PunkYoga #2: A realidade não é o que parece
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PunkYoga #2: A realidade não é o que parece

[Excepcionalmente, tô soltando a newsletter quinta, porque vou pro meio do mato.]

Nathan Fernandes
6 min
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Todos esses momentos se perderão no tempo, como lágrimas na chuva.

[Excepcionalmente, tô soltando a newsletter quinta, porque vou pro meio do mato.]

Eu sou fascinado por outras formas de pensar o tempo. Porque se a gente consegue conceber a ideia de que o tempo do relógio é uma invenção, um negócio que os humanos inventaram pra poder marcar reuniões e não perder a hora do trabalho, a gente consegue repensar qualquer coisa.  

Tipo, se um ano é uma volta completa da Terra em torno do Sol, isso quer dizer que "um ano" em Marte não é a mesma coisa que "um ano" na Terra. Essa noção de tempo organizada em segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos só faz sentido pro ser humano que vive neste planeta.

Não faz sentido pra física, não faz sentido pro Sistema Solar, não faz sentido pro Universo. Ou seja, é uma invenção — ainda que útil. 

Segue um mapa para lembrar a insignificância da Terra:

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Uma vez entrevistei o físico italiano Carlo Rovelli. E ele diz que entender isso é difícil porque não é fácil "pensar em um mundo sem tempo (...) Nós estamos demasiado acostumados a pensar a realidade como existente apenas no tempo. Somos seres que vivem no tempo: habitamos o tempo, nos alimentamos do tempo". No livro A Realidade Não é o que Parece, ele escreve: 

Compreender melhor o mundo muitas vezes significa contrariar a nossa própria intuição.

Pensar o tempo de forma diferente altera a própria realidade, porque mostra que não existe essa ideia de tempo sendo uma sucessão de acontecimentos que vão se empilhando um sobre o outro. Tem até aquela frase do nosso querido Albert Einstein, que tá estampada na abertura do primeiro episódio da primeira temporada da série Dark:

A diferença entre passado, presente e futuro é só uma ilusão persistente.

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Por isso, eu acho foda conhecer outros calendários, tipo o calendário lunar que eu falei na semana passada. Recapitulando: cada ciclo completo da Lua dura 28 dias, e ele se repete 13 vezes, formando um ano com 264 dias. Sobra um dia. 

Os maias, que tem uma visão de tempo circular e não linear como a nossa, consideram que esse dia que sobra é o Dia Fora do Tempo (não tem ano bissexto). É 25 de julho, o dia em que eu tô enviando essa newsletter.

Pessoalmente, é um dia muito especial, já que é aniversário da Priti, um dos seres humanos mais amáveis num raio de dez anos-luz; e também é meu aniversário de namoro com o Felipe, aquele que divide o coração comigo no mesmo tempo e espaço— ooounnn <3

Mas, pros maias, 25 de julho tem o mesmo sentido que a virada do ano no calendário gregoriano, aquele que a gente usa. É como se a meia-noite do dia 31 de dezembro durasse um dia inteiro. 

Então, é um dia inteiro pra recomeçar, reciclar, se livrar dos embustes, repensar na vida e dançar zumba fit na praia. Pra depois começar tudo de novo. É o fim e o começo de um ciclo. E, por mais avesso que você seja à ideia de energias cósmicas, se você fechar os olhos agora, vai lembrar da sensação que é viver uma virada de ano. 

E o mais doido é que os maias não tinham só um calendário. Além do lunar, eles combinavam o Haab e o Tzolkin, que eu adoraria poder dizer que entendo.

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Mesmo sem entender dá pra usar essa calculadora que converte a data do seu nascimento pra esse sistema e traz umas informações bem interessantes sobre você — isso pra não dizer "caralho como esse bagulho sabe dessas coisa". É meio impressionante. 

E o mais foda é que, pra além da questão de "será que eu acredito nisso", tá a questão de que existem, sim, outras formas de conceber o tempo. E, como eu disse, se a gente consegue conceber a ideia de que o tempo é uma invenção, a gente consegue repensar qualquer coisa. 

O que eu tô ouvindo:

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Eu fiquei com vontade de ouvir Larissa Luz depois de ver a capa do disco Trovão (esse aqui de cima). Achei meio enigmática, meio mística e pensei: "Eu preciso ouvir isso aí". Daí coloquei o som no fone e tive que parar quase imediatamente pra entender o que tava acontecendo. Foi uma tijolada na cabeça. 

“Trovão é força, é raio de luz, é Xangô, justiceiro, ecoa, anuncia, é energia, é Iansã, sou eu!”, disse a Larissa, em um texto de apresentação de show. Outras palavras usadas pra definir o disco são: "Sinestesia, ancestralidade e música eletrônica", "ritual baile", "pontos cantados para rezar dançando", "Macumba pop"... E é tudo isso mesmo. 

O sagrado e o profano dançam de rostinho colado e se beijam no disco da Larissa. E só depois fui descobrir que ela interpreta a Elza Soares no musical Elza, uma pessoa sobre quem o Emicida falou assim:  

"Desafia/ Vai dar maior tretaquando você souber que deus é uma mulher pretaE ela atende pelo nome de Elza Soares"

Pra interpretar uma força da natureza, só sendo outra força da natureza. 

O oráculo do Bowie, um conselho pra semana:

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Parece que a carta que eu tirei essa semana, do Starman Tarot, é um presente pra esse Dia Fora do Tempo. É uma das mais bonitas do deck.

Na imagem, o Starman tá em pose de meditação. Ele segura duas espadas pelas lâminas, transformando armas em ferramentas de equilíbrio. Na frente, tem um giroscópio, que mostra que ele não vai ficar parado ali pra sempre. Só tá tirando um tempo pra recarregar a power bank.

Esse tempo pra recarregar é estratégico. E que tempo melhor pra recarregar do que uma virada de ano?

O Angelis diz mais sobre o 4 de espadas:

Investigue a natureza da mente através do poderoso processo de respiração e observação.

Tirar um tempo pra respirar e observar a mente num mundo que soterra a gente de merda é um gesto de respeito com nós mesmos. Respirar e sentir o presente, em vez de ficar preocupado com os boletos do futuro e lamentando as tretas do passado talvez seja uma forma de dissolver essa ilusão do tempo que o Einstein falou.  

Acho que a questão é: o quanto você se respeita pra dedicar um tempo pra você mesmo?


Se liga aí, que é hora da revisão:

1. Minha entrevista cósmica com o físico Carlo Rovelli

2. A enigmática calculadora Kin

3. A tijolada em forma de música da Larissa Luz


Recebi uns comentários tão good vibz sobre a primeira edição da newsletter que meu eterno sabotadorzinho no canto da mente quase não apareceu pra assombrar essa semana.

Valeu demais pela força todo mundo que me dedicou um tempinho! 

Destaco aqui o tweet fofo da Iza, porque agora todo mundo já sabe que ela anda lendo uns bagulho estranho na internet:

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Então me escreve se quiser trocar uma ideia. E indica pros amiguinhos se curtir. 

Vai pela sombra e fica na paz de Bowie.

Com amor, 

Nathan.

*A frase lá do topo é uma homenagem ao ator Rutger Hauer, que fez essa fala de improviso em Blade Runner e entrou pra história do cinema. Ele terminou o ciclo na Terra dia 19. 

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