Finalmente tomei vergonha na cara e tô pensando na possibilidade de organizar um livro. Por isso, preferi dedicar atenção a isso nos próximos dias.
Finalmente tomei vergonha na cara e tô pensando na possibilidade de organizar um livro. Por isso, preferi dedicar atenção a isso nos próximos dias. | ||
Estou revendo todo o conteúdo que já publiquei aqui na newsletter, fazendo uma limpa e reeditando tudo. O trabalho é pesado. Mas eu não poderia deixar escrever a edição dessa semana, porque chegaram pessoas novas e eu não queria passar a impressão de ser um louco desvairado que só escreve quando quer — apesar dessa ser a minha exata descrição. | ||
Então, aproveito o espaço pra compartilhar alguns trabalhos meus que saíram essa semana: como a reportagem que escrevi em homenagem à Brunna Valin, pra Elástica. A Brunna foi uma ativista trans e do movimento hiv/aids, que morreu em junho. A história dela diz muito sobre a cultura travesti e o estigma do hiv no Brasil. | ||
Resolvi escrever sobre ela depois de uma aula que tive com a Helena Vieira, falando sobre ancestralidade travesti. O passado das travestis simplesmente foi apagado da nossa cultura, como se elas não tivessem existido na história. Criar um histórico positivo é importante se a gente quiser pensar num futuro menos preso a essa lógica binária de gênero e conservadora. Não à toa o título do texto é Por Uma Memória Travesti. | ||
Seguindo a linha bicha bichíssima, eu falei sobre o Coletivo Tibira nessa outra reportagem, também pra Elástica. A ideia deles é mostrar que, sim, existe indígena viado, travesti e sapatão. Mas as pessoas se esquecem disso. Aliás, o próprio movimento LGBT+ esquece disso. | ||
A Katú Mirim, rapper sobre quem eu já falei aqui na newsletter, é uma das fundadoras do coletivo. Esses dias ela compartilhou um trecho do livro O Espírito da Intimidade, o qual eu acho que resume bem como os não ocidentais percebem a homossexualidade: | ||
"As palavras "gay" e "lésbica" não existem na aldeia. Temos, sim, a palavra "guardião". Os guardiões são pessoas que vivem no limite entre os dois mundos - o mundo da aldeia e o mundo do espírito. (...) No ocidente, frequentemente gays e lésbicas são muito espirituais, mas estão afastados de sua conexão com o espírito. Na aldeia, a homossexualidade é vista diferente do que no ocidente, porque toda sexualidade tem base na espiritualidade. | ||
Acho interessante porque diz muito sobre a forma como nós fomos ensinados a perceber o mundo. Nosso pensamento deriva todo desse ideal dos colonizadores, que chega estuprando, matando e conquistando. | ||
Tibira, inclusive, é o nome da primeira vítima de homofobia do Brasil, um tupinambá que foi morto pelos portugueses porque tinha relações sexuais com outros homens. Agora, imagina você tá lá vivendo de boa, chega um monte de branco do nada e te MATA porque eles acham que o que você faz é pecado. | ||
Parece coisa do passado, mas a gente ainda reproduz isso hoje. Esse tipo de pensamento ocidental (europeu-branco-capitalista), que desumaniza pessoas, que diz que só um tipo de gente (branca) pode ser tratada como ser humano é o que tá por trás desse descaso com as 100 mil mortes da pandemia. | ||
Cerca de mil pessoas estão morrendo todos os dias por uma mesma causa e o Bolsonaro parece mais interessado na reeleição de 2022. Nós não temos um ministro da saúde titular, nós não temos sequer uma ação coordenada com os governos estaduais e municipais. O presidente não se importa, porque quem está morrendo são pessoas pretas, indígenas e pobres que moram na periferia. Pra ele (& pra quem pensam como ele) pessoas do tipo não são gente. Esse é ápice do tipo de desumanização que o pensamento ocidental causa desde quando chegou aqui nas caravelas. | ||
E foi sobre essas 100 mil vidas perdidas que eu escrevi no Yahoo!. O editor me pediu o texto na sexta, às 19 horas da noite, para entregar no sábado de manhã. E eu virei a madrugada, porque queria expressar um pouco essa indignação que eu acho que todo mundo tá sentindo. Pra minha surpresa, apesar da correria, o trabalho ficou bem bom, por isso tô indicando aqui. | ||
Sigo trabalhando na versão em livro do PunkYoga. Não tenho a mínima ideia de como isso vai se dar, mas volto com mais informações. | ||
O que eu tô ouvindo: | ||
O Alê me indicou o disco dessa banda britânica de música instrumental que eu não conhecia. O grupo se chama The Comet is Comming e o nome do disco é Trust in the Lifeforce of the Deep Mystery. Tem músicas como Because The End Is Really The Beginning e Birth of Creation. Nem preciso dizer que é muito doido, né. Passei uma tarde inteira ouvindo isso no fone e pensando que a minha consciência tava se integrando com o Universo. | ||
O que eu tô lendo/ vendo/ ouvindo: | ||
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Já era um ideia que eu tinha, agora me parece inevitável. Durante um ano inteiro tentei manter a periodicidade semanal da newsletter, mas, a partir de agora, ela vai ser quinzenal. | ||
Me parece um prazo mais adequado tanto pra escrever quanto pra ler essa caralhada de coisa que eu escrevo. | ||
Talvez eu não consiga dar conta durante a preparação do livro, que deve durar pelo menos até o próximo mês. Mas a gente vai dando um jeito. | ||
Se você chegou até essas linhas finais, minha mais sincera gratidão. | ||
Vai pela sombra e fica na paz de Bowie. | ||
Com amor y anarquia, | ||
Nathan | ||
Se você chegou aqui através de um link, deve tá pensando: "Como eu assino essa newsletter maneira?". Ora, é só deixar seu e-mail aqui. Se não curtiu e tá aqui lendo esta última linha, admiro sua capacidade de autoflagelação. |