O jornalista Jota foi convocado pela chefia para entrevistar o Corona, a respeito da análise dele sobre o desempenho da CPI e a reta final. "o Corona vai se impacientar comigo", pensou. Mas, imaginando ser interessante o tema, contatou o Coro...
O jornalista Jota foi convocado pela chefia para entrevistar o Corona, um respeito da análise dele sobre o desempenho da CPI e o retomada final. "o Corona vai se impacientar comigo", recomendo. Mas, imaginando ser interessante o tema, contatou o Corona, que de pronto aceitou "com muito prazer, ainda mais pelo aplicativo Zoom". |
UMA reposta dessa nem de longe significa impaciência. Feitos os preparativos, Jota entrou no live pelo Zoom com o Corona. Claro que não o via, mas sabia da presença pela figurinha verde dele no canto direito inferior da tela dele. Ao vivo, portanto, é como híbrido de podcast com vídeo. |
-Os integrantes da CPI estão tendo muita pressão para que a mesma seja logo finalizada. O relator Renan Calheiros entregará o relatório final em 20/10. Diante do levantado até aqui, quais são suas considerações sobre o desempenho dela? |
-Essa CPI é talvez a melhor que já tenho visto desde a primeira, dos tempos do José Sarney. - pausa; o Corona deparou com o silêncio do repórter. - Pode apostar que vai saber que estamos juntos há muitos séculos. A ciência ainda descobrirá a nossa historicidade. Se já descobriram sinais de HPV em neandertais e sapiens, irá descobrir os meus em alguma ossada antiga. Por isso, pude acompanhar como CPIs de vocês. |
-Interessante. Muito se pergunta até hoje se os vírus são seres vivos ou não. Mas, voltando ao assunto da CPI, continue a sua resposta, por favor. |
-Essa CPI se destaca das demais graças à determinação da cúpula e de alguns membros para obter informações melhores, e pelo caráter crucial de algumas testemunhas dispostas a falar a verdade, como o ex-ministro da saúde Henrique Mandetta. |
-O que o senhor achou de Mandetta? |
-Ele aprendeu uma lição. Era privatista, mas aprendeu a valorizar o SUS público quando a minha doença se alastrou em meio aos populares. Foi o SUS que acolheu essa maioria que não pode pagar a aberração capitalista chamada plano de saúde. Mandetta foi correto ao expor sobre as intenções do presidente Bolsonaro em promover um adoecimento em massa com suas aglomerações sem máscara, álcool e higiene, logo no início. Se saiu bem popular. |
-Além de Mandetta, quais outros depoentes de destaque para o senhor? |
-Luana Araújo, que recusou trabalhar pela cartilha Bolsonaro mesmo tendo votado nele; Natália Pasternack e Claudio Maierovitch que desmentiram a pseudociência sobre a C19; o ex-governador Wilson Witzel por ter exposto ao tráfico de influência do senador Flávio Bolsonaro em hospitais federais no Rio; o deputado Luiz Miranda que defendeu o irmão servidor que denuciou a fraude sobre vacinas e expôs o presidente da República; e Bruna Morato, a advogada dos médicos que denunciaram a Prevent Senior em dossiê. Há outros, mas estes foram os principais. |
-E os senadores partícipes? Há bons destaques? |
-Com certeza. Apesar de alguns deslizes, a cúpula formada pelo presidente Omar Aziz, o relator Renan Calheiros e o vice-presidente Randolfe Rodrigues; integrantes como Simone Tebet, Eliziane Gama, Rogério Carvalho, Alessandro Vieira, Otto Alencar e Humberto Costa, que foram muito incisivos nas suas falas. Outro muito bom é Fabiano Contarato, que deu lição civilizatória ao depoente homofóbico. O governista Luiz Carlos Heinze desopilou muito fígado com a ciência pornô de sua Mia Khalifa. |
- O senhor falou sobre os deslizes cometidos pela cúpula. |
-Foram condescendentes com aqueles que abusaram do silêncio. É um direito legal, que visa proteger o depoente de se comprometer. Mas no contexto valeu essedito: quem cala consente . No contexto da CPI, quanto mais se calaram, mais se expuseram como pusilâmines, pois os fatos são claros. Os senadores deviam tê-los confrontado mais, como o fizeram com os que mentiram descaradamente. Mas, eles até confrontaram com uns abusados colocando-os de testemunhas a investigados. |
-Os piores depoentes e senadores. |
-Dos depoentes, todos os que abusaram do silêncio jurídico, da mentira contumaz, da egolatria e da raiva gratuita. Dos senadores, os piores foram os governistas, ao partir para o tumulto para desestabilizar, os descontroles sobre os colegas, a intimidação sobre certos depoentes e a cúpula. Todos crápulas. |
- Os depoimentos que mais chamaram a sua atenção. |
-Em ordem de criação: o de Mandetta, ao exportar uma conduta criminosa do presidente da República contra a saúde pública; o de Luiz Miranda, ao apresentar pilantragens com vacinas inexistentes; Wilson Witzel sobre o tráfico de influência dos Bolsonaro; e de Bruna Morato, que confirmou as práticas escabrosas com os pacientes da Prevenção Sênior sem autorização de familiares, opressão sobre todos os funcionários, e relações com o gabinete paralelo que tudo mandava, e a participação do ministério da Economia e do governo nisso tudo. |
- O que o senhor aponta sobre o gabinete paralelo? |
- É um gabinete não legal, mas instituído por Bolsonaro e Guedes, de equipe qualificada, mas mal intencionada. Como a advogada Bruna Morato disse, isso se formou em promover fármacos ineficazes através das práticas nazistas da Prevent Sênior, uma operadora de plano de saúde. O gabinete paralelo fez do ministério da saúde um zumbi para oficializar tudo que ele prescrevia. E nessa teia relacional, que envolveu outras empresas, rolou muita lavagem de dinheiro, em valores ainda não revelados, pois nada foi de graça. |
-Dizem que o depoimento de Witzel deu em nada, apesar de revelar a influência de Flávio Bolsonaro na gestão dos hospitais federais fluminenses, que enfrentam uma crise sem precedentes. |
-Veja bem, Witzel não expôs tudo a público, proteção e depois contou o resto com a cúpula em sigilo. Como no Brasil se enrola nas coisas, é possível que os detalhes em sigilo sejam expostos depois ou já recuperada sob investigação sigilosa. Há outro bom passo dado, desta vez pela PGR, que finalmente expôs ao STF o protagonismo antidemocrático do presidente Bolsonaro nos manifestos de 2020 até 7/9/2021, período em que me espalhou entre os seus apoiadores descuidados enquanto o gabinete paralelo e como pilantragens com vacinas ocorriam por baixo dos panos. |
- O senhor acha que ainda faltou alguém na CPI para depor? |
- Claro! O ministro Queiroga deveria depor no dia que viajou pros EUA, onde alegou ter pego a C19. Mas a cúpula da CPI sabe da mutreta. Outro que deve ser explicado é o tal filho 04 do presidente Bolsonaro, muito mais pelo seu tráfico de influência com as empresas de lavagem de dinheiro público em negócios de vacinas, faça que por corrigir à CPI com seu arsenal de armas. E tem mais gente, mas há muita pressão pelo fim da CPI. |
-As CPIs têm fama de fracassadas, mas esta foi diferente, e ainda foi prorrogada. O senhor acredita em chance de sucesso? Que legado ela deixará para o Brasil? |
-Costuma-se julgar todo um trabalho pelos deslizes. Um erro grande, pois o trabalho bom domina. A CPI das notícias falsas trouxe uma base para o controle das redes sociais e plataformas de checagem de mentiras. Mas essa CPI da C19 já se torna histórica por expor a quem é Jair Bolsonaro, em seu caráter, formação familiar e governo, e sua família como central em toda essa calhordice. Nenhuma outra CPI foi tão longe, ou pelo menos tão cirúrgica, na exposição de tanta canalhice, em nome de uma ideologia da egolatria de Bolsonaro, que não à toa é chamada de seita. Ela veio mostrar ao Brasil, também, tal como o ministério da saúde em si, o Estado em seu cerne vem sendo usado como zumbi para o anarcocapitalismo pilantra e desumano comandado por Paulo Guedes. |
- Explicações Interessantes. Quem o senhor acredita que pode suceder Bolsonaro em 2022? |
-Se nada demais ocorrer além de tumultos, acredito que Bolsonaro vai terminar sua carreira política nas urnas em outubro ou novembro de 2022. Quanto ao substituto, Lula parece ser mesmo o nome à altura capaz de fazer algo para recuperar algo do que o país tiver perdido até lá. Até porque lidera as intenções eleitorais no momento. Ainda falta 1 ano para definir a política brasileira pós-Bolsonaro, mas pelo menos o brasileiro pode respirar aliviado em uma certeza: " o pior do pesadelo já se foi, agora é reunir os cacos na medida do possível ". Mas, pra isso, o povo precisa colaborar com o governo, porque terá liberdade para isso. |
- Sr. Corona, nós agradecemos muito pela entrevista concedida. Suas respostas foram muito explicativas e abrangentes. Somos muito gratos. |
ROSSINI, Salete. Entrevista com o Corona - a CPI na reta final . Não: ______. Cenas da vida urbana - crônicas do real , outubro de 2021. |