A ilusão do novo normal num mundo pós-Queda
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A ilusão do novo normal num mundo pós-Queda

Estamos avançando para o segundo ano de pandemia e diante do aumento vertiginoso de contaminações e mortes o horizonte de esperança, alimentado há alguns meses, parece estar ficando cada vez mais longe.

Jamil Filho
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Estamos avançando para o segundo ano de pandemia e diante do aumento vertiginoso de contaminações e mortes o horizonte de esperança, alimentado há alguns meses, parece estar ficando cada vez mais longe.

Aos poucos a luz no fim do túnel vai sendo ofuscada por uma densa nuvem de incertezas. Já não sabemos ao certo o que nos aguarda.

Assim como um marinheiro se agarra firme à mísera fagulha de esperança de se assentar na mesa para mais um jantar em família e, com essa força, vence o mais terrível dos mares a as tempestades de gelar a espinha, assim temos nos esforçado para permanecer de pé nessa que, sem sombra de dúvidas, já é uma das maiores adversidades humanas deste século.

No entanto, após um ano de pandemia não me resta dúvidas de que estamos olhando esperançosos para o horizonte a partir de uma lente distorcida.

Claro que, longe de ser um arauto da verdade, meu objetivo aqui é não é apresentar a “solução mágica” para todos os problemas ou ainda explicar com grande precisão cada detalhe e nuance de nossa realidade. Pelo contrário, pretendo nos conduzir à reflexão acerca de como temos respondido ao cenário pandêmico e em que temos depositado nossas esperanças[1].

Talvez não seja um artigo tão objetivo quanto gostaria, mas será um prazer se você se juntar a mim nesta reflexão. Lembrando que seus comentários são sempre bem-vindos, boa leitura.

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Ele a dominará

Qualquer análise da realidade seria uma péssima análise se não considerarmos a maior de todas as catástrofes humana: a Queda no Éden.


… Seu desejo será para seu marido, e ele a dominará

A maldição proferida por Deus nos versículos 14 ao 19 soam bem estranho aos nossos ouvidos, principalmente se lemos o texto de Gênesis a partir de lentes ideológicas modernas.

No entanto, como resultado direto da Queda, Deus declara que a relação entre homem e mulher não seria mais definida a partir da imagem dEle gravada em cada criatura, mas a partir dos anseios deturpados do coração humano.

Antes de cair Adão adora a Deus por lhe entregar Eva como companheira, mas agora que sua mente foi corrompida pelo pecado ao invés de assumir sua responsabilidade de cuidar e responder pelo Jardim ele acusa ambos por sua transgressão. Após a Queda ele se tornou apenas uma fração do homem que deveria ser, não protegeu o Jardim, não guardou Eva e não se arrependeu assumindo sua culpa.

Agora, não tendo mais o Criador como legislador e balizador da relação homem/mulher, este (o homem) passa tratar aquela que deveria estar sobre seus cuidados e sua proteção, como propriedade, dominando-a conforme seu coração pecaminoso.

Adão deveria proteger Eva, mas embriagado pelo pecado, e cego para a realidade de que se tivesse cumprido sua responsabilidade nada disso teria acontecido, acusa sua mulher por ter lhe entregue o fruto.

O inverso também é verdadeiro, o papel instituído por Deus à Eva corrompeu-se pelo pecado e ao longo da história, na busca por encontrar solução para a maldição provocada por Adão, outras "Evas" enveredaram-se num caminho de desintegração do projeto original de Deus acreditando encontrar na emancipação ideológica sua redenção.

E, num contexto mais amplo, todo relacionamento humano passa a ser corroído pelo pecado, pelo desejo de domínio, de opressão e de controle. Do menor dos homens até o maior todos eles, sem a Pessoa de Cristo como intermediador, se relacionam com o próximo a partir de um modelo deturpado de quem o outro é e, na mesma medida, de quem são.

Todas as injustiças sociais, todos os crimes bárbaros e toda história hedionda tem em seu âmago não apenas a depravação do coração humano em imaginar todo tipo de barbaridade contra seu semelhante, mas também (e principalmente) a incompreensão de que a imagem do Criador ainda está gravada em Sua criatura, mesmo que distorcida pela corrupção humana.

Retire a sacralidade da vida e abrimos caminho para a mente humana imaginar as piores ideações contra o próximo e, nesse caminho de barbaridade, encontramos não apenas histórias de antigos rituais religiosos, como também diversos "direitos" modernos.

Talvez você não seja um serial killer, um pedófilo ou um contrabandista de imigrantes, mas sem a autoridade de Cristo sobre sua vontade e a renovação de sua mente pelo Espírito Santo ainda se relacionará com o próximo a partir de seu coração caído e a história humana e bíblica nos revela que isso nunca acaba bem[2].

Maldita é a terra

…e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra.


Podemos nos entreter especulando como seria a humanidade se nunca tivéssemos saído do jardim. No entanto, uma vez que os fatos já estão consolidados, não é de nosso interesse pensar "o que seria se", mas olhar o que é.

… maldita é a terra por causa de ti.

A Queda de Adão não apenas o separou de Deus e corrompeu sua descendência, mas também provocou uma degradação que se espalhou por todas das esferas deste Universo.

Pelo pecado do homem a terra se tornou maldita e a bênção do governo, concedido por Deus, sobre os recursos naturais e os animais do campo agora se tornou uma tirania sanguinária. Não apenas deixamos de nos relacionar com Deus e com nosso próximo da maneira correta, mas também nos relacionamos com o nosso planeta de forma terrivelmente equivocada.

Olhe para os últimos três séculos, nunca em toda a história humana nos desenvolvemos tanto em termos tecnológicos, econômicos e sociais, mas na mesma proporção, nunca destruímos tanto o planeta e nunca sacrificamos tantas vidas nesse processo[3].

A bênção de colher dos frutos produzidos pela terra em perfeita harmonia com o propósito de Deus agora é só uma nostálgica lembrança. Em nossa ânsia por mais poder, mais controle e mais glória torcemos a natureza até que ela nos entregue a última gota de seus recursos.

Separado da vontade de Deus, o homem caído amaldiçoa a terra onde pisa, pois se relaciona com ela a partir de seus propósitos pecaminosos, a detém não como um dom a ser administrado, mas como um produto a ser usado em seu próprio deleite.

Já não é mais Deus quem determina o modelo de moralidade e ética, afinal já comemos da árvore do conhecimento do bem e do mal, já determinamos o que queremos ou não fazer sem consultarmos a Ele.

E na ânsia de tentar legislar nossa própria moralidade sem Cristo, amaldiçoamos tudo o que fazemos e produzimos. Nossos objetivos são pecaminosos, o deus adorado é insaciável e exige sacrifícios cada vez maiores.

As ordens de Deus para que Israel observasse o sábado e os ciclos de descanso anual da terra tinham um objetivo duplo: 1) conscientizar a mente dos hebreus de que Ele é o sustentador de todas as coisas e 2) revelar que a terra deveria ser administrada não conforme os anseios do coração caído, mas de acordo com a certeza de que se o Criador sustenta o menor dos insetos, também sustentaria cada israelita.

Longe de parecer um discurso ambientalista… Mas olhe para o mundo, para o colapso iminente da natureza e responda: quem é o culpado por tudo isso!?

Alguns (sob um olhar distorcido da realidade) responderão apontando para as ações inconsequentes de grandes conglomerados industriais, outros acusarão o sistema econômico, no entanto, o problema é um só: o pecado, e somente ele.

Aquele que nasceu para sujeitar abençoadamente as coisas, para ser aceito naturalmente como gerente da criação pelas demais criaturas e para viver em harmonia plena com elas, além de hoje ter de se impor pela força, vive sob uma terrível sujeição: tornou-se vassalo do pecado.

Apontar para elementos secundário (sistema econômico, ambições empresariais, crescimento populacional, etc.) não nos dará respostas aceitáveis.

Quando compreendemos que o pecado não se trata apenas do que fazemos ou deixamos de fazer em termos morais/éticos (pode ou não pode), mas sim a partir de qual legislador norteamos o que fazemos ou deixamos de fazer, percebemos que em toda movimentação da vontade humana sempre existirá alguma divindade sendo adorada, seja ela um falso deus ou o Deus verdadeiro[4] e toda vez que o homem adora um falso deus ele sacrifica seu próximo e deturpa o propósito dos bens concedidos por Deus.

As Escrituras Sagradas, ao tratar de pecado, faz distinção entre "pecados" e "pecado". O primeiro diz respeito às práticas (mentira, roubo, blasfêmia, etc.), já o segundo diz respeito ao estado da natureza humana que deturpa sua visão e resposta à realidade (DANIEL, 2017).

Desta forma nenhuma ideologia irá, no fim das contas, resolver os dilemas humanos, pois elas só tocam questões superficiais. O grande problema não são as expressões externas, mas o estado interno do homem e este somente Cristo é capaz de transformar.

Que "novo normal"?

Embora tal expressão seja um tanto cafona, não é de hoje que olhamos para além da espessa nuvem de incertezas esperançosos pelo "novo normal". Aguardamos ansiosos o dia em que tudo retornará como era antes.


A questão que permanece, no entanto, é: para qual "novo normal" desejamos retornar? A partir do que estabelecemos um critério para definir um retorno à normalidade? O critério será econômico, político ou social?

Perceba, porém, que indiferente do que estabelecermos como parâmetro para definir a "regularização" da realidade estaremos simplesmente assentando um fundamento sobre uma casca oca.

Assim como procurar planetas que possam abrigar os seres humanos diante de uma eventual extinção terrena é loucura, pois estamos simplesmente buscando o canto mais quentinho numa sala que inevitavelmente vai explodir, assim é assentar nossas expectativas num cenário instável que é a humanidade caída.

É consenso científico a realidade da extinção de nosso Universo. Se Deus não intervir na história o que chamamos de lar irá, uma hora ou outra, entrar em colapso e não importa se, quando o dia chegar, estaremos na Terra, em Marte ou no Planeta X, nenhum lugar será mais um lugar para nós.

Na mesma medida é consenso teológico que a humanidade está indo a passos largos para a condenação eterna, a separação definitiva da graça de Deus. E se a graça e misericórdia divinas não intervirem em nossa realidade, tanto faz se tudo voltou ao normal ou não, o inferno estará aguardando ao final de tudo.

Novamente pergunto: o que é o novo normal? O que é voltar à normalidade? Uma economia crescente às custas de mão de obra barata em países subdesenvolvidos? Uma vida tranquila e cheia de regalias às custas da dignidade humana? A liberdade de ir para onde bem entender num universo que se degrada a cada segundo? Ou a segurança de que a morte não chegará tão cedo e, por isso, posso aproveitar toda uma vida longe de Deus?

Não existe normalidade em um mundo que caminha para condenação, não existe retorno ao natural em um universo corrompido pelo pecado, pois senão estaríamos afirmando que a normalidade de nossa existência é definida pelo conjunto de princípios que regem uma vida afastada de Deus.

Aqui está a resposta para a questão.

Somente em Deus, por intermédio de Cristo, o homem retorna à normalidade de sua existência e esta não é definida pela economia, política ou sociedade, mas pela restauração da imagem do Criador através do Sacrifício do Cordeiro de Deus.

O último Adão

"O primeiro homem, Adão, se tornou ser vivo". Mas o último Adão é espírito que dá vida." - 1 Coríntios 15.45


Escrevendo à Igreja de Corinto acerca de questões relacionadas à ressurreição de Cristo e como a fé nela interfere em nossa prática cristã hoje, o Apóstolo Paulo traça um paralelo entre o Primeiro Adão e o Último Adão, ou o Segundo Adão.

Enquanto "em Adão todos morrem" por sua transgressão no Éden, aqueles que crerem "em Cristo" e em Sua obra salvífica no calvário "serão vivificados" (1 Coríntios 15.22). Enquanto Adão representa a natureza corrompida pela transgressão e pecado, Jesus representa a nova natureza restaurada por Deus.

Adão é o cabeça da humanidade caída, o representante do homem natural que avança rumo à sua própria condenação. Cristo é o cabeça e representante dos salvos pela graça que agora não vivem mais sob o império do pecado ou sob a força da Lei.

Cristo representa a nova criação, os ressuscitados pelo poder de Deus. O destino do ressurrecto é o céu, em que Cristo está agora e de onde Ele virá para reclamar "os que são de Cristo" (v. 23)

É Ele que realinha todas as esferas da vida humana, que restaura e concede sentido e valor à existência. O paralelo nos apresenta mais do que uma simples comparação, nos revela a concretização do plano de Deus: todas as coisas foram consumadas em Cristo.

Ele é a resposta para o mundo caído e somente nEle há a plena esperança de restauração de nossa realidade. Qualquer tentativa de redenção humana que não passa pelo Calvário é vã e inútil, pois ao invés de se curvar diante da Cruz se curva diante da serpente na Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal que oferece à humanidade a possibilidade de decidir seu caminho sem Deus.

Cristo não apenas restaura nossa relação com Deus, como também remove nossa antiga natureza, nos tornando nova criatura que, pelo poder do Espírito Santo, enxerga a realidade e a vida não mais a partir de pressupostos pecaminosos, mas a partir da Palavra.

E, restaurados com Deus e participantes da nova criação, nosso relacionamento com o próximo é realinhado. Não olhamos para o outro como Adão olhou para Eva ao ser confrontado pelo pecado, mas sim como Estêvão olhou para seus acusadores enquanto era apedrejado.

A fé escatológica cristã como resposta

Uma vez que toda nossa realidade foi comprometida pela Queda a solução não se encontra nela, mas em sua restauração por Aquele que torna nova todas as coisas.


E aquele que estava sentado no trono disse: 'Vejam, faço novas todas as coisas!'. Em seguida, disse: 'Escreva isto, pois o que lhe digo é digno de confiança e verdadeiro'

A esperança escatológica e a fé na promessa de Cristo, ao contrário de qualquer outra resposta à realidade pós-pandemia, é a lente pura e cristalina que nos permite enxergar não apenas um futuro onde toda a existência será restaurada, mas também que nos possibilita olhar para o presente sob a perspectiva da regeneração em Cristo Jesus.

Ele não apenas restaurará nossa existência no futuro, mas também já restaurou nossa existência agora. Não apenas restituirá nossa identidade como povo dEle quando habitar entre nós na eternidade, mas já nos tornou Seu povo hoje e, pela restauração de Sua imagem em nós "no agora", somos capacitados para cumprir a Sua vontade e nos portar corretamente neste mundo.

Essa fé que aponta para o futuro que se aproxima e que reage à realidade do hoje é a resposta para a pergunta "que novo normal?". Ela não negocia o valor da vida humana, não oprime a alma cativa, não é subornada e não se inclina aos reis do mundo em submissão religiosa, pois esta fé não provém deste mundo, mas dAquele que é sobre todos e, que em Sua majestade e soberania, jura por si mesmo.

Somente na esperança em Cristo e em Sua promessa encontramos o firme fundamento para enfrentar a realidade da vida, atravessar o mar bravio e, do outro lado, se assentar à mesa do Rei Vitorioso. A resposta não se encontra do lado de cá da eternidade, em suas ideologias e torres de Babel, mas no véu que se rasgou unindo, pela fé em Cristo, a criatura ao Seu Criador.


Notas/Observações

[1] Como nunca antes, a pandemia me fez refletir sobre a esperança cristã. Afinal, se tudo deixará de existir, não faz muito sentido refletir sobre qualquer tipo de esperança que não seja naquela que provém do próprio Jesus.

Muitas vezes falamos sobre a esperança eterna, sobre a fé na promessa de que Cristo retornará e sujeitará todas as coisas ao Seu governo, mas percebi que há um grande abismo entre entendimento e conhecimento.

Enquanto que o entendimento caminha por níveis superficiais, pela compreensão intelectual, o conhecimento necessita de tempo e, no caso em questão, de relacionamento.

Posso até entender tudo sobre esperança cristã, mas se não conhecer o Deus da esperança, aquilo que sei estará limitado apenas ao meu intelecto e, diante da dura realidade da vida, não produzirá frutos necessários.

[2] Sem Cristo nenhuma ideologia, por mais bela e atraente que possa ser, não passa de um bezerro de ouro que não se move e não ajuda o ser humano em sua redenção.

[3] Apenas para ilustrar a gravidade da situação e para percebermos que as catástrofes naturais, o desequilíbrio do planeta e a instabilidade social que vemos hoje são, na pior das hipóteses, apenas o início de uma espiral descendente:

  • Há 300 anos, em 1760, iniciava a Revolução Industrial, movida por uma matriz energética altamente poluente. Desequilibramos terrivelmente a natureza de lá pra cá ao jogar na atmosfera toneladas de poluentes de forma inconsequente.
  • Há 100 anos, início de 1900, o plástico moderno era criado iniciando um era ímpar na história. Não apenas fomos capazes de produzir em massa dezenas de milhares de produtos por uma fração do preço, como também inundamos rios, lagos e oceanos com esse material que dura séculos na natureza.
  • Há 76 anos, no dia 16 de julho de 1945, era inaugurada a Era Atômica com a explosão da primeira bomba nuclear no deserto de Alamogordo, Novo México. Desde então centenas de milhares de hectares de terra e mar foram contaminados com as dezenas de testes nucleares e acidentes como o de Chernobyl, Fukushima e até mesmo o de Goiânia.
  • Há 25 anos, na virada do milênio, acontecia o boom da internet. O ritmo até então pacato de vida foi drasticamente modificado por uma frenética e incansável atualização de mais e mais informação.
  • Há 16 anos outro boom tecnológico modificou, para sempre, nosso estilo de vida. A explosão das redes sociais. E o que era pra ser uma ferramenta de aproximação e interação logo percebemos que se tornou um espaço de polarização ideológica e, em muitos casos, de manipulação das massas.
  • Há 13 anos fomos apresentados à primeira geração do iPhone. Não imaginávamos que estávamos diante de outra revolução que mudou a indústria tecnológica. Agora passamos a estar conectados praticamente 24 horas por dia graças ao conceito de smartphone popularizado pela Apple.
  • Há 10 anos o primeiro site de streaming pornográfico tomava forma colocando, à um clique de distância, conteúdo que hoje sabemos ser terrivelmente prejudicial em níveis sociais, psicológicos e neurológicos. O que até então custava algum tipo de "preço" e sacrifício para ser consumido, agora está à distância de apenas alguns toques.

Ou seja, grande parte dos problemas ambientais, sociais e psicológicos que enfrentamos hoje são frutos de eventos recentes. E estamos apenas começando a ver os primeiros resultados.

Pense, por exemplo, no plástico que foi desenvolvido entre 1846 e 1907. E, embora seu tempo de decomposição pareça incerto, ele não desaparece em menos de 400/500 anos na natureza. Agora utilize a mesma lógica e reflita acerca dos problemas que são provocados pela indústria pornográfica, pela polarização das redes, pela descarga de informação constante na internet e nos meios de comunicação.

Qual será o cenário nos próximos 10/20 anos? Acrescente ainda toda a instabilidade geopolítica internacional e terá um futuro não muito animador.

[4] O evangelicalismo brasileiro (e talvez muitos incrédulos) olha para o pecado primariamente sob a ótica moral/sexual ou, na grande maioria dos casos, se limita a discutir questões de "pode ou não pode". Mas tal compreensão é uma dedução muito simplista acerca da natureza do pecado.

Não penso que o famoso jargão: "pecado é errar o alvo", expresse com precisão o estado humano provocado pela Queda. Não se trata apenas de errar o alvo, mas também (e principalmente) da motivação que levou a disparar a flecha.

Tudo o que fazemos pode ser feito em pecado se não o fizermos para a glória de Deus e tudo o que deixamos de fazer pode ser pecado se o fizermos para nossa própria glória.

As motivações podem ser variadas, mas o combustível que as alimenta é que determina qual é a sua natureza. Não é simplesmente fazer ou não fazer, mas porque tal ação foi tomada ou não.

Neste sentido um idólatra não é simplesmente aquele que se curva diante de uma imagem, mas sim quem estabelece os princípios morais de sua vida a partir de padrões de um falso deus (MARTINS, 2020). Não importa se um planeta é perfeito em sua trajetória, se ele orbita um buraco negro hora ou outra será engolido por ele. Da mesma forma é o homem que não estabelece sua existência em Deus.

Bibliografia

DANIEL, Silas. Arminianismo, a mecânica da salvação: Uma exposição histórica, doutrinária e exegética sobre a graça de Deus e a responsabilidade humana. 2 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

HARRISON, Everett F. Comentário Bíblico Moody: volume 2. Organizado por Mark A. Swedberg. Tradução de Yolanda M. Krievin. 2 ed. São Paulo: Batista Regular do Brasil, 2017.

MARTINS, Yago. No alvorecer dos deuses: desvendando as idolatrias profundas do coração. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020.

ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. Tradução Lena Aranha. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.