Will venceu mais do que o Oscar
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Will venceu mais do que o Oscar

A estatueta ficou em segundo plano. Quando Will Smith levantou e deu um tapa no apresentador do Oscar ao vivo pro mundo todo, não adiantava tentar mais falar de cinema.

Rica Perrone
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A estatueta ficou em segundo plano. Quando Will Smith levantou e deu um tapa no apresentador do Oscar ao vivo pro mundo todo, não adiantava tentar mais falar de cinema.

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O mundo só falava disso.

"Violencia!". "Está certo!". "Absurdo!", entre outros julgamentos virtuais como todo dia acontece com alguém. 

A internet virou um tribunal de juri popular desqualificado pra julgar. Cada um pega a sua história, os seus valores, a sua maneira de ver o mundo e julga um terceiro pelo que ela faria.  Ou pior: acha que faria.

Existem formas de lidar com situações. A única que a enorme maioria não conhece é a que te expõe. Essa tem um peso que não é fácil explicar pra quem nunca foi exposto.  

Quando o Chris fez a piada, ele fez com uma doença em curso. A esposa do Will está tratando a doença, e portanto não se sabe como isso está sendo pra família. Talvez haja limites pro humor, e o momento seja um deles.

Você pode fazer piada com o acidente da Chapecoense? Talvez. Na semana do enterro? Não. Nem fudendo. A ferida ta aberta, sangrando, ardendo. 

Eu não sei qual a dor do Will nesse momento. Mas sei que se alguém fizesse piada com algo que alguem que amo está sofrendo, talvez eu não tivesse feito nada diferente do que ele fez.

O mais impressionante é que foi ao vivo, no palco. Como eu disse aqui semana passada em duas oportunidades (minha discussão com Guipa e o Grenal), a vida é como ela é. Não como a gente roteiriza. 

As pessoas explodem, reagem, perdem a cabeça, erram, pedem desculpas, outras acham que não precisam se desculpar. É do nosso dia a dia. Mas basta ser colocado midiaticamente que todo mundo vira santo e julga como se tivesse um passado perfeito de nenhum destempero.

Will Smith foi natural. Instintivo. Defendeu sua família ao se sentir atacado. Se foi intenção do Chris ou não, não sei. Mas o que ele sentiu foi legítimo. 

Condenar um homem que impulsivamente defende sua esposa mesmo colocando seu maior prêmio em risco é uma deturpação de valores absurda. 

Pouco importa o resto. O ato dele ao não se importar com mais nada que não fosse defende-la é digníssimo, mesmo que você entenda como um erro. 

Um erro? Se for, é um dos erros mais belos que um homem pode cometer. 

Cada um sabe o drama que vive. Cada um sabe a história que carrega e o que lhe incomoda ou não. Quando você se arrisca a usar a dor do outro pra brincar, assuma o risco de não ser bem aceito. 

Dirão os hipócritas de rede social que "nada justifica a violência". 

Balela. Todo mundo tem um limite. Em alguns é mais curto, em outros mais longo. Em outros o limite é superado pela omissão ou medo. Talvez até covardia. 

Mas todo mundo tem um limite. 

E não há nada mais normal, humano e aceitável do que uma brincadeira de mal gosto, um tapa na cara e um pedido de desculpas. 

O resto é só o manual do mundo feito por quem mal sai de casa e passa a vida na internet fingindo ser o que não é.

RicaPerrone