PunkYoga #01: A Noite Como Oceano
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PunkYoga #01: A Noite Como Oceano

Acho foda olhar pro céu à noite e ver uma bola de golfe gigante refletindo luz e flutuando no nada. É claro que tem o Sol — que é uma bola de fogo gigante que emite luz e flutua no nada —, mas olhar pro Sol dói. Já a Lua, sim, foi feita para ...

Nathan Fernandes
7 min
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"A árvore que leva alguns a lágrimas de alegria é aos olhos de outros só uma coisa verde que está no caminho. Um homem é o que ele vê."

Acho foda olhar pro céu à noite e ver uma bola de golfe gigante refletindo luz e flutuando no nada. É claro que tem o Sol — que é uma bola de fogo gigante que emite luz e flutua no nada —, mas olhar pro Sol dói. Já a Lua, sim, foi feita para contemplar. Talvez, por isso ela cause tanto fascínio (e torcicolo).

 A Lua é a representação da energia da noite. E eu não poderia descrever melhor essa energia do que o Zé Ramalho:

"Eu entendo a noite como um oceano que banha de sombras o mundo de Sol"

A noite é sexy, é misteriosa, ela pode dar prazer e medo ao mesmo tempo, como tudo que guarda um segredo. Igual à Lua. 

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Cada ciclo completo da Lua dura 28 dias, e ele se repete 13 vezes durante o ano. São os 13 meses do calendário lunar, que, diferente do calendário gregoriano que a gente usa, não são irregulares (não tem mês com 28 dias, outro com 31), e também não tem nome de imperador romano enfiado no meio (tipo Julho e Agosto, que vêm de Júlio Cesar e Augusto). O calendário lunar segue o fluxo da natureza.

 Há algumas semanas, por sugestão de gente querida, venho anotando como eu me sinto em cada fase da Lua. Criei um gráfico em que cada cor representa um sentimento. E, já tendo alguns dias de amostra, pude perceber, por exemplo, o quanto eu me senti impaciente ou ansioso durante o último mês inteiro. Justo eu, que me considero tão de boa. 

Também pude perceber que as noites de Lua cheia são as que eu me sinto mais disposto a trabalhar, a escrever, a criar. Tá tudo no gráfico (ou mandala, parecida com essa abaixo que tem na internet), e eu nem tinha me tocado. É basicamente ciência de dados. 

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E foi numa noite de Lua cheia, com um eclipse no meio (16/7/19), que eu decidi criar essa newsletter. Prazer, sou o Nathan.

Sou jornalista, ultimamente tenho me definido como escritor e resolvi criar esse espaço pra compartilhar minhas brisas, minhas pesquisas e minha preocupação com os tweets-Djavan do Carlos Bolsonaro — me parece que tem um pedido de socorro ali.

 Além disso, ultimamente, tenho feito uns trabalhos que têm se alinhado bastante com o que eu gosto, então acho que seria legal compartilhar isso também.

É o caso do texto que eu fiz pro terceiro fascículo da mostra Fronteiras Finais, um ciclo de cinema organizado pela editora Aleph, Projeto Replicante e CineSesc, de SP,  que homenageou os 50 anos da chegada do homem à Lua — no caso, é "homem" mesmo, porque nenhuma mulher pôs os pés lá ainda, apesar de terem qualificação, como eu explico no texto.

Brisei descaradamente sobre o tema, usando como referência ajornada do heróido Joseph Campbell. Tentei mostrar que, da mesma forma que nós somos os heróis da nossa própria trajetória e cada um busca evoluir a seu modo, a chegada do ser humano à Lua representa a persistência da própria humanidade em busca de autoconhecimento.

"Acabei descobrindo que a jornada do herói não é nada menos que uma compilação de instruções para a vida, um manual completo da arte de ser humano."

  As pessoas estão sempre arranjando formas de se conhecer melhor, seja voando até à Lua, seja anotando as influencias dela em um gráfico colorido. Se curtiu, dá pra ler na íntegra o texto Conquistando o Espaço

O que tô ouvindo:

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O Robert Mose é um dj da Guatemala que faz "música para a alma", como ele define. De fato, quando você toca um remix dele no fone, é como se algum deus desorientado passasse pela Terra só pra te dar um abraço, enquanto sussurra no seu ouvidinho: "Você também é deus".

Tenho ouvido bastante. Serve pra escutar no trabalho, pra meditar ou pra criar um clima de ousadia em casa. 

Para o Mose, o silêncio é importante. "Acho que, ao entrar em longos períodos de silêncio, consigo me conectar profundamente com o espírito", escreveu ele, emseu site. Já eu prefiro ouvir a música dele pra fazer essa conexão. Gosto particularmentedessa play aqui, que tem trechos do livro "O Poder do Agora" com uma voz que te derrete.


A ideia era fazer uma newsletter curta, mas já tá quase com uns mil scrolls. Que caralha! Então, vou me ajeitar aqui pra dar tchau. Deixei para o fim a apresentação dessa coisa deslumbrante que é oStarman Tarot. E olha que eu não uso a palavra "deslumbrante".

É um deck de tarô criado pelo artista Davide de Angelis, inspirado na parceria que ele desenvolveu com o David Bowie na criação dos álbunsOutsideeEarthling.

[O deck] Serve como um catalisador de criatividade, uma bela rebelião para empoderar sua visão e realizar seu potencial humano mais completo.

 Em outra ocasião, eu explico melhor de onde vem esse meu recente fascínio pelo tarô — já adianto que não tem nada a ver com previsão de futuro & outras putaria.

Apesar de não ser tarólogo, há um tempo venho estudando os arcanos do Angelis e acho que esse é um bom momento pra começar a compartilhar essas mensagens e dividir esse estudo. 

O oráculo do Bowie, um conselho pra semana:

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Eu tava em dúvida se usava a frase do William Blake (aquela lá de cima) pra abrir essa primeira newsletter ou se usava uma outra. Depois que tirei essa carta, não restou dúvida nenhuma, porque tanto a frase quanto a carta dizem exatamente a mesma coisa. Olha o que o Angelis diz sobre o cinco de ouros:

Podemos passar a vida sem saber da beleza impressionante e das coisas milagrosas que nos cercam (...). Podemos passar por uma bela árvore florida completamente alheios a sua rica e fecunda manifestação.

Coincidentemente, a carta é praticamente uma interpretação visual da frase do Blake, ou vice-versa. Jung diria que é um sinal e chamaria isso de sincronicidade, eu chamo de puta-coisa-doida-da-porra. 

Na imagem, dois moradores de rua pedem dinheiro. Eles estão na porta do Jardim do Éden, separados apenas por uma cerca de arame. Miséria e sofrimento ao lado de abundância e riqueza. Pode representar a falta de alguma coisa, perda, prejuízo. Mas, como o Angelis diz, não existe falta de nada, só falta de entendimento. 

Às vezes, a gente tá tão imerso na nossa própria escuridão que nem percebe aquela Lua que brilha lá no céu, como nos lembra o Exaltasamba. Angelis cita a metáfora de um pedinte que passou trinta anos na beira da estrada, pedindo dinheiro, sentado em cima de uma caixa. Até que alguém passou por ele e sugeriu que abrisse a caixa. Dentro dela, ele descobriu ouro. 

Conversa demais comigo. Quando me demiti da Galileu (depois de juntar dinheiro por meses), logo no início, achei que teria problemas por não ter mais um salário fixo e por fazer trabalhos que me pagavam muito menos do que eu recebia como CLT — mas que me davam imenso prazer.

Fiquei surpreso porque, depois de quase um ano, eu não sinto falta de muita coisa. Ainda continuo ganhando muito menos do que ganhava (manda jobs, inclusive!), mas minhas prioridades também mudaram. Isso porque a forma como eu vejo o mundo agora e, consequentemente, como eu gasto meu dinheiro, mudou.

Não sou a Madre Teresa, adoro ganhar dinheiro pra poder comprar minhas blusinha. Mas, considerando meus privilégios, entendo que a abundância não tá relacionada à quantidade de moedas que eu tenho no bolso. 

Essa carta conversa com você também?


Se liga aí, que é hora da revisão:

  1. Explicação sobre a Jornada do Herói, do Joseph Campbell
  2. Texto que escrevi para a Ed. Aleph sobre os 50 anos da chegada à Lua
  3. Playlist do Mose <3
  4. O "deslumbrante" Starman Tarot

Obrigado demais pra você que chegou até aqui e conseguiu ler tudo sem sofrer um aneurisma. Essa é a primeira edição desse meu projeto, e eu deixo a porta mais do que aberta pra você me dizer o que achou. Dá pra me mandar um reply, me encontrar lá no Twitter, ou no Instagram. Se curtiu, lembra de chamar os migs. 

Vai pela sombra.

Com amor, 

Nathan. 

*Fiz uma tradução livre da frase do William Blake. O original tá aqui.

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