O caos e a fome de poder
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O caos e a fome de poder

O que você pensa quando ouve a palavra “caos”? Desordem. Desorganização. Bagunça. Zona. Pois é, eu também. Mas essa definição vem de um romano chamado Ovídio, que deu esse sentido nos seus textos e poemas. Mas o caos é anterior. Caos é o nome...

Pedro Fornaza
6 min
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Um texto que eu escrevi

O deus grego "Caos"<br>
O deus grego "Caos"

Aceite o caos

O que você pensa quando ouve a palavra “caos”? Desordem. Desorganização. Bagunça. Zona. Pois é, eu também. Mas essa definição vem de um romano chamado Ovídio, que deu esse sentido nos seus textos e poemas. Mas o caos é anterior. Caos é o nome de um deus grego. O primeiro deus grego da mitologia. Depois do Caos, surgiram outros deuses, entre eles, um filho de Caos chamado Eros (sim, é o mesmo Eros de “erótico”).

E como na mitologia sempre há equilíbrio, Eros vem para equilibrar Caos e seu papel é gerar através da união. Portanto, qual o papel do Caos? Gerar através da separação. Da distinção de elementos.

Quando falamos sobre produtividade, e até felicidade, um dos caminhos até ela é sempre “fazer o mais” ou “fazer melhor”. A produtividade, para muitos, é entendida apenas como fazer mais. Conseguir mais em menos tempo. Para mim é uma definição, no mínimo, imprecisa. Eu acho que a produtividade vem da possibilidade de gerar mais RESULTADO, o que não necessariamente significa fazer mais, e isso é uma distinção importante.

Os gurus da produtividade sempre fazem a tão famosa checklist. Ticar as atividades na lista libera dopamina, que gera uma bola de neve de felicidade e te impulsiona a fazer a próxima tarefa, e depois a próxima e quando você ver, já finalizou a lista inteira e pode ir para casa colher os louros.

O único problema dessa abordagem é que ela não funciona. Os mecanismos existem, a liberação de dopamina acontece, mas parece que o resultado nunca vem. Eles esquecem de dizer que completar mais tarefas não necessariamente é gerar mais resultado e que completar cada vez mais tarefas gera exatamente isso: mais tarefas! No fim a bola de neve é de tarefas não de felicidade.

Então como gerar mais resultado? É preciso aprender a julgar e escolher (existem vários critérios como: impacto x esforço e urgência x importância). Mas escolher dói. Sempre que escolhemos A, deixamos B na mesa. “E se C era melhor?”. Pois é, escolher não é fácil. É tão difícil que, nós com nosso cérebro super desenvolvido e independente, normalmente preferimos a inação (não escolher nada), a escolher uma opção. Também conhecido como “procrastinação”.

Muitos mecanismos vão dificultar você a fazer uma escolha. Você já se pegou indeciso na hora de comprar um tênis ou uma roupa? Ir no shopping e sentir que, sempre que você pega uma roupa, vai ter uma melhor na próxima loja? E o mundo moderno não facilita. A cada esquina, a cada loja, a cada hora, temos mais e mais opções. De tudo. De roupa a viagem. De comida a filmes. Sempre vai ter um iPhone novo.

Isso tudo acaba gerando ansiedade, o que nos coloca ainda mais no ciclo sem fim de não escolher. Olhando por esse lado, parece que estamos ficando cada vez mais tristes e mais ansiosos. E realmente estamos. Mas tem um outro lado bacana: sempre que fazemos uma escolha, acabamos ficando mais felizes. “Agora eu já escolhi, não dá pra voltar atrás.” E de repente, tudo parece mais leve. É só seguir em frente, não tem dúvida se vira pra direita ou pra esquerda.

No trabalho é a mesma coisa. Você precisa começar a escolher e se comprometer com essas escolhas. Não significa que você pode escolher qualquer um. Não significa que você não pode mudar se algo mudar. Mas é preciso escolher.

Mas e aí? O que o Caos tem a ver com tudo isso? Eu não esqueci dele. E nós vamos falar do Caos e do caos.

Quando nós escolhemos, estamos fazendo uma separação. Criando através da separação, da seleção. Isso vale. Isso não. Esse é bom. Esse não é. E com isso, fazemos como Caos.

E quando escolhemos A, o B, C e D ficam de fora. Isso gera caos. A montanha de coisas que você escolheu não fazer, vão agora fazer parte do caos. Formar um caos. A bagunça se instala, algumas coisas ficam por fazer.

O meu argumento aqui é que, sempre vai ter mais uma opção disponível. Sempre vai chegar uma tarefa nova. Se não fizermos escolhas, vamos continuar o tempo todo correndo numa esteira, chegar ao fim da vida cansados e, como sempre acontece na esteira, sem sair do lugar.

Precisamos aprender a escolher, fazendo como Caos e aceitar o caos que se resulta disso. Uma casa arrumada é uma casa triste, sem vida. Uma panela sem marcas é uma panela que nunca foi usada.

Muito se fala sobre as pessoas mais criativas serem mais bagunçadas e que os grandes gênios tinham a mesa muito bagunçada. Não acho que a bagunça tenha um efeito específico, nem que você deveria parar de arrumar a sua. Mas a bagunça era uma consequência. Eles estavam mais preocupados com suas ideias e objetivos do que em como organizar a sua própria mesa.

Ser mais produtivo e mais feliz não é fazer mais ou ter mais, é fazer o que importa é ter o que importa. Mas “o que importa” é um abacaxi que você vai ter que descascar sozinho.


Um livro que eu li

"Fome de Poder" de Ray Kroc<br>
"Fome de Poder" de Ray Kroc

É engraçado como uma história bem contada pode mudar nossa percepção das coisas. Eu nunca fui fã dos lanches do McDonalds e nunca sequer pesquisei sobre a história da empresa. Para mim sempre foi só mais uma loja de comida que a galera gosta, mais por preguiça e hype do que por realmente ser bom.

Depois de ler esse livro, minha visão mudou drasticamente. Passei a entender melhor como funciona a empresa, como foi a construção, os princípios que servem de base e comecei a enxergar principalmente a busca pela excelência nos processos.

Eu que só tinha comido Mc umas duas vezes na vida, voltei la depois de ler o livro, a experiência foi bem diferente do que eu imaginava e pretendo voltar mais vezes. E não é só pela comida. Quando se presta atenção, o Mc é um ótimo exemplo da prática de conceitos de gestão e processos, principalmente para quem, como eu, gosta disso.

Na vibe do meu texto sobre as escolhas e o caos, uma citação do livro:

Aprendi, então, a não permitir que os problemas me arrasassem. Recusei-me a me preocupar com mais do que uma coisa por vez, e não me aborreceria com um problema, por mais importante que fosse, a ponto de não dormir.


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