A evolução profissional e o ego
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A evolução profissional e o ego

Em “Assim falava Zaratustra”, Nietzsche discute a evolução do espírito e usa três símbolos para identificar as evoluções importantes: o camelo, o leão e a criança. A evolução começa no camelo. Um animal passivo, servo, que gosta de carregar t...

Pedro Fornaza
4 min
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Um texto que eu escrevi

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A evolução profissional

Em “Assim falava Zaratustra”, Nietzsche discute a evolução do espírito e usa três símbolos para identificar as evoluções importantes: o camelo, o leão e a criança. A evolução começa no camelo. Um animal passivo, servo, que gosta de carregar todo peso possível e só diz “sim”. Que aprende a seguir as regras, seguir o convencional.

O leão vem, então, para quebrar esses padrões e se torna completamente o contrário. Orgulho, forte, rebelde, cheio de si, que abomina o “você deve” e persegue o “eu quero”. O leão é o eterno “não”. Desafia o que veio antes dele, tenta quebrar padrões, procura sua própria verdade.

Como resultado dos questionamentos do leão, a criança vem, por fim, como a versão final do espírito, simbolizando a inocência, o esquecimento, a criatividade, a capacidade de recomeçar, o “sim” com confiança, diferente do “sim” com medo do camelo. É nessa fase que se formam as novas "regras", o conhecimento individual, a aceitação das diferenças e preferências.

Nossa evolução profissional (pelo menos a minha) aconteceu de uma forma bastante parecida. No começo, a busca era sempre por mais. Mais projetos, mais conhecimento, mais atividade, mais. Tentando aprender com todo mundo, questionando tudo, participando do máximo de coisas possíveis e ao mesmo tempo, inseguro, submisso e acatando o que os “mais velhos” ditavam.

Essa fase começou a se encerrar quando a evolução do meu conhecimento começou a ficar aparente. Aí fui parar no outro lado do pêndulo. Me tornei rebelde, arrogante, discutia com todo mundo que discordava ou tinha uma opinião diferente. Julgava quem não sabia. Quem trabalhava comigo. Quem participava dos projetos. Não me questionava. Sempre pela lente de que eu estava certo o que fosse diferente estava errado.

Depois de um tempo sendo o chato da galera, e alguns tombos profissionais, a reflexão me colocou de volta no caminho. Passei a ser mais tranquilo, compreensivo, e principalmente, pragmático. Compreendo quem não sabe, ouço quem discorda, discuto com quem quer ouvir e sigo em frente. Tento ficar no ponto ótimo entre a insegurança e a arrogância, confiante em mim mas sempre aberto à possibilidade de mudar, de estar errado e precisar mudar ou me retratar.

Os nossos ciclos atuais são chamados de “júnior”, “pleno” e “sênior”. O júnior não sabe nada. O pleno acha que sabe tudo. E o sênior é o equilíbrio. Sabe o que sabe e o que não sabe. Ao contrário do que muita gente pensa, a gente não evolui nesses ciclos por tempo de carreira, nem só por conhecimento técnico ou específico. Essa evolução tem a ver com maturidade. Com postura.

Se tornar sênior não é só trabalhar 10 anos. Se esses 10 anos forem 1 ano repetido 10 vezes, no bueno. A evolução acontece com a aceitação e reconhecimento das limitações, da busca pela melhora. Da percepção do contexto complexo que vivemos. Da capacidade de lidar com mais variáveis.

Senioridade é saber não só fazer, mas porque, quando e para quem. Saber quando não fazer. Saber dizer porque. Saber entender o que. Saber quando pedir ajuda. Saber que não sabe.

Esse ciclo de evolução é a maneira que eu costumo encarar a evolução profissional de todo mundo. É um crescimento contínuo e sem fim. Esse ciclo não é feito uma vez só. O aprendizado nunca para, mas o mindset é sempre o mesmo. Se tornar a “criança” não significa que você chegou ao topo, só que você mudou. E normalmente, quando você chega nessa fase, sempre acaba se tornando o camelo em outro círculo, com pessoas diferentes, negócios diferentes e contextos diferentes. O que não pode acontecer é ficar parado, sem evoluir, sem buscar, sem se desafiar.

Assim falava Zaratustra…


Um livro que eu li

O Ego é seu Inimigo de Ryan Holiday<br>
O Ego é seu Inimigo de Ryan Holiday

Esse livro me marcou muito. Eu sempre tive muito medo de errar, e me cobrava muito, remoendo cada vacilo, por menor que fosse. Aprender a me desprender foi essencial para evoluir profissionalmente. Um trecho que fala sobre isso:

O problema é que, quando confundimos nossa identidade com nosso trabalho, tememos que qualquer falha possa passar uma mensagem negativa sobre nós.

Ou seja, cometer um erro não é uma falha de caráter. É só um erro. Paciência.


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