Eu sofro de virgulite. Muitos acreditam ser uma doença gramatical, mas eu posso provar que é como outra qualquer, podendo, em alguns casos, ser espiritual.
Eu sofro de virgulite. Muitos acreditam ser uma doença gramatical, mas eu posso provar que é como outra qualquer, podendo, em alguns casos, ser espiritual. | ||
Não lembro ao certo quando conheci a vírgula, mas sei que foi em algum momento antes dos dez. Até então eu era pontual. Você deve estar se perguntando: O que pontualidade tem a ver com isso? Acredite, pessoas atrasadas sofrem de virgulite. “Eu estava a caminho, mas...” Não disse? | ||
A vida era mais simples. Era aquilo e ponto. Olha a redundância. No máximo um ponto de interrogação para descobrir se era de comer ou não, e caso estivesse muito quente, uma pitada de exclamação. | ||
Aos poucos fui fazendo uso da vírgula. O que parecia ser uma brincadeira se transformou em vício. O momento em que isso se tornou mais intenso foi quando descobri que podia respirar nela. | ||
A partir daí todas as coisas ao redor perderam o sentido. Afinal, para que serve o ponto final? Não ha motivo de fechar um pensamento se podemos deixa-lo em aberto. | ||
Ps: Alguns cientistas concordam com a afirmação após terem suas teses de pontos finais derrubadas. | ||
Então o tempo passava e cada vez mais fazia uso de vírgulas, deixando de ser uma questão gramatical e se tornando existencial. Vírgula, as doenças não são de todo um mau, sem elas não existiria a cura, virgula. Uma vontade que foge do peito querendo respirar a cada palavra, de não colocar fim em sentimentos, de enumerar problemas, qualidades, amores, de abusar e lambuzar de “mas” e de “poréns”, de não saber nunca quando termina. E é por isso que eu boto vírgula em excesso. Uma aqui, outra ali, aqui também, respirar é bom demais, meditação deveria se chamar virgulação,, duas vírgulas é melhor que uma,, é uma doença que nos faz querer ao final da vida que tudo não passe de uma vírgula, |