomados, em que o resultado se repete: o cumprimento da pena em liberdade, ou a obrigatoriedade de fornecer cestas básicas a populações carentes por determinado período. Esta é a “cara” da nossa Justiça, que escolhe a quem punir. 

Paraibano e radicado no Ceará, o DJ é conhecido por difundir a “pisadinha” em todo o país. Produtor musical e compositor, Iverson de Souza Araújo iniciou sua carreira, 15 anos atrás, como tecladista. Hoje, reconhecido como um dos maiores músicos do forró – desculpem minha ignorância sobre o fato – chegou a ser produtor de “Xand Avião”. Diante do escândalo da agressão física, o líder da banda “Aviões do Forró” confirmou o desligamento de Ivis do escritório do qual fazia parte. De acordo com Xand: “Nada justifica violência”. Assim como ele, vários artistas se manifestaram contra a atitude do DJ e rádios tiraram músicas de Ivis de sua programação, além do cancelamento de futuras parcerias. Diversas personalidades artísticas como Solange Almeida, Taty Girl e Pocah falaram publicamente sobre o ocorrido, manifestando seu repúdio contra os atos de violência do DJ contra a ex, Pamella. Assim como o cantor Latino, que cancelou um projeto que deveria ser lançado com o DJ. O cantor ressaltou que esse cancelamento trará prejuízos financeiros, mas que estes serão “infinitamente menores do que os dessa moça tão nova”, ao se referir à ex-mulher de Ivis. 

Com isso, o que se vê é que, mesmo com uma relação de amizade e de trabalho de anos, os artistas de forró não estão deixando de se posicionar contra o DJ Ivis. Entretanto, apesar das manifestações de revolta contra a atitude de Ivis terem sido massivas, algo inconcebível é que ações como essa possam gerar reações adversas como o crescimento de mais de 200 mil seguidores do DJ, que chegou quase a um milhão. Difícil de entender. Uma das interpretações plausíveis é que, com isso, os seguidores, na verdade, desejam fazer justiça com as próprias mãos, por meio de um “linchamento digital” – o que reforça a descrença das pessoas em relação à Justiça brasileira. A meu ver, revolta não basta, muito menos agressões verbais pela internet. Se a Justiça de nosso país fosse confiável e não pendesse para critérios de seleção quanto à aplicação de penas a casos de violência como o do DJ Ivis, ele já estaria na cadeia. Porém, a realidade é outra. Só tenho a lamentar e esperar que a nossa Justiça busque novos caminhos, menos protecionistas, mais adequados, enxergando o fato em si e não quem o pratica. Será que é pedir muito?