Wolf
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Minha desgraça. Minha solidão. Meu sofrimento. Meu Renascer. Minha Alvorada.

Alexandre Brandes
4 min
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                Chuva... Agora até os céus choram pela minha desgraça. Ao longe, a luz das labaredas que incendeiam o que sobrou da minha casa. Fui morto naquele ataque tão repentino que ninguém esperava, nem mesmo o meu pai. Meu corpo se move, mas minha alma foi destruída, pois cada detalhe ficou gravado em minha memória.

                Minha irmã, tão linda e cheia de vida, se tornou prisioneira deles. Homens cruéis que não tem respeito por ninguém, nem por eles mesmos. Um deles pegou uma peça de roupa, mas outro também queria a mesma peça de roupa sendo que tinha outras tantas iguais. Um deles sacou o revólver e atirou no outro. Não eram homens, eram monstros sedentos de sangue.

                Meu pai foi assassinado a sangue frio na minha frente e a minha mãe fora estuprada enquanto implorava misericórdia. Um dos monstros se interessou pela minha irmã e a levou como prêmio pelo ataque bem sucedido. Era o líder. Eu sabia, não sabia como, que era o líder daquele grupo. Era ele quem eu iria matar.

                Meu desejo por vingança foi forte o suficiente para me libertar dos meus sequestradores e fugir para a mata fechada, mas não fui seguido. Uma criança normal não sobreviveria nessa selva que possuía predadores de todos os tipos. Uma criança normal, não eu. Eu, nem de longe, era uma criança normal, pelo contrário, eu era o que chamam de selvagem. Em meu sangue, corria o espirito de liberdade dos lobos.

                Meu nome deixou de ser importante no momento em que fui considerado prisioneiro. Apenas uso o apelido que me deram quando era mais novo... Wolf. Ninguém esperava que o menino que um dia fora chamado de lobo, se tornaria um deles mesmo. Eu rejeitei todos os costumes que antes eram comuns para mim. Me tornei selvagem de corpo e alma.

                Os lobos me acolheram como um deles e logo me habituei ao estilo de vida deles, sem sentir falta do que um dia era comum para mim. A única coisa que ainda me ligava ao mundo civilizado era o desejo de vingança. O único motivo, a única razão... Que a cada dia se tornavam cada vez mais distantes. Uma distância, que desisti de encurtar a muito tempo...

                Desisti de encurtar a distância entre mim e a vingança, pois a minha nova família se tornou mais importante. Encontrei a felicidade com a minha parceira, a loba que eu chamo de Lua. Eu sabia que não poderíamos ter filhotes e ela também entendia, mas éramos felizes mesmo assim. De tempos em tempos, visito o que um dia fora a minha casa. Foi em uma dessas visitas que eu reencontrei a minha irmã. Estávamos irreconhecíveis, tanto um quanto outro, mas algo dizia quem nós éramos.

                Ela acabou se casando a força com o monstro que a sequestrou e tinha dois filhos com ele, mas ele tinha sido morto num confronto com a polícia, quatro anos antes. Tinha perdido a fala, mas ainda podia escrever. E foi com isso que eu expliquei a minha vida até agora, mesmo ela não acreditando em metade do que escrevi. Continuamos nos encontrando nos meses que se seguiram, mas estava claro que a distância entre nós estava crescendo e logo deixamos de nos encontrar.

                Vivi o resto de minha vida ao lado de Lua. Adoeci de uma doença que não sabia o nome e nem a cura. Lua ficou comigo durante todo esse tempo, mesmo que isso significasse se separar da matilha. A morte não tardou a vir para mim e Lua também acabou adoecendo e morreu poucas semanas depois.

                Nossa vida foi teoricamente curta, pois faleci com apenas vinte anos. Uma vida curta, mas ainda assim, uma vida inteira.