Conto: O Diário (Parte IV)
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Conto: O Diário (Parte IV)

...'vi o próprio sol que se trajava em criatura', e ele atendia por nome de Juliana, como vim a saber depois.

Gisele Lance
3 min
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...'vi o próprio sol que se trajava em criatura', e ele atendia por nome de Juliana, como vim a saber depois.

Ao constatar tal beleza reluzente, a tarde se coloriu e um sentimento ainda sem nome, entrou porta à dentro no meu coração, chegou com ares de autoridade, embargando traumas, intimidando medos e decretando o fim do luto.

No mesmo dia iniciei a leitura da derradeira indicação de Sr. Edgar.

Acabo de correr os olhos no calendário e constatar que este último fato, completa hoje um ano. Um ano em meio à beleza enlouquecedora de Juliana e Nastácia Filíppovna!

Salvador, vinte e nove de abril de 2015

A temperatura está por volta de 27°. De quando em vez, abro a catraca e troco meia dúzia de palavras com algum entregador, prestador de serviço, ou morador do prédio.

Ontem, não voltei a tempo de vê-la descer a laderinha, um problema na vela de ignição atrasou-me por quase três horas.

A desolação foi tamanha que desprezei o abará recém feito, dei dois goles numa xícara de café morno e deitei-me para dormir.

Sono não tinha, também pudera, com tanta desolação e cafeína! Mas é certo que viria. Nunca me faltara, nem nas piores tormentas.

Como diz aquele ditado sobre Deus, "tarda, mas não falha"? 

O sono estava à caminho, mas a velejo bem lento e enquanto não chegava, fechei os olhos...

Ah, lá vem ela... O vento bate em seus cabelos deixando exposto o rosto que não é outra coisa, senão um reino!

O olhar, rei imponente. As narinas, chefe do exército, vivaz e exuberante. O sorriso,  o próprio exército, agudo, sagaz. Os arredores, queixo, bochechas e testa, são os súditos contemplativos e satisfeitos do reino da beleza.

O trocar de passos deixa em evidencia as curvas de seu corpo; o rio que corre em torno do reino, poderoso e sereno, inexpugnável e doce.

_ Se tivesse chegado à tempo de vê-la descer, tal imagem sublime ganharia contornos mais reais, se tão somente tivesse chegado a tempo...

Quando enfim o sono chegou, o desconsolo de não vê-la se encarregou de deixá-lo agitado. Imagens desconexas, criaturas místicas intrigantes, luzes cintilantes, flores dançantes, e ela...

Mencionei-a por último, mas sua importância nos filmes dos meus sonhos é sem dúvida alguma, suprema. Ela é sempre a protagonista, o enredo, o roteiro, a trilha, a fotografia... Tudo mais é secundário.

Um paradoxo

Hoje pela manhã cheguei à página 589 do livro na releitura. Constatar o montante de páginas lidas, trouxe-me uma espécie de "cura momentânea".

Como pode ser cura momentânea? 

Continua...

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