Tem um tempo que eu venho sendo perseguido por uma ideia. É aquela coisa de colher o que se planta. Não sei se é por conta do balanço que a gente faz nos aniversários, mas essa ideia que é tão comum entrou no meu cérebro e se fez ser notada c...
"Escrever é como pago minha oportunidade de olhar e aprender" | ||
Tem um tempo que eu venho sendo perseguido por uma ideia. É aquela coisa de colher o que se planta. Não sei se é por conta do balanço que a gente faz nos aniversários, mas essa ideia que é tão comum entrou no meu cérebro e se fez ser notada como uma participante de RuPaul's Drag Race. | ||
Começou quando um amigo, o Thonzinho, cantou uma música dele no violão. A música chamaColhe Agorae a voz dele é tão bonita que só dá vontade de colocar as mãos no queixo e ficar sorrindo que nem otário. Tem uma gravação dela aqui com o Coral Jovem do Estado, que é coisa finíssima, mas ter ouvido ao vivo realmente me pegou. | ||
Em um verso, ele praticamente ordena: "Colhe agora o que plantou, irmão". Me soou como uma ameaça de veludo moldada em ferro. E isso ficou reverberando nos meus neurônios por um tempo. | ||
Um dia depois de ouvi-lo, fui a uma festa de rua. Havia ganhado um ácido (também conhecido como LSD, caso você seja a minha mãe) de presente e resolvi tomá-lo, afinal, por que não? Parte da experiência de se autoconhecer também inclui experiências "profanas". Não faz sentido eu ficar olhando pro céu sem entender a terra que me sustenta. E eu sinto que, quando a gente se explora por dentro, mesmo as experiências recreativas são feitas com mais consciência. | ||
Além do mais, se chafurdar bem, a gente vai ver que não existe de fato uma separação entre o "sagrado" e o "profano" | ||
Essa ponte entre coisas supostamente separadas é importante. É o caminho do meio. O tal do TAO. | ||
Uma hora, na festa, começou a tocarMorango do Nordeste. E eu me peguei chorando, quando percebi o verso que dizia: | ||
Você só colheu o que você plantou, por isso eles falam que eu sou sonhador | ||
Sim, amigos, eu CHOREI com MORANGO DO NORDESTE. Quem mandou ficar sensível no meio da rua, não é meixxxmo? | ||
O fato é que eu realmente acho que tá tudo tranquilo na minha vida. Eu atingi um patamar muito confortável como freelancer. E isso não quer dizer que esteja tudo resolvido pra mim. Como freelancer, eu não tenho estabilidade nenhuma, a falta de grana é uma realidade constante e assombrosa, e têm vezes que a insegurança bate com um taco de golfe na nuca. | ||
Mas eu tenho aprendido a ser mais de boa com as coisas. Por mais que eu me desespere, as sementes que eu plantei ao longo desses anos me dão uns frutos inesperados. Então, no meu caso, eu entendo que o desespero é completamente inútil, porque logo as coisas encontram uma forma de se resolver, principalmente quando eu me movo pra isso. | ||
E isso me leva à plantação que eu venho cultivando nesses anos. A forma como está a minha vida agora é absolutamente sem sombra de dúvidas resultado de todas as escolhas que me trouxeram até aqui. E, embora eu ainda erre em muita coisa, acho que, no geral, tá tudo certo. | ||
Quando eu penso nos meus amigos, no meu amor, no meu trabalho, na minha família, eu só tenho motivos pra me orgulhar da rede invisível que eu teci. Só me dá vontade de agradecer. Quando eu me sinto assim, como um alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado, o eu-sabotador que fica na minha mente sempre aparece pra foder com o rolê. Ele diz que eu não deveria me sentir assim, que com certeza ainda tem alguma coisa faltando. E, de fato, tem. Mas se eu focar no que falta, talvez eu perca a contemplação do que eu já tenho. | ||
Me lembra uma cena de Marte Ataca!, se não me engano, em que uma sonda tá analisando pedrinhas no solo marciano, sem perceber que por trás de uma montanha existe uma civilização com arranha-céus e carros voadores. | ||
É aí que entra a história de colher e de plantar. Eu não tenho razões pra me sentir mal, simplesmente porque desde que eu larguei meu emprego fixo, com benefícios, no meio de uma crise, eu tenho feito escolhas muito conscientes. E arcado com elas. É tudo causa e consequência. | ||
É óbvio que eu não tenho como controlar os fatores externos e as adversidades. Tipo, eu não tenho o que fazer se cair um raio na minha cabeça, mas se eu consigo ajustar o foco e perceber a realidade de uma forma menos babaca, tudo a minha volta fica menos babaca. Porque eu dou valor e significado às coisas. | ||
Eu não tenho motivo racional nenhum pra escrever essa newsletter, por exemplo. Se eu fosse fazer as contas, ela nem teria razões pra existir. Mas eu sinto um prazer tão grande em treinar minha escrita com assuntos pelos quais eu sou fascinado que a newsletter brota que nem uma lótus brota da lama. E qual é o sentido de uma flor bonita numa cidade cinza que nem São Paulo? Racionalmente, nenhum também. Mesmo assim elas existem. | ||
Eu tenho a capacidade de fazer merdas incríveis, não me subestimem. Mas, desde que eu passei a ter mais consciência dos meus atos, desde que eu passei a plantar ações conscientemente, eu sei exatamente o que eu vou colher. E muitas vezes eu me surpreendo positivamente com as coisas que aparecem. | ||
É por isso que quando o meu eu-sabotador aparece querendo falar bosta, eu tenho como calar ele. | ||
Eu tive certeza que era sobre isso que eu deveria escrever depois que assisti aesse vídeo da maravilhosa Mulher Pepita, que tá numa fase coach de lifestyle inspiradíssima. No vídeo, ela diz: | ||
Eu quero que essa semana seja a semana da colheita, pra mim e pra você. Presta atenção no que você tá plantando pra depois você colher lá na frente. | ||
Invejosos dirão que é clichê, mas mesmo os clichês têm uma razão de ser. E, afinal, quem realmente presta atenção nas coisas que tá plantando? Em vez de se perguntar se você tá colhendo as coisas que plantou, talvez também fosse interessante se questionar se você está plantando agora o que você quer colher lá na frente. Isso é assumir as responsabilidade pelos nossos próprios atos. | ||
Isso é colocar em prática os ensinamentos da Mulher Pepita. | ||
O oráculo do Bowie, um conselho pra semana: | ||
Antes de abrir o tarô essa semana, eu fiquei me perguntando o que aconteceria caso saísse alguma carta que eu já tirei. E aí... de 78 cartas possíveis, saiu uma carta que eu já tirei, na edição #4. | ||
Talvez, eu esteja precisando reforçar as ideias que essa carta transmite, ou talvez eu não tenha embaralhado direito. O fato é que o 3 de copas do Starman Tarot passa essa ideia de celebração, principalmente a celebração com amigos. | ||
E cada vez mais eu tenho prestado atenção nas pessoas que orbitam a minha vida e como elas me influenciam. Não que eu tenha um grupo superseleto de estrelas com quem eu troco ideias tomando champanhe, mas tenho tentado estar mais aberto às coisas que meus amigos podem me ensinar, às questões que eles me trazem. E tenho tentado também estar mais aberto às coisas que pessoas novas me trazem. | ||
Quando você abre essa porta, algumas coisas incríveis acontecem. Tipo, foi assim que eu conheci o Thonzinho, que cantou aquela música linda que eu citei lá em cima. | ||
Isso não quer dizer que eu me mova por interesse, que só a high society possa chegar perto de mim. Pelo contrário, acho que é justamente pela falta de interesse que as coisas fluem. | ||
E também porque, considerando que cada um tem uma história de vida, eu acredito que todas as pessoa têm alguma coisa pra passar, seja o porteiro do meu prédio que me disse que os traficantes da rua ajudam a manter a segurança do bairro ou o Eduardo Viveiros de Castro. Gosto de estar aberto a isso. | ||
Falando em amigos, no domingo de lua cheia, sai a primeira edição do podcast que eu tô fazendo com o meu amigo André, que trabalhou comigo na Galileu. | ||
É o Brisas Cósmicas: o podcast da família transcendental brasileira. Já tem o teaser aqui. Guarda o link e fica ligado domingo que vai ser uma loucura. | ||
Obrigado mais uma vez pra você que tá lendo esse rodapé. Se você se dispôs a ler tudo isso, acho que é porque a gente se alinha nessa questão de estar aberto aos outros para poder aprender com eles. | ||
Se quiser continuar o papo, é só responder esse email, ou me acha lá no Twitter e no Insta. | ||
Vai pela sombra e fica na paz de Bowie. | ||
Com amor, | ||
Nathan | ||
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