Receita de Homem- A revanche
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Receita de Homem- A revanche

Numa revanche do texto de Vinícius de Moraes (Receita de mulher)

Gisele Lance
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Numa revanche do texto de Vinícius de Moraes (Receita de mulher):

Homem Vitruviano - Leonardo da Vinci (1452 - 1519)  
Homem Vitruviano - Leonardo da Vinci (1452 - 1519)  

 Os muito baixos que me perdoem, mas altura é fundamental, 1,80m é o mínimo para um homem.

É preciso que haja qualquer coisa de mármore em tudo isso. Qualquer coisa de bélico, qualquer coisa de legionário.

Em tudo isso, (que o homem se porta com a potência e potência de um frísio) não há meio termo possível, é preciso que seja forte.

É preciso que perene, na presença de um homem tenha-se a impressão de ser protegida por asas. Amplas como as asas de uma águia. Das águias, além da majestade protetora aprenda a enxergar, aprenda a perspicácia.

Que as mãos adquiriram de vez em quando, um calor encontrado apenas ao sol do meio dia.

É preciso que tudo isso seja, enfaticamente seja, que nunca titubei. E que irrompa no olhar das mulheres como uma batalha anunciada.

É preciso, é absolutamente preciso que seja forte e seguro.

É preciso que olhos cerrados lembrem um ardil de Ulisses.

Que se acaricie nos braços alguma coisa além de músculo. Que o toque seja suave e ao mesmo tempo incisivo, como âncora no chão do mar.

Ah, deixe-me dizer vocês novamente que é preciso que o homem que ali está, como arqueiro a mirar no alvo, seja forte e tenha pelo menos um rosto que lembre-se de um astro.

Que seja coordenado e resistente como um esgrimista. Que tenham olhos que embora pequenos, sejam grandiosos.

Glúteos redondos ovalados e centralizados de modo a formar uma concavidade na lateral da perna, na região do quadril. Nádegas não são tão importantes num homem. É importante que não as tenha em excesso. Importantíssimo.

Uma boca quase febril é de extrema pertinência.

É preciso que as extremidades sejam grossas, antebraços, punhos, canelas. Que músculos saltem, sobretudo, deltóides, peitoral e oblíquo, numa geometria de um triângulo invertido. Ou pelo menos que tenha peitoral e bíceps notáveis.

Gravíssimo é o problema do pescoço: um homem com pescoço fino, ou soterrado é como estar morrendo de sede num deserto escaldante e ter apenas um pote de ouro. O pescoço com longitude e espessura corretas, indispensável.

Se houver barriga, escondendo os oblíquos já mencionados, que seja uma hipótese de barriga.

Que suas pernas sejam como colunas greco-romanas. Que adutores sejam capazes de quebrar a dureza da casca de cinco nós.

Sobremodo pertinaz é ter pelos. Os pelos devem se fazer presentes no corpo do homem. 

 Não é preciso que tenha barba, a ausência de pelos no rosto deixa em evidência o contorno do queixo e do maxilar, partes extremamente desejáveis . Um homem com queixo bem feito, provoca instantaneamente numa mulher, uma consequente perda do decoro.

Se houver barba, que seja cheia, vistosa, que ao olhar seja rústica, com alguns pelos revoltos e arruaceiros, mas que ao toque seja macia, quase fraterna.

Que a pele seja firme, mas sensível ao toque, ao hálito, à saliva, aos dentes. Não somente que seja sensível, mas que clame por tais.

É preferível na axila que haja pelos, porém aparados e secos. Não que umidade seja sempre um problema. Não é. Transpiração, suor são inevitáveis ​​e por vezes, aprazíveis.

Que o nariz seja grande, não grande no contexto do rosto de modo a chamar muita atenção, mas que em hipótese algum seja pequeno, afilado e arrebitado.

Pés e mãos devem ser grandes. Não podendo ser discretos, frios e úmidos.

A 37,8 graus centígrados deve ser a temperatura corporal.

Que os olhos às vezes sejam tímidos, acompanhado de um sorriso bobo diante da exuberância de uma mulher, mas em nenhum momento inseguros, que em pouco tempo recobre o controle e, olhando fixamente dentro dos olhos da mulher, sustente tempo suficiente para surgir o constrangimento do silêncio a ser quebrado ou por uma piada inteligente ou por um beijo.

Que tenha olhos atentos a tudo, olhos sentinelas. "Mulheres e crianças podem ser descuidadas, homens jamais".

Ah, que o homem ao caminhar, ao dirigir, dê sempre a impressão de que sabe ao certo onde está indo e que o faça quase sempre com uma certa urgência. Que ele venha, não surja; que ele vá, não parta.

Que possuía uma capacidade de explicar e nos fazer beber o mel e o fel dos fatos. Que saiba bater, com a verdade, com os fatos e com as mãos, quando preciso for.

Que ressoe sempre uma voz impossível.

Um timbre marcante, bonito, um articular quase perfeito. A voz é de extrema importância num homem, não podendo ser fina demais, nem juvenil. Que haja qualquer coisa de peculiar, um vestígio de sotaque, um tempo Joaogilbertiano, ou um permanente grave matutino...

Oh, sobretudo que ele não perca nunca, não importa em que mundo, não importando em que circunstâncias, a sua infinita coragem. Ainda que seja a coragem de admitir o medo e o fracasso. Coragem de um guerreiro, coragem de um monge.

Que o homem cultive sempre o porte e as características de um cavaleiro. A coragem e a honra em sua incalculável imperfeição, constitui a coisa mais bela e mais perfeita de toda criação inumerável.

Gisele Lance em Crônicas de Segunda.