#8 - podca17t de vídeo
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#8 - podca17t de vídeo

Por que existem tantos podcasts conservadores?

Fred Fagundes
5 min
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#8 - podca17t de vídeo

🎧 Ouça no Spotify | Anchor | Deezer | RSS | iTunes ou no final desta página.

Transcrição do episódio:     

Começa agora o quem matou a tangerina. Um podcast que você não vai encontrar no Youtube. 

O meu amigo Lisandro Castro apresentou uma teoria há alguns dias que, olha, eu preciso compartilhar com vocês. Eu estou bastante encucado com isso. Mas já confesso desde agora que não pesquisei, não estudei, ou seja, não me aprofundei nesse tema. É só algo que permeia meus pensamentos e portanto se tornou uma verdade absoluta. 

Antes, eu preciso contextualizar. Fazer o chamado preâmbulo necessário. 

Você conhece a origem do termo podcast? Segundo fontes confiáveis, tudo começou em 2004 com o ex-vj da MTV Adam Curry. Ele tinha a mania horrível de mandar longos áudios via e-mail para os amigos. Todos adoravam as mensagens, mas era insuportável ter que ficar ouvindo de frente para o computador. Foi então que Adam criou um código simples usando Applescript, começou a hospedar os arquivos num servidor e disponibilizou o código RSS para que todos pudessem baixar os áudios no iPod, que era uma febre na época. 

Adam postou o código em fóruns e logo outros podcasts foram surgindo. Meses depois, o jornal The Guardian publicou pela primeira vez o termo: podcast. O pod, uma abreviação de Personal On Demand, e o cast, de Broadcast. No final daquele ano várias gigantes já tinham o seu podcast, como a BBC e outras emissoras. E o grande salto de popularidade foi com a inclusão da categoria Podcast no iTunes em junho de 2005. 

Algumas coisas mudaram de lá pra cá. Agregadores como Spotify e Deezer, investem em programas originais e exclusivos. A Globo diariamente, às vezes até em horário nobre, divulga os seus podcasts apresentados por figurões da casa. Mas nada, absolutamente nada mexeu mais com esse mercado nos últimos anos do que o podcast em vídeo. 

Eu não tenho nada contra o formato, que fique bem claro. Tem quem goste, tem quem odeie, tem que sinta ciúmes da apropriação do nome podcast. Eu entendo. Mas não é algo exatamente novo. Em 2017, quando o Spotify começou a facilitar a publicação de podcasts, muitos MCs postaram funks proibidos no aplicativo em formato de podcast. Até hoje, inclusive, em algumas comunidades de São Paulo o podcast é conhecido como uma playlist de funk. 

Essa apropriação aconteceu também com a classificação de blogueiras de moda. As blogueiras de moda, ou seja, pessoas que entendiam de moda e tinham um blog, fizeram história, tinham muitos acessos, foram importantes dentro de uma geração da cultura digital brasileira. Mas hoje, blogueira de moda se tornou um termo quase pejorativo. Representa uma gratidão meio debochada. E quem se autodenomina blogueira de moda talvez nunca tenha tido um blog. Ela só replica em outras ferramentas como o Instagram o formato de conteúdo popularizado lá em 2009.

Pronto, dito isso, voltando a falar dos podcasts de vídeo. Que são podcasts e são em vídeo. É impressionante o alcance de alguns programas já fora das redes sociais. E fora das redes eu digo: Whatsapp. Os chamados cortes do podcast tem esse papel fundamental. Não só servem como teaser para a entrevista completa. Eles são perfeitos para os grupos de zap. 

Sobre o conteúdo desses programas. Bom, não é novidade pra ninguém que há uma semelhança enorme. Não digo o formato, nem os convidados repetidos, que isso todo mundo já sabe. Aquele cenário de mesa no centro, a TV ao fundo, enfim. A semelhança que me assusta é a da linha editorial. 

Por que existem tantos podcasts conservadores?

Ah, mas foi o Boulos. Ah, mas foi o Haddad. Sim, se a gente for falar do Flow, que é o mais popular, o Jovem Nerd dos podcasts de vídeo, eles dois aí realmente foram. Mas para cada Boulos vão 15 Kim Kataguiri. Esse é um ponto. Ok? Tá comigo? Agora a coisa esquenta. 

Existe um grande, um gigante volume de podcasts de vídeo sendo lançados todo santo dia exclusivamente para a geração de cortes que vão pro zap e pro Telegram. E todo santo programa tem a mesma narrativa: enfraquecer qualquer debate relacionado a uma pauta social e defender a agenda liberal. 

Tá, mas qual é a teoria do Lisandro?

Chegamos à ela.

Eu tenho uma produtora de podcasts em Cuiabá chamada Altia. Fazemos alguns programas para empresas e também outras produções independentes, mas isso não vem ao caso. O que acontece é que nos últimos 10 dias eu recebi 4 contatos espontâneos de pessoas querendo fazer um podcast. Obviamente, eu atendi a todos. 

A curiosidade é que os quatro vieram com o mesmo papo: quero um podcast tipo Flow e que passe no Youtube. Teve um que disse que nem se preocupa com o áudio, só com o vídeo. 

O perfil de todos os clientes que atendi era absolutamente igual. Até que teve um que disse ter como convidado para o primeiro episódio o deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro. Foi então que as coisas começaram a fazer sentido.

Eduardo Bolsonaro esteve em Cuiabá no início de junho para uma série de palestras e reuniões com empresários e possíveis investidores na campanha de 2022. Uma reunião discreta, mas que movimentou a ala conservadora da nossa região.

Quando contei para o Lisandro que havia atendido mais um cliente pedindo um podcast em vídeo, ele deu a letra: será que essa explosão de programas de bate papo com agenda liberal não é estratégia de um grupo político para massificar suas teorias e enfraquecer o discurso da esquerda?

Porque existem tão poucos podcasts de vídeo com narrativas de esquerda, como o do Rafinha nos últimos anos e do Felipe Solari? Por que os principais vídeos de podcasts que viralizam são de programas que, se não defendem, dão voz para as pautas da direita?

Essa estratégia do volume já deu certo em outras oportunidades. Não há preocupação da direta de ocupar o espaço dos grandes podcasts, isso eles já fazem de modo espontâneo. O importante nessa jornada é ter o controle dos pequenos que fazem barulho dentro dos grupos mais fanáticos. E são esses fanáticos que gritam pra fora da bolha. 

Em 2018, muito se falava que nos grupos de Zap e Facebook os eleitores do Bolsonaro estavam fazendo propaganda política pra eles e que isso não teria efeito ‘fora daquele círculo’. E não foi bem assim.

Reforço: esse programa é completamente baseado no achismo. Assim como eu achei que ninguém ia acreditar em mamadeira de piroca há alguns anos. Então eu posso estar bem errado. 

Já o Lisandro costuma acertar.

Caso você utilize um agregador como Spotify ou iTunes, siga o podcast e deixe um avaliação. Obrigado! ;)


Sobre o autor: Fred Fagundes é jornalista, produtor de podcasts e dono das melhores vagas em estacionamentos. Em caso dúvidas ou sugestões, entre em contato via redes sociais ou pelo e-mail: qmat.podcast@gmail.com.