Ah, o palavrão e o contexto... outro dia, tava conversando com uma amiga e soltei um palavrão e perguntei se ela dizia palavrão.
Ah, o palavrão e o contexto... outro dia, tava conversando com uma amiga e soltei um palavrão e perguntei se ela dizia palavrão. | ||
"Em quais línguas?" | ||
E na minha cabeça, das conexões malucas e descontroladas, a coisa foi direto pro final de "Domicílio Conjugal", que eu achei que fosse o último filme do Doinel, mas ainda tem "Amor em Fuga"... | ||
Bom, spoiler em filme de 1970 não cabe... dito isso, a mulher dele descobre um caso dele com uma japonesa, num dia ele chega em casa, ela preparou um jantar japonês e tá meio vestida de gueixa. | ||
Ele olha aquela cena e antes que pense em argumentar, ela fala, sem raiva, num tom de voz inclusive adequado para o momento: "Va te faire foutre"! | ||
É outra coisa... é infinitamente diferente de mandar um "vai sifudê"... | ||
Eu penso que o palavrão, mais do que inevitável, é necessário! O palavrão precede a resolução por vir, um necessário ajeitamento de alguma situação. | ||
É melhor do que simplesmente erguer um muro de silêncio e isolamento acústico e qualquer outro tipo de coisa, pra simplesmente evitar exteriorizar o que caberia num palavrão. | ||
"Ahtomanocu" ou "rápaputa que pariu", ambos cabem... nem precisa do mise-en-scene todo da fantasia de gueixa ou do cardápio japonês. Em bom português, um "QUE PORRA É ESSA?" tava de bom tamanho. | ||
No final de Hamlet, quando é dito que "o resto é silêncio" tudo vem como calma, depois de morrer praticamente todo mundo. Aí cabe o silêncio. | ||
Mas o silêncio como forma de abafar o palavrão querendo sair... em que língua for, do sânscrito ao javanês, em esperanto ou tupi-guarani... | ||
Acho que tem mais a ver com a coisa do idiota que conta uma história cheia de som e fúria, que não significa nada. | ||
Depois de tudo, o resto pode até ser silêncio. | ||
Mas a vontade de gritar um palavrão, ah... |