Pesos e medidas

O miliciano almoça na mesa ao lado. O traficante anda armado na porta da sua casa. O político rouba milhões, mata um monte de gente por consequência e vai viver na mansão de tornozeleira. 

Pra entrar no show, passamos de cabeça baixa por fuzis. O deputado preso se candidata de novo. O policial que atirou pra depois ver quem era continua armado. 

O professor que estimula o assalto é só ponto de vista. Aqueles que brincam com racismo pra ganhar audiência estão perdoados.

O ator que pegou milhões e não entregou o projeto está no ar na tv. E o assassino da sua prima voltou pra rua por bom comportamento. 

E tudo isso é parte do nosso dia a dia. Diria que a gente nem se importa. Diria até que nos acostumamos. Mas diria também que somos bem covardes.

O garoto que bebeu e foi trabalhar e acabou falando uma besteira, não. Esse eu não posso suportar que siga vivo. Preciso destrui-lo, acabar com sua família, impedi-lo de trabalhar e sequer sair na rua. 

Porque tudo tem limites, né gente? 

E calma lá. Aqui não vai uma defesa ao Monark, nem ao Maurício do Vôlei. Vai uma ponderação sobre nossos reais valores e preocupações. 

É porque te machuca ou porque te consola? É pra ver sangrar o outro ou pra estancar o seu sangue? 

Que diabos nós estamos fazendo? 

Enquanto um Monark não amanhecer morto por suicidio nós não vamos parar? 

Tá feito. Tá condenado. Tá pago. 

Já perdeu o emprego, a empresa. Já tem seus pais em situação delicada com tudo isso, já deve estar no vigésimo rivotril. Já acabou nosso papel.

Era condenar a fala, apontar o erro, se opor ao que foi dito. E ponto final. 

Traficante queima no pneu pra dar exemplo. Você é traficante?

Nem eu. 

RicaPerrone