Janja é a Evita Perón que devemos evitar.
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Janja é a Evita Perón que devemos evitar.

Autor: Pedro Francez, Professor & Analista Político, grad. Relações Internacionais & Mestre em História @pedrofrancez

Pedro Francez
7 min
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Autor: Pedro Francez, Professor & Analista Político, grad. Relações Internacionais & Mestre em História @pedrofrancez

Com poucos dias desta nova fase de um velho governo Lula, já foi identificado uma nova característica: O Janjismo.

A nova primeira-dama do Brasil, Rosângela Lula da Silva, ou Janja, como gosta de ser chamada, iniciou a dar as caras logo nos primeiros momentos da campanha. Lula cumpria sentença por ter chefiado os dois maiores esquemas de corrupção da história do Brasil e o namoro entre os dois iniciou-se na cadeia, mas dizem as más-línguas que este romance começara com a ex-primeira-dama ainda viva.

O casamento de Janja fora exuberante, com o agora marido recém-liberto sem cumprir o que merecia graças a manobras jurídicas, esbanjaram na festa de casamento, chamaram todos os ‘cumpanheiros’ de luta – que deveriam ser companheiros de cela – e realizaram um evento memorável. Relevante ou não, guarde esta informação, pois os luxos de Janja também aparecerão mais para frente.

O projeto de poder do PT não funcionou bem como eles imaginavam. Lula não deixou herdeiros políticos de seu legado. Todos os grandes nomes de luta do partido foram presos e se queimaram politicamente. A tentativa de construir um nome além-Lula também fora frustrada. Dilma Rousseff conseguiu ser eleita e reeleita presidente do Brasil utilizando o legado de Lula, mas saiu pela porta dos fundos, expulsa de casa pelo povo brasileiro. Fernando Haddad, tentou seguir o mesmo caminho de Dilma e atrelou sua campanha inteira dizendo “Haddad é Lula”, abrindo mão até de sua pessoalidade para disputar o cargo de presidente. Conseguiu votação expressiva – ou seria Lula que conseguiu em seu nome? -, mas não o suficiente para ocupar o cargo de chefe do executivo.

Apesar do PT se esforçar, dia após dia, sustentando a narrativa de golpe no impeachment de Dilma, tentando mudar a narrativa do que verdadeiramente ocorreu, temos o fracasso do Partido dos Trabalhadores em encontrar um herdeiro para a herança política de Lula.

A soltura de Lula fora uma sobrevida para um partido que estava em derrocada desde 2014, auge da operação Lava-Jato. Nas eleições municipais em 2016 o PT conseguiu metade das prefeituras que tinha e apenas uma capital, Rio Branco - AC. Nas eleições municipais de 2020, não conseguiu nenhuma capital, tendo o pior desempenho eleitoral da história do partido.

Com Lula de volta no cenário, o PT ressurgiu. Com a força de sua imagem e o desânimo dos brasileiros de ver que a justiça não mantém preso corruptos, agravado pela pífia e corrupta gestão de Jair Bolsonaro, Lula voltou ao cenário com força, polarizando a eleição entre dois párias. Mas Lula havia um fato novo para agregar a seu populismo: Janja.

Janja era a novidade que a mídia mianstream comprou. Por ser simpática, boa de entrevista, bem eloquente e com personalidade forte, Janja começou a agregar holofotes para cima dela. O que fora extremamente útil para Lula, pois, quanto menos holofote nele, menos crimes e asneiras são expostas. Janja significou muito na eleição, passando uma imagem de um Lula renovado, mais velho e sério. Acredite se quiser, muitas pessoas se agarraram à esta imagem falsa para escolher seu voto presidencial.

Não digo que Janja fora extremamente relevante nas eleições, pois o que foi fator determinante para a votação de ambos os candidatos não eram suas qualidades ou competências, pelo contrário, foi uma eleição decidida por quem era menos incompetente e corrupto no imaginário popular. E mesmo com o resultado das eleições, não sabemos a resposta definitiva desta pergunta. Mas Janja, de fato, não desagregou, seja na imagem de Lula ou em suas falas.

Logo após a eleição, a intromissão de Janja nos assuntos políticos deixou a base do PT e seus políticos tradicionais irritados. Viram que perderiam para ela espaço e cadeiras cativas com Lula. Janja foi extremamente atuante no governo de transição, inclusive sugerindo nomes de pessoas de confiança pessoal dela para cargos ministeriais. As entrevistas de Janja falando até do desempenho sexual de Lula, utilizando-se da imagem de mulher independente, manobrando bem a cultura woke e inserindo pautas como Linguagem Neutra em assuntos oficiais do Governo Federal são a prova cabal de que Janja está ganhando território político.

Janja quer estabelecer sua força como primeira-dama seguindo o exemplo de Evita Perón. E isto é perigoso para a democracia brasileira. Na Argentina, idolatram a ex-primeira-dama. Ela faz parte da cultura pop do local, tem seu nome e seu rosto grafitado por ruas de Buenos Aires, manifestações em nome dela, histórias de como ela fora atuante, e de fato, foi.

Manifestação do Movimento Evita, na Argentina | CEDOC PERFIL.
Manifestação do Movimento Evita, na Argentina | CEDOC PERFIL.

Juan Perón, líder do Partido dos Trabalhadores da Argentina a época, foi preso, e quando solto, eleito presidente da Argentina, em 1946. Qualquer semelhança com o caso brasileiro aqui não é mera coincidência. Evita Perón, sua mulher, representava figurativamente a “parte boa dele”. Perón era um líder facínora, terrível com seus opositores. Não hesitava em responder com mortes e violência quaisquer tentativas de protesto ou questionamento de sua autoridade. Abraçou e reuniu o apoio dos líderes sindicais sob sua tutela, assim, sufocando também que qualquer tentativa de oposição fosse feita mesmo pela esquerda, seu espectro político.

Lula fez o mesmo aqui no Brasil, dada as devidas proporções e contextos históricos, é claro. A esquerda não consegue fazer oposição a ele mesmo que queira. Os líderes sindicais, os partidos políticos, o sistema inteiro que ambienta este espectro canhoto está sob a chancela de Lula. Quem não concorda, sofre com o isolamento político e perda de força. Janja, agora é a representante de Lula em diversos assuntos.

Se Haddad, Gleisi Hoffman, Dilma Rousseff, dentre outros, não emplacaram, Janja está emplacando. Suas vontades estão sendo cumpridas à risca pelo Governo Federal. A luxuosa festa da posse, planejada por ela com dinheiro público e recheada de mensagens e sinalizações de sua personalidade, a reforma suntuosa que está sendo feita no Palácio da Alvorada antes de entrar, e o uso de linguagem neutra em eventos oficiais mostram sua cara.

Lula é um corrupto com gosto simples. Gosta de dinheiro do povo e de tomar cachaça. Sabemos seu Modus Operandi. Quando quer ocultar um patrimônio, como um sítio, faz no município de Atibaia, e não em Gramado. Quando quer um tríplex, pega um no Guarujá, e não em Búzios ou Angra dos Reis. Assim como a falecida ex-mulher dele exigia para empreiteiras amigas a reforma na cozinha com diversos itens de luxo que Lula jamais teria dedo e gosto para colocá-los, Janja agora, sua atual mulher, faz o mesmo. O luxo de Lula é Janja. Assim como Evita Perón, que também gostava de viver no luxo olhando para baixo e sendo idolatrada, Janja tem uma vaidade do tamanho de seu ego. Não dispensa uma câmera de TV e gosta de opinar em assuntos que não lhe diz respeito.

Presidente do Brasil Lula, Presidente dos Estados Unidos Joe Biden e Janja se convidando para a foto. Reprodução/Ricardo Stuckert
Presidente do Brasil Lula, Presidente dos Estados Unidos Joe Biden e Janja se convidando para a foto. Reprodução/Ricardo Stuckert

Antenada na internet, Janja possui assessores para saber qual onda surfar. Agora é a linguagem neutra, mas ela é um camaleão político. Onde tem demanda progressista alta, ela se manifestará. Lula está utilizando bem Janja para tal. Assuntos como linguagem neutra sendo trazidos por Janja ao Planalto acalmam a militância e o deixa trabalhar menos pressionado, dando a alusão de que ele está fazendo alguma coisa em prol da causa. Gostar de luxo, de manchetes e de ‘lacrar’ cai bem para um governo queimado em sua essência. Assim como Bolsonaro tinha sua Damares, que aparecia sempre que o ex-presidente falava ou fazia alguma besteira, Janja também está sendo utilizada para tal. Lula indicou ministros corruptos para compor o novo governo? Pode ter certeza que algum ministro falará “bom dia a TODES. E, em um país onde a população está calejada do combate a corrupção, as manchetes (muitas vezes compradas) da mídia será o ‘bom dia a Toddys’. Ministro corrupto sempre teve, marca de achocolatado recebendo bom dia oficial de governo, nunca.