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🎬 Olá storytellers! | ||
Criadores de história que não são empreendedores estão sempre em busca de (apenas) dinheiro | ||
Para quem não sabe eu presto consultoria para criadores de histórias, tanto para roteiristas quando para empreendedores que querem fazer da sua história um negócio. A “reclamação” mais comum que encontro é que não possuem contato com investidores, ou que não os recebem para um pitch, ou que não leram seu materiais. | ||
Como os criadores não conseguem dinheiro, os projetos estão parados. Exemplo disso é a paralisação da Ancine e quantidade de projetos parados. | ||
A crença entre os criadores de história de que eles já possuem tudo que precisam, mas só falta o dinheiro, é na verdade uma evidência nítida de que não falta apenas dinheiro. Faltam outras coisas. | ||
A crença de que o que falta é (apenas) dinheiro, é muito forte pois ela passa a ilusão de que com dinheiro fica fácil contratar o time dos sonhos, resolver a produção a pós produção, resolver a distribuição e que está tudo certo. | ||
Acontece que existe um abismo gigantesco entre a crença e a realidade. | ||
Quem já passou pelo processo de criar histórias que viram grandes negócios, sabe que o dinheiro é consequência de um processo que se extende por muito tempo, e não o final do processo. | ||
Criadores de histórias que são empreendedores estão sempre fazendo mais dinheiro | ||
Já reparou que quem sempre está em busca de dinheiro e de investidor é o criador de histórias desconhecido e sofrido? Já reparou que o criador de histórias que é empreendedor, realizador, famoso, quase nunca tem problemas com conseguir investimento? | ||
Pode parecer obvio, mas não é. Pois a maioria não entende que as histórias de insucesso são mudas. Ninguém fala sobre elas. | ||
Muitas das pessoas tidas como "bem sucedidas" hoje são pessoas que se tornaram bem sucedidas após uma série de perrengues. É fácil dizer que agora eles são bilionários e não precisam pedir dinheiro para criar suas histórias, que são pessoas privilegiadas. Muitos artistas bem-sucedidos que viraram empreendedores famosos, nos seus primeiros dias de carreira, quando ainda eram desconhecidos, fizeram algo excepcional sem precisar do dinheiro dos outros: | ||
“Todos eles fizeram dinheiro, acreditando na sua arte, na sua essência, no seu propósito, quando ninguém apostou neles.” | ||
Nas primeiras experiências criando histórias, eles não fizeram dinheiro suficiente para nunca mais trabalharem, mas fizeram o suficiente para provar que eles eram capazes de fazer muito mais se tivessem a oportunidade. | ||
Ao receberem a oportunidade de investidores, eles aproveitaram e fizeram muito mais dinheiro. O ciclo virtuoso só aconteceu depois que eles passaram pela primeira barreira sozinhos. | ||
Sylvester Stallone e Quentin Tarantino são dois exemplos de pessoas que não eram ninguém no começo da carreira. Veja: | ||
SYLVESTER STALLONE | ||
Sylvester Stallone queria ser o protagonista da própria história que ele mesmo escreveu (Rocky 1). | ||
Ninguém quis produzir o filme sob essa condição de colocar um desconhecido como protagonista, afinal filmes com super astros aumentam a chance de o filme dar retorno. | ||
Ele chegou a recusar vender por US$ 300 mil os direitos (na fase de roteiro) de Rocky para poder estrelar como protagonista. | ||
O mais impressionate é que ele abriu mão de US$ 300 mil enquanto ele tinha apenas US$ 106,00 na conta bancária. | ||
Durante um longo processo de captação de dinheiro, tudo que ele conseguiu foram US$ 960 mil dólares (considerado low budget nos EUA), levantados com alguns produtores locais. Ele fez Rocky 1 e obteve apenas de bilheteria a arrecadação de US$ 225 milhões! | ||
Com o primeiro sucesso, ele emplacou novos sucessos, com mais budget. Veja abaixo: | ||
Ps: ROI = retorno sobre o investimento (em vezes) | ||
(valores em US$) | ||
Ano Nome Boxoffice Budget ROI | ||
1976 Rocky 1 225.000.000,00 960.000,00 234,38 | ||
1979 Rocky 2 200.000.000,00 7.000.000,00 28,57 | ||
1982 Rocky 3 270.000.000,00 17.000.000,00 15,88 | ||
1985 Rocky 4 300.400.000,00 28.000.000,00 10,73 | ||
1990 Rocky 5 119.900.000,00 42.000.000,00 2,85 | ||
2006 Rocky Balboa 155.700.000,00 24.000.000,00 6,49 | ||
2015 Creed 1 173.500.000,00 35.000.000,00 4,96 | ||
2018 Creed 2 212.700.000,00 50.000.000,00 4,25 | ||
TOTAL 1.657.200.000,00 203.960.000,00 8,13 | ||
Ou seja, o empreendedor e criador de histórias, Sylvester Stallone, foi capaz de gerar US$ 1,6 Bilhão de receita com um budget de US$ 204 milhões. Ele retornou o investimento em 08 vezes apenas com bilheteria! | ||
Pausa para um comentário: | ||
Reparem como os retornos foram ficando cada vez menores. Isso é um outro papo, para outra newsletter, mas quando o protagonista é uni facetado, quando a história não é boa o suficiente para sustentar muitas sequências, quando não existe surpresa e profundidade a cada filme, a audiência percebe, se chateia e deixa de comprar. | ||
Voltando. Esse exemplo nos mostra como ele foi forte o suficiente para não desviar o seu objetivo, que estava alinhado com sua essência. Isso foi o fator de sucesso dele. | ||
QUENTIN TARANTINO | ||
Já Quentin Tarantino escreveu e vendeu 02 roteiros antes de dirigir seu primeiro filme. True Romance (Tony Scott) e Assassinos por Natureza (Oliver Stone) para conseguir dinheiro suficiente para dirigir seu primeiro filme, Cães de Aluguel, com US$ 1,2 milhões. | ||
É sabido que Tarantino sempre foi muito aficionado por filmes de faroeste, mas o que poucas pessoas falam é sobre sua mentalidade de produzir filmes de baixo custo muito motivada pela sua carreira começando "de baixo" e por sua filosofia de como produzir filmes. Sua parceria do Robert Rodriguez, cineasta americano famoso pelos filmes de faroeste de baixo custo, provam isso e provam como Tarantino estava em busca de trabalhar com algo que ele realmente ama. ele não perdeu o foco do seu estilo, das suas referências, criando projetos originais que viraram sua marca registrada. | ||
Com o sucesso de Cães de Aluguel, ele foi capaz de produzir Pulp Fiction, ainda com budget baixo, de filmes independentes, US$ 8 milhões. Sim, nos Estados Unidos, Pulp Fiction é considerado um filme Independente. | ||
Com o sucesso de Pulp Fiction, vencendo o Oscar e a Palma de Ouro, ele poderia produzir praticamente o que quisesse, com quem quisesse, com quanto custasse. No entanto, optou por um não se desvirtuar de sua essência e modus operandi. Para sua próxima produção, ele decidiu aumentar um pouco o budget para US$ 12 milhões e produzir Jackie Brown. | ||
Então, em uma escalada bem consciente de budget, ele foi produzindo seus próximos filmes. Veja abaixo 10 filmes que ele dirigiu e/ou produziu, e/ou escreveu: | ||
Ps: ROI = retorno sobre o investimento (em vezes) | ||
(valores em US$) | ||
Ano Nome Boxoffice Budget ROI | ||
1992 Reservor Dogs 2.859.750,00 1.200.000,00 2,38 | ||
1994 Pulp Fiction 214.179.088,00 8.000.000,00 26,77 | ||
1997 Jackie Brown 39.673.162,00 12.000.000,00 3,31 | ||
2003 Kill Bill 1 180.899.045,00 30.000.000,00 6,03 | ||
2004 Kill Bill 2 152.159.461,00 30.000.000,00 5,07 | ||
2007 Death Proof 31.126.421,00 30.000.000,00 1,04 | ||
2009 Inglorious Bastards 321.455.689,00 75.000.000,00 4,29 | ||
2012 Django 425.368.238,00 100.000.000,00 4,25 | ||
2015 The Hateful Eight 155.760.117,00 62.000.000,00 2,51 | ||
2019 Once upon a time in Hollywood 371.980.270,00 90.000.000,00 4,13 | ||
TOTAL 1.895.461.241,00 438.200.000,00 4,33 | ||
Ou seja, o empreendedor e criador de histórias, Quentin Tarantino, foi capaz de gerar US$ 1,9 Bilhão de receita com um budget de US$ 438 milhões. Ele retornou o investimento em 04 vezes apenas com bilheteria! | ||
Pausa para um comentário: | ||
Repare como o Death Proof, no meio da carreira, foi um projeto que quase não trouxe o retorno sobre o investimento. Repare como em seguida ele emplacou 04 filmes, sendo 03 deles os de maior sucesso de sua carreira. Essa capacidade de se reerguer depois de um tombo é genial e fantástica em empreendedores fora da curva. Estou especulando, mas provavelmente entre 2005 e 2008 (04 anos) ele deve ter passado por uma grande pressão do mercado, onde ele deve ter sido colocado em xeque pela mídia, ter duvidado de sí, e teria tudo para ter inclinado sua carreira para ladeira abaixo. | ||
Então, quando criadores de história se tornam empreendedores? | ||
São muitos exemplos de profissionais da indústria do cinema que fizeram loucuras, passaram por perrengues, e que hoje são reconhecidos como gênios. Steve Jobs e Ed Catmul da Pixar, bem como George Luccas e Jason Blum foram pessoas que desafiaram a forma "tradicional" de se fazer filme, tanto com histórias originais quanto com invação de formato, tecnologia, forma, processos, enfim. | ||
Se você está buscando respostas sobre qual o seu papel como criador de histórias que quer viabilizar suas produções, lembre-se: | ||
Criadores de histórias se tornam empreendedores quando eles não são submissos às regras. | ||
Com esses dois exemplos (Stallone e Tarantino), fica claro que eles não eram movidos pelo dinheiro. Eles não queriam provar nada para alguém. Eles queriam viver o seu sonho, queriam estar alinhados com sua essência, com suas convicções, com seu propósito e contar histórias que eles carregavam dentro de si. Pelo menos os primeiros filmes, foram assim. Na raça e na coragem. | ||
O problema não é ir em busca do dinheiro. Isso todo mundo precisará para produzir suas histórias, mas antes disso, você, como criador de histórias, precisa estar alinhado com quem você é. | ||
Isso é o que te dará a motivação necessária para mobilizar equipes, refinar roteiro, conseguir investidores, produzir e pós produzir com alta qualidade, com todo carinho e cuidado do mundo, vender sua história para o mundo, enfim... as histórias que você carrega saíram da sua alma, da sua essência... e isso deveria ser a coisa que mais importa para você. | ||
Quando você entende isso, é nesse momento que o criador de histórias vira um empreendedor. | ||
To be continued... | ||
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Rodrigo Portaro é Fundador da Academia da Trama que cria soluções para criadores de histórias do mundo do entretenimento a pensarem suas histórias como negócios. Rodrigo também é sócio conselheiro da The Plot Company que teve Joni Galvão e Robert Mckee como sócio (o cara que ajudou a Pixar a escrever Toy Story e mais de 60 alunos a vencer o Oscar). |