Que coragem! Que pedrada!

Ser o filho mais velho de oito irmãos não é fácil, como mais velho tenho de dar o exemplo, tenho de ser responsável pelos mais novos. Meu pai é um homem bem exigente e um modelo de vida para qualquer pessoa, com ele aprendi a lutar minhas batalhas e sempre seguir em frente.

 Determinado dia chega em minha casa uma convocação, o rei nos chamou para guerrear contra nossos maiores inimigos e como todo bom soldado não fugi a missão, fui a guerra acompanhado de meus dois irmãos imediatamente mais novos.

Deixe-me explicar quem eram os nossos inimigos, eles eram um povo que tinham atitudes que traziam muito prejuízo a nosso povo, eles roubavam nossas colheitas, tentavam a todo o custo nos escravizar, limitar nossos direitos entre outras coisas. Seus deuses eram terríveis e por vezes exigiam sacrifícios humanos, normalmente de crianças, para abençoarem suas empreitadas.

 Determinado dia estávamos alinhados para a batalha, nosso rei a frente e todo o povo pronto para receber suas ordens. Porém sem mais nem menos eis que surge em meio a fileiras de nossos inimigos um soldado diferente, e quando digo diferente me refiro a um homem de quase três metros de altura, um mercenário que colocava medo em todos os que o viam, e com todo o respeito, não tinha como não se amedrontar com aquela figura.

Esse homem veio para a frente de seu exército e proferiu o seguinte desafio: “Por que é que vocês estão aí, em posição de combate? Eu sou filisteu, e vocês escravos de Saul! Escolham um dos seus homens para lutar comigo. Se ele vencer e me matar. Nós seremos escravos de vocês, mas, se eu vencer e mata-lo, vocês serão nossos escravos. Eu os desafio agora, mandem alguém para lutar comigo”.

Imagine a cena, enquanto o gigante dizia isso todos os soldados ao invés de aceitarem o desafio proposto deram um passo atrás, pois quem iria arriscar a sua vida e a vidas dos que ama em uma luta praticamente perdida, afinal o desafio era bem claro, o guerreiro que perdesse além de morrer, morreria sabendo que sua derrota trouxe novamente a escravidão a sua família, escravidão essa que conhecíamos muito bem e não queríamos voltar a viver.

A partir desse momento nosso rei começou a procurar alguém para desafiar o soldado inimigo, mas ninguém tinha coragem de ir a batalha. Isso minou a confiança da tropa, se não éramos capazes de vencer um homem sequer, como enfrentar todo um exército? O rei oferecia prêmios e vantagens a quem aceitasse o desafio, a mão de sua filha e isenção de impostos para a família do corajoso soldado.

Mas ninguém no nosso exército queria pegar uma missão tão arriscada, na verdade não tínhamos fé para vencer tão amedrontador inimigo. Passados alguns dias, quase 1 mês inteiro, o grande soldado continuava a desafiar o povo, e ninguém a aceitar aquele desafio, estávamos meus irmãos e eu conversando sobre como poderíamos vencer aquela batalha e eis que chega nosso irmão caçula, quando o vi senti um misto de saudade de casa e medo por ele, afinal ele tinha uns 16 anos de vida e aquele local era muito perigoso. Seu nome era Davi e ele trouxera alguns alimentos que meu pai havia enviado a nós. Era bom comer aquela comida caseira novamente, me trazia muitas boas lembranças. Enquanto meus irmãos e eu estávamos saboreando a comida trazida por Davi ele meio que sumiu de perto de nós, ficamos preocupados com ele e quando o achamos ele estava conversando com os outros soldados, na verdade ele estava mais que conversando, ele estava dizendo que iria encarar aquele guerreiro. A pergunta dele nunca vou me esquecer: “Quem é esse incircunciso para desafiar o exército do Deus vivo?”

Eu fiquei muito irado com Davi naquele momento, afinal aquilo não era brincadeira, aquilo era um desafio pela liberdade de nosso povo, Davi não tinha experiência de campo de batalha para vencer aquela luta, ele era apenas um gentil menino que cuidava das ovelhas de nosso velho pai.

Quando fui repreende-lo ele me desafiou acredita? Disse que tinha experiência lutando contra leões e ursos e que iria acabar com a raça daquele guerreiro inimigo pois Deus o ajudaria. Honestamente achei que seria apenas uma galhofa de adolescente aquilo, o rei não iria confiar em um menino, mas a coragem de Davi pareceu contagiar o exército e até o próprio rei, que o chamou para uma conversa particular em sua tenda. Ao sair de lá Davi era o escolhido para lutar aquela batalha.

Você deve estar perguntando como eu me senti quando tive essa informação, certo? Eu pensei assim: “Pronto! O mundo endoidou de vez! Deus pode fazer outro dilúvio que o primeiro não deu certo! ”. Hilário? Muito! Mas como você se sentiria no meu lugar? Seu irmão mais novo, que nem das fraldas saiu ainda, vai lutar contra um guerreiro de 3 metros e se ele perder você e sua família vão ser escravas de um povo que faz sacrifícios humanos para o Deus deles!

Difícil minha posição né? Acompanhei Davi quando ele foi experimentar a armadura do rei e honestamente isso só serviu para aumentar meu desespero, ele não conseguiu andar com a armadura de Saul, e se ele não tem força com essa armadura, o que será dele, e de nós? Davi preferiu ir sem arma nenhuma, apenas com sua funda e com sua fé, e convenhamos que fé, se tem uma coisa que eu aprendi a admirar nesse garoto é a fé dele em Deus.

Davi começou a sua caminhada em direção ao gigante, cada passo dele demorava uma eternidade para mim, eu só pensava que meu irmão mais novo era o maior maluco da história! No caminho ele pegou algumas pedras em um riacho, quando Golias viu deu uma risada e perguntou se Davi iria lutar contra algum cachorro, Davi deu um sorriso e disse a frase mais marcante da tarde: “Você vem contra mim com espada, lança e dardo. Mas eu vou contra você em nome do Senhor Todo-Poderoso, o Deus dos exércitos israelitas, que você desafiou. Hoje mesmo o Senhor Deus entregará você nas minhas mãos, eu o vencerei e cortarei a sua cabeça. E darei os corpos dos soldados filisteus para as aves e os animais comerem. Então o mundo inteiro saberá que o povo de Israel tem um Deus e todos aqui verão que ele não precisa de espadas ou de lanças para salvar seu povo. Ele é vitorioso na batalha e entregará todos vocês nas nossas mãos”. Aquilo parece ter mexido com Golias, que começou a ir em direção a Davi, cada passo de Golias me dava a impressão de um massacre! Davi pegou uma de suas pedras e colocou em sua funda, logo começou a girar enquanto o gigante andava. Em determinado momento Davi arremessou a pedra, honestamente, nunca vi um arremesso tão forte! A pedra pegou na cabeça de Golias que surpreendentemente caiu desmaiado no chão.

Nesse momento se fez um ensurdecedor silencio no campo de batalha! Os filisteus emudeceram e o israelitas pareciam não acreditar que aquele menino, meu irmãozinho estava correndo em direção a um gigante que parecia estar morto no chão! Assim que Davi chegou no gigante pegou sua espada e com um golpe cortou sua cabeça, assim que ele levantou a cabeça do gigante, todo o exército israelita gritou e foi em direção ao exército filisteu, que atordoado com aquela cena fugiu. Naquele dia Israel e eu conhecemos o nosso futuro rei! O rei Davi! O menino que confiando em Deus matou um gigante! Estou muito feliz hoje por ser irmão do maior rei da história de Israel, essa história me mostrou que não importa o tamanho do gigante a frente, o meu Deus é muito maior!