Colcha de Retalhos
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Colcha de Retalhos

Se desejo, não há desejo, há lascívia. Quando perdoou, não há perdão, há expiação total, à maneira de um sacerdote. Quando desgosto, não mato; apago em passadopresenteefuturo, jamais exististes. Essas palavras não são puras, minha casa é cinza, algo

Gisele Lance
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Não gosto, fico obcecada. Entres, o amor em mim é monolito de extensão infinita. Não choro, desaguo. Não entres, o solo aqui ora brota arbusto ardente que não se consome, ora é subsolo doentio, maligno e repulsivo.

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Se desejo, não há desejo, há lascívia. Quando perdoou, não há perdão, há expiação total, à maneira de um sacerdote. Quando desgosto, não mato; apago em passadopresenteefuturo, jamais exististes. Essas palavras não são puras, minha casa é cinza, algo entre Hillé e Dom Quixote.

Não ouço, finco olhos, cérebro e coração no tema. Não julgo pura e simplesmente, porque temo ser julgada. Escrevo versos livres enquanto aspiro dois quartetos e dois tercetos num poema.  

Sou de José Dias, banho quentíssimo, bebida geladíssima. Sou de mil rosas roubadas, de orelha cortada, sou daquele ‘canto torto feito faca que corta a carne de vocês’. Sou fuga pra Társis e ordem número 227 a se alternar no mesmo ser, e às vezes tudo ao mesmo tempo.

Ah, o tempo. O tempo em mim é, quando, e o sentimento é, todo do mundo. Sou colcha de retalhos. Opa, lembrei de um samba, Retalhos...

Sou assim, um punhado de todos num bocado de mim.