Ele chegou atrasado. Bem atrasado. Esperava brilho, cores, e ele até que estava bem discreto pro padrão Milton Cunha.
Ele chegou atrasado. Bem atrasado. Esperava brilho, cores, e ele até que estava bem discreto pro padrão Milton Cunha. | ||
Chegou de máscara, um tanto quanto frio. Deu um soquinho na minha mão e logo pensei: "Fudeu, o Milton tá num dia ruim". | ||
E então se sentou e tivemos aqueles 10 minutos de teste de som e camera que eu tenho pra ganhar a confiança do entrevistado e mostrar que embora eu seja jornalista não quero prejudica-lo, mas sim perguntar. | ||
E então de repente a gente fala "tá no ar". E o Milton Cunha se transforma. É um artista nato. O "no ar" muda o olhar, o tom, o sorriso, a intensidade. O tom sobe, as frases saem naturalmente como se ele as tivesse calculado, mas não o fez. | ||
E o papo flui. Me identifico. É um cara apaixonado, como eu. Inclusive, pela mesma coisa. | ||
Como todo artista, vê poesia em tudo. Vê o que muitos não vêem. E também vê o que não existe. Porque a paixão é isso. E nada me encanta mais do que a capacidade do ser humano em ver as coisas com brilho nos olhos. | ||
Milton vibra como uma bateria. Desfila como uma baiana. Brilha como um carro e transmite a mesma alegria que uma escola passando na avenida. | ||
É o tipo do cara que está no lugar certo no planeta terra. Ele é o carnaval. | ||
De esquerda, como quase todo artista. E não radical, nem militante. Gay, sem vitimização. Só convicção. | ||
Divertido. Inteligente. E adora ser o Milton Cunha. | ||
Um carioca nascido fora do Rio. Como eu, de certa forma. | ||
A entrevista não é pra quem gosta de carnaval. É pra quem quer ter um dia melhor. Ouvi-lo falar de carnaval é como ouvir um adolescente falando de sua primeira namorada. | ||
E olha que esse casamento já dura mais de 30 anos. | ||
Amanhã no Cara a Tapa. | ||
RicaPerrone |