Que o governo Bolsonaro prima pela distorção das atribuições do Estado para com a população, todos têm percebido, gerando como principal consequência a rejeição crescente ao líder, com influências já adiantadas para o cenário eleitora...
Que o governo Bolsonaro prima pela distorção das atribuições do Estado para a população, todos têm percebido, gerando como consequência principal a rejeição crescente ao líder, com influências já adiantadas para o cenário eleitoral de 2022. |
Essa rejeição atualmente é também protagonizada por eleitores decepcionados e arrependidos que nele votaram acreditando em mudanças reais nos campos da segurança pública, da saúde e da educação, além do já combalido mote do combate à corrupção. |
Mas há uma galera, uns 30% dos eleitores, fanática por Bolsonaro: os bolsominions . Um grupo heterogêneo abarcando dos mais abastados a pobres e minorias, a surpreender por serem estes últimos desprezados pelo ídolo. Mergulhados na visão radical do mundo, extensiva à fé, os bolsominions não toleram qualquer discordância. É a guerra cultural. |
Por que os bolsões ainda acreditam em Bolsonaro, mesmo em maioria sofrendo os arrochos impostos em seu governo, pelo avançar da Covid19, carestia generalizada e aumento da miséria e da fome? Buscar explicar analiticamente este fenômeno é o objetivo deste artigo. |
Breve histórico sobre o bolsonarismo e suas consequências |
Neste item, detalhes serão dispensados para evitar texto longo demais, mas será abordado da melhor forma possível. |
O bolsonarismo é um termo novo para um fenômeno não tão recente assim, embora bem singular. Embrionário nos anos 1990, na ascensão política de Jair Bolsonaro, ele assume volume e forma nos anos 2010, na esteira das redes sociais e da expansão neopentecostal. É um agregado estranho de retórica de extrema-direita nazifascista, cristocentrismo, ódio violento ao diferente, intolerância impetuosa a ideias discordantes, teorias da conspiração, negação da ciência (anticiência) e difusão de notícias falsas sobre adversários políticos e outros. Tudo isso, com fanatismo. |
Há também elementos de tradicionalismo, segundo o qual se precisa de reconstrução nacional através do ciclo de destruição e renascimento, de alusão mística (ver link abaixo). |
A construção da ideologia bolsonarista foi realizada por influência de nomes diversos, com destaque para os ideólogos como o estadunidense Steve Bannon e o brasileiro Olavo de Carvalho, e líderes religiosos à guisa de conselheiros de Bolsonaro, como o pastor Silas Malafaia e correlatos, e o padre Ricardo da corrente carismática da Igreja Católica. |
O crescimento e a consolidação do bolsonarismo foram insidiosos e sutis por tempos, até a sua franca explosão ao público em 2017-18. Na esteira de Bolsonaro, muitos nomes, entre governadores e deputados, militares ou não, foram eleitos, e os bolsominions se sentiram plenos na definição de dominar todos os cenários mediante agressões aos diferentes. |
Serventia |
Pode parecer loucura seguir o bolsonarismo, mas ele tem mostrado eficiente utilidade, principalmente por haver uma troca, não exatamente recíproca, mas real. A funcionalidade pode ser percebida em vários aspectos. |
Carisma : Bolsonaro conseguiu passar para parte do público um ar autêntico, realista nas suas reações e falas. Como a primeira impressão é a que fica, segundo dito popular, esse ar até hoje é dado como sinceridade e carisma, que passa confiança em sua conduta política. |
Nostalgia e segurança: os manifestos de 2014-16 clamando por intervenção militar foram bons para Bolsonaro se popularizar, usando a nostalgia de alguns pelos "bons tempos" da ditadura. Usou seu histórico militar para as promessas na segurança pública, como polícias mais ostensivas, e educação pelas "escolas cívico-militares", e chancelou a eleição de candidatos de carreira militar ou policial para deputados estaduais e federais. |
Catarse moral e fé: o moralismo foi muito explorado na campanha de Bolsonaro. A sua publicidade como antipolítico incorruptível e conservador conquistou grande parte do povo evangélico pentecostal e neopentecostal. |
Fidelidade: hoje o presidente tem um fã-clube fanático que acredita em sua inocência diante dos sucessivos crimes de responsabilidade e escândalos de corrupção, e alegando os flagelos (inflação, Covid, miséria, fome e aumento da violência) aos outros - apesar das provas incontestes. Mas, no fundo, Bolsonaro os despreza. |
Notícias falsas, teorias conspiratórias: muito usadas na campanha, ele insistentemente as usa, acrescentando novos alvos. Tendo como fonte básica o Gabinete do Ódio, as inverdades são reproduzidas exponencialmente pelo fã-clube nas redes sociais, mesmo sob ameaça de banimento de perfis a mando da Justiça ou pelas diretrizes dessas plataformas. |
Reflexão final |
Todos os dados expostos acima apontam uma verdade tácita: o bolsonarismo se estende para além do campo meramente teórico, para se tornar um real movimento sociopolítico, tal como ocorreu na História com o fascismo mussoliniano e o nazismo alemão, cujas marcas permanecem na memória até hoje, com direito a novos simpatizantes. |
Se faz interessante que o bolsonarismo compartilha alguns elementos com os citados movimentos pretéritos, como cristocentrismo, autoritarismo e aversão à diversidade, mas com a distinção de ter se desenvolvido em contexto relativamente democrático com certa liberdade de imprensa, de cátedra e de expressão. |
Esse contexto de democracia relativa talvez possibilite a perpetuação do bolsonarismo, independentemente do futuro político de Jair Bolsonaro e sua família. Pois sabemos que um dia ele vai sair, ou cair, a depender dos fatos. Mas, assim como o fascismo e o nazismo, o bolsonarismo vai durar. Por décadas. |