Investimento privado na indústria das histórias?
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Investimento privado na indústria das histórias?

Rodrigo Portaro
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🎬 Olá Storytellers!

O que impede você de dar vida para sua história? Seja um longa, seja um curta, seja um game, seja uma série de podcasts, seja o que for. O que impede você?

  • Não conhece investidores? 
  • Ninguém lê a sua história ou te dá feedbacks construtivos? 
  • O mercado é uma panelinha fechada? 
  • Nem te retornam a ligação.
  • Os editais não te escolhem? 
  • O Governo não incentiva a Cultura?
  • Precisa de dinheiro?

Bom. Nesse caso te pergunto:

  • Você sabe exatamente quanto de capital será necessário para sua ideia ganhar vida? Não seria possível ter o mesmo resultado com menos investimento? Quanto disso é estratégia de Marketing (P&A)?  10%? Isso é suficiente? Como você sabe?
  • Onde está seu público? Como vai fazer chegar neles? Quais canais? Você tem experiência nisso? 
  • Como você garante para um investidor que o público vai amar sua história?
  • Já testou sua história com alguém? Com quem? Quantas pessoas? 
  • Você já mobilizou pessoas experientes em torno da sua história? Se você é roteirista, você tem um diretor, um produtor, atores? Se vc não é, quem escrever ou irá escrever sua história?
  • Ah você está sozinho? Por que não conseguiu mobilizar pessoas em torno do seu projeto? Será que as pessoas acham o seu projeto fraco? Ou ninguém quer trabalhar com você?
  • Se você fosse lançar independentemente, como você pensa em fazer receita?
  • Em quais canais você vai encontrar seu público?

Você percebe que essas últimas perguntas trazem a responsabilidade para você, idealizador(a) de um projeto de história, enquanto que as primeiras perguntas representam você colocando a responsabilidade nos outros?

O problema do mercado, não está nos outros. Está em nós mesmos. E esse não é um discurso motivacional. É a vida como ela é. Dinheiro tem literalmente sobrando no mercado brasileiro. É claro que não me refiro aos fomentos do governo. Me refiro a capital que não está acostumado a vir para nosso mercado do entretenimento. Mas para chamar atenção desses investidores, precisamos mudar a forma como fazemos histórias e enxergamos nossos projetos. 

Precisamos olhar para as "idealizadores de histórias" (storytellers) como potenciais empreendedores de "NEGÓCIOS QUE PODEM GERAR LUCRO", principalmente para eles mesmos, mas para quem abraçar o sonho com ele.  

Hoje não vemos idealizadores de histórias como empreendedores. Vemos como um roteirista, um diretor, uma atriz, uma autora, e ponto final. A maneira de operar do mercado cinematográfico é super dependente do governo  (e extremamente problemática). E claramente essa forma de operar não incentiva a indústria olhar para os storytellers como empreendedores que possuem uma ideia de negócio. Nem eles mesmos se enxergam de tal maneira. E isso resulta em uma centralização de capital e poder nas mão de poucos storytellers.

Ou seja, precisamos acreditar que histórias podem virar um negócios. 

Pensando com a cabeça de um investidor "mais tradicional" (que investe em outros mercados), se pergunte: "O que seria necessário para convence-lo a investir em cinema, em entretenimento, em arte?".

A resposta está em mitigar risco e maximizar retorno a níveis comparáveis aos de Startups, ou até melhores.

E como se reduz risco e maximizar retorno, indo além dos clássicos: trazer um ator ou uma atriz global para atrair público, trabalhar com parceiros sérios em todas as etapas, montar um time com um bom repertório e experiência, lançar em épocas distantes dos grandes blockbusters? Como fugir disso? Pois mesmo com essas medidas, sabemos que poucos filmes dão o retorno necessário, e não nos torna uma indústria atrativa para qualquer investidor. 

A minha provocação é a seguinte:

Filmes e séries são investimentos de altíssimo risco. Assim como startups também são. E para a indústria de tecnologia, saúde, educação, onde existem muitas startups, temos muitos milhões, e talvez bilhões de reais de investimento privado (de venture capitals, hedge funds, anjos e outros). Como eles conseguem esse capital e nós não? O que eles tem feito lá que não estamos fazendo aqui? E o que podemos aprender?

Bom, com essas provocações é que trago apenas 05 ideias de como mitigar risco e maximizar retorno, que poderiam se somar aos métodos tradicionais:

  • A história: Ter uma história excepcional nas mãos é o principal fator de mitigação de risco. É algo RARO. Se a história é fraca, dá pro gasto, engraçada, legal, boa, nada disso é suficiente. Precisamos de histórias universais, que sirvam a humanidade, que tragam boas respostas para conflitos humanos relevantes para o mundo, de maneira verdadeira, realista, bem tramada, que nos traga satisfação ao consumi-la. Só existe um negócio excepcional com uma história excepcional. A história é o produto a ser consumido pelos público. Se o produto não é incrível, o negócio não tem como ser incrível. 
  • Track Record de projetos: Criar um histórico de histórias de sucesso. Começar pequeno para se tornar grande. É preciso criar projetos menores que geram lucro antes de se arriscar em projetos maiores. É um caminho de longo prazo, sim. Aliás, é o único caminho: Times criando projetos que geram retorno, em situações desafiadoras mas plausíveis de serem realizadas. O retorno não precisa ser grande. Mas só de lucrar, já está valendo. Por que não começar com projetos de 50 mil de investimento e provar que é capaz de dar lucro? Fazemos um crowdfunding, pedimos dinheiro emprestado, doações, colocamos um pouco do nosso bolso, e realizamos! Com o lucro, reinveste e evolui para um de 250 mil, depois para um de 1 milhão, depois um de 5 milhões, até chegarmos nos projetos de 100 milhões? Aí vc pode pensar: "nossa, mas isso vai levar uma vida!". É verdade, mas pelo menos vai nos levar até lá! Não existem atalhos. Podemos ter as excessões, mas é assim que qualquer indústria se desenvolve. Com iniciativas, e ciclos de aprendizados e evolução. O Brasil não está na estaca zero, mas está na estaca um. E não adianta ter pressa. Star Wars já nos ensinou que o caminho para virar Jedi é mais longo e difícil, do que se deixar ser seduzido pelo lado Sombrio, que é mais rápido e sedutor. É fácil produzir com o dinheiro dos outros, mas não reclame se os outros não quiserem te dar o dinheiro.
  • Track Record do produto: Criar um histórico de sucesso da mesma história ou universo de histórias. Em todos os setores da economia, isso já é normal. Você é uma startup que quer produzir carros para locomover as pessoas do ponto A ao ponto B. A primeira coisa que fazem não é uma Ferrari. Uma startup cria o melhor possível com o mínimo possível, levando em consideração o seu objetivo. Se o objetivo é locomover pessoas de A até B com excelência, eles criam primeiro um skate. Testam, falam com os clientes, aprendem com o processo, geram ideias e evoluem o produto. Depois criam um patinete para ajudar as pessoas se equilibrarem melhor. Repetem o processo e criam uma bike, depois uma moto, e por fim, o tão sonhado carro. O que isso seria para o mundo das histórias? Por que precisamos começar com um Roteiro de um longa ou de uma série para os grandes estúdios? Não podemos testar, colher resultados, criar público, nos aproximar do público, criando histórias em outros formatos mais baratos, mais simples e melhorar a história até o ponto de criar o longa ou a série? Não é mais interessante falar com um investidor tendo um público construído, sabendo exatamente como sua história vai gerar resultado, pois já gerou no passado? Parece óbvio, mas quem faz?
  • Potencial Ecossistema de negócios inovadores: Pensar em histórias com potencial de criar um ecossistema a sua volta de serviços e produtos adjacentes à história. Por que não criar um curso, um livro digital, um acesso aos atores, um gibi, uma versão em áudio para podcast? Como criar parcerias com marcas para lançar produtos como camisetas, copos, bonecos e outros? Mas ir além do óbvio também: um curso ou workshop envolvendo os atores, monetizar mensagens de vídeo personalizadas (tem até startup fazendo isso já), criar um site com histórias curtinhas que criam um universo de histórias, enfim. Por que não? 
  • O Poder dos Nichos: Nichos de pessoas apaixonadas por um tema, como os motoqueiros que andam de Harley Davidson, como os skatistas, como jogadores fanáticos por League of Legends. O ponto não é criar histórias sobre eles, mas incluí-los, falar e mostrar o que amam, entender o que seu estilo de vida representa e criar uma história que narra sobre isso. Pode não ter uma Harley sequer, mas pode falar sobre um grupo de amigos fora da lei, que gostam de quebrar as regras, que viajam ouvindo Rock, curtindo sua liberdade pelas estradas mundo à fora, e que estão em encontraram um forma de serem jovens para sempre. Um bom trailer para esse nicho, vende na hora. 

Muitos pensam que esse papel deve ser dos produtores, dos estúdios, das distribuidoras, enfim. E sinceramente, não vejo por que um grupo de storytellers não realizarem por eles mesmos essas ações. 

Voltando para o olhar dos investidores. Não seria muito mais interessante para um investidor colocar o dinheiro dele em projetos que possuem essa vivência, em empreendedores que possuem essa experiência, esses aprendizados?

Não existe segredo. 

Compartilha esse artigo e me ajude a criar mais conteúdo!

Espero que tenham surgido bons insights. E bora fazer história!

To be continued...

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E aí, gostou? \o/ 

Eita que esse texto de hoje merecer umas boas 🏓 !

Ou até um Pingback (aquele cafézinho pra dar um ânimo no dia!)

Rodrigo Portaro é Fundador da Academia da Trama, sócio conselheiro  da The Plot Company que teve Robert Mckee (que ajudou a Pixar a escrever Toy Story e mais de 60 alunos a vencer o Oscar) como sócio e é especialista em Storytelling.