O Gestor de Informação
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O Gestor de Informação

#0018: Chame como quiser: analista, gerente, diretor ou mesmo um Chief Information Officer, está na hora de retirar a tecnologia dos cargos e focar naquilo que importa quando falamos de adoção de tecnologia no mercado AEC.

Tiago Ricotta
10 min
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#0018: Chame como quiser: analista, gerente, diretor ou mesmo um Chief Information Officer, está na hora de retirar a tecnologia dos cargos e focar naquilo que importa quando falamos de adoção de tecnologia no mercado AEC.

Abaixo o BIM Manager (1/7)

Gstor de informações é mais próximo do negócio do que o "cara do BIM"
Gstor de informações é mais próximo do negócio do que o "cara do BIM"

Em uma semana repleta de reuniões e discussões com agentes do mercado uma coisa me chamou muita a atenção no quesito adoção de tecnologia por parte dos mais diferentes tipos de empresas: a falta de organização em relação a gestão da informação.

Todo mundo pensa, quer, espera investir em uma tecnologia e acredita que após despejar o dinheiro para os desenvolvedores tudo esta resolvido, mas na verdade a partir do momento que você adota uma tecnologia você vai ter que manter aquilo dentro da sua estrutura e isso irá requerer um responsável que não poderá ser alguém escolhido por conveniência.

O que quero dizer por conveniência? Geralmente o que ocorre nas empresas é escolher os líderes de implantação por cargo ou por liderança da estrutura que irá utilizar o que esta sendo contratado ou desenvolvido quando na verdade o responsável deveria ser escolhido pelo grau de afinidade ou conhecimento entre os mundos de arquitetura & engenharia com a tecnologia.

Contudo, de nada adianta escolher o profissional que melhor se encaixa entre os dois mundos se este não tem autonomia para decidir quais os caminhos ou decisões devem ser tomadas.

Bebendo da fonte do ágil, quanto mais a estrutura da empresa for horizontal e mais diversificada forem as squads, maior será a chance de sucesso de adoção da tecnologia.

E quando falo de squad é no sentido da agilidade mesmo, a estrutura organizacional de AEC ainda é muito quebrada e departamental enquanto deveria já ter adotado modelos de composições mais heterogêneas.

Isso facilita o surgimento daquele que eu acredito que vem a ser o grande profissional dentro das empresas no presente / futuro: o gestor de informação.

Quanto mais heterogêneo forem as squads melhor será o entendimento da razão pela qual as informações devem chegar da maneira que são solicitadas e muitas vezes as pessoas percebem que o trabalho delas pode ser diminuído pela metade pela simples compreensão do trabalho alheio.

Vamos então detalhar isto.

O gestor de informação (2/7)

An idea is like a virus, resilient, highly contagious..
An idea is like a virus, resilient, highly contagious..

Independente do que vem na frente do cargo de informação, como descrito no início desta Newsletter, a mim não importa muito o título de analista, gerente, diretor e etc.. o que importa é a capacidade que o profissional tem de conseguir traduzir as necessidades de informações dos times no timing e nível de informação esperados.

Já falamos aqui algumas vezes o quão complexo a indústria AEC pode ser em relação a estas necessidades, uma vez que no mesmo dia e horário dois times diferentes precisam de uma determinada informação, mas que para um time uma simples definição de um trajeto já resolve o problema enquanto que para o outro time será necessário ter vários e vários detalhes para conseguir seguir adiante (por exemplo a especificação de um produto).

O timing é o mesmo, mas o esforço para resolver o problema dos dois times é totalmente diferente e é aí que talvez a primeira coisa para a boa eficiência das equipes seja desenhar minimamente qual é o fluxo de informação dentro da empresa, fazendo isto é possível mapear os gaps que fatalmente irão ocorrer no caminho.

Este para mim é o papel do gestor de informação: ser o profissional que está em uma reunião com um time X e consegue ter a visão holística da empresa para explanar aos seus pares e outros times o porquê é importante que a informação seja incluída naquele momento.

Sim, caro leitor, cá estou defendendo fluxos de trabalho padronizados, mas não por muito tempo, porque estes padrões não podem virar um molde de gesso, há de se ter a autonomia para modificar determinadas estruturas ou padrões de acordo com a necessidade dos empreendimentos.

Existindo este responsável ele se torna uma boa fonte de conhecimento dentro da empresa e facilita o processo de construção de pontes entre as ilhas de AEC, mas é importante destacar que todo o conhecimento deve ser registrado e difundido, pois senão você fica com o risco de dependência com este profissional e se ele se for a estrutura montada cai.

Autonomia (3/7)

Liberdade com responsabilidade
Liberdade com responsabilidade

Pela característica ainda peculiar da indústria AEC com seus feudos e departamentos nas empresas a questão de autonomia para tomada de decisão pode ser bem complexa em alguns casos.

Esta complexidade parte do fato de que muitos gestores foram treinados em modelos militares de liderança e definitivamente não tem o dom de ouvir os liderados na luta diária de solução de problemas.

Por outro lado, também pode surgir uma certa dificuldade dos times de conseguir trabalhar com esta autonomia de proposição, pois já estão habituados a seguir as ordens de quem está definindo as coisas, logo, se houver uma decisão a ser tomada entre seguir o padrão e testar algo novo a escolha óbvia será por seguir o padrão pelo simples fato deste já ser uma maior garantia de sucesso.

Por isto é importante que as empresas tenham gestores de informação em seus quadros, pois o domínio da tecnologia com o negócio dá maior segurança para que novas formas de fazer as coisas sigam adiante.

Definitivamente não basta somente planejar e achar que tudo vai dar certo e o trabalho está pronto, muito longe disso, o caminho para uma mudança de cultura passa necessariamente por erros e fracassos e entre mapa e o terreno, sempre fique com o terreno (Alô Caetano).

Erros (4/7)

Não deveria ser um problema assumir erros no processo de inovação
Não deveria ser um problema assumir erros no processo de inovação

Como falamos algumas vezes, erros e fracassos só existem se você não tirar nenhum aprendizado disso.

Até por conta desta frase motivacional de coachs das redes sociais é importante que haja o registro das lições aprendidas ao final de cada empreendimento.

São pouquíssimas as bases de conhecimento que já presenciei nas empresas de AEC ao longo do tempo, geralmente acaba virando uma página no Sharepoint com textos e mais textos com um português bem pesado para quem vai ler, 0 UX.

O bom gestor de informação consegue criar uma base de conhecimento rica de maneira a atrair o interesse das pessoas pelos mais diversos assuntos e logo em um início de um novo empreendimento alguns riscos e ações já conseguem ser mitigados com base no que foi aprendido no passado.

Existem algumas maneiras interessantes de como fazer isso, mas não pode ser teatro, só porque um diretor está na sala e pediu para participar da reunião a coisa foi bem-feita e quando estes cargos de peso saem da sala tudo volta ao normal e nada é registrado.

Este é ritual de kick-off de projeto, um momento essencial para o sucesso dos empreendimentos que muitas vezes são negligenciadas pelas empresas.

No final do dia a cultura é aquilo que acontece na empresa quando os líderes não estão vendo.

O amanhã já é o ontem (5/7)

All my troubles seemed so far away
All my troubles seemed so far away

Pela velocidade com que o desenvolvimento de soluções vem acontecendo nos últimos tempos uma grande cilada em que gestores de informação acabam caindo e uma das que mais se escuta é o famoso “mas ontem você falou para seguir desta determinada maneira” e a partir daí acontece a resistência para mudar e ter novas proposições no dia a dia de trabalho.

Nesses casos a resiliência serve para explicar que não é porque algo foi adotado ontem que amanhã será exatamente igual ao procedimento que foi escrito hoje.

Expectativa é o maior mal da humanidade e a mãe de todas as frustrações, se não for colocado a expectativa de que as coisas podem e devem mudar de um empreendimento para o outro a coisa pode azedar muito rápido.

Então, se você está em uma posição que se encaixa em uma de gestor de informação e fica responsável por fazer esta ponte entre os dois mundos de tecnologia e AEC, já coloca a expectativa em seu devido lugar para não ter problemas no futuro.

Tem uma história interessante sobre isso em que em uma semana um determinado fluxo de trabalho era impossível em hardwares antigos e na semana seguinte tudo era possível por uma simples atualização de framework do hardware.

Nessas horas há de se ter que comunicar muito bem o fato para que as pessoas mantenham a confiança naquilo que você está passando como informação e procedimento, é muito ruim a cada semana haver uma proposição diferente, mesmo que isso seja benéfico no longo prazo, no curto prazo passa a sensação de que não sabemos o que estamos fazendo.

Empowerment (6/7)

Diante de tudo que discutimos aqui o gestor de informação é mais do que um rótulo de tecnologia na frente do cargo, ele precisa ser rápido no entendimento das novas tecnologias e certeiro no quesito do entendimento da entrega da informação para as squads.

Talvez as principais características que este profissional deva ter é a comunicação e principalmente a empatia de entender o momento e dor alheia, afinal, sem entender a motivação das outras pessoas dificilmente é possível mover o titã dentro das empresas, e é aí que a resistência pode ser bem grande do outro lado.

Isto é quase chover no molhado, mas ter a coragem de colocar a pele em risco e tentar o diferente liderando e assumindo a responsabilidade de eventuais problemas futuros é o que eu acredito que torna um profissional realmente diferenciado no nosso mercado em geral.

Muitas vezes as pessoas até aceitam mudar e fazer as coisas diferentes, mas elas querem o bônus e não o ônus da inovação.

Diante destes casos não há muito o que fazer: se quem melhor tem o entendimento dos temas de negócio e tecnologia é a pessoas que tem a visão holística de quando e como a informação tem de chegar através daquilo que está sendo implantado acaba sendo um passo natural que esta pessoa seja a responsável por liderar a mudança na empresa.

Mesmo que para isto tenha que comprar algumas brigas políticas no caminho, o que no final do dia, conversando e alinhamento não vira briga e sim ganho de apoiadores a causa.

Por isso o empowerment é fundamental para sair do outro lado, sem isto as pessoas até querem que a mudança aconteça, mas o ônus da dor e do possível fracasso não pode ficar com elas, afinal, filho bonito todo mundo quer, filho feio é órfão.

Mudanças (7/7)

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Se mudar, fazer diferente e inovar é tudo o que as empresas de construção civil estão querendo fazer neste momento tentando se aproveitar da liquidez que existe no mercado hoje em dia para investir em novas tecnologias e startups, fazer isto sem a figura do gestor de informação na forma que descrevi aqui, para mim, é aumentar o risco do negócio porque isto não resolve a fragmentação da informação, você resolve uma ilha, mas e o arquipélogo?

Colocar as pessoas certas nos locais corretos é fundamental para atingir os objetivos da organização no que diz respeito a inovação, se prender a um cargo para decidir quem lidera uma frente pode ser bem ruim no longo prazo neste novo mundo.

De maneira geral, se não houver uma definição clara dos papéis e responsabilidade com relação a informação na inovação surgirão vários e vários labs, captações e acelerações de startups, mas o resultado vai ser sempre o mesmo: tentamos, tinhamos boas intenções e liquidez, porém os resultados não chegaram.

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Obrigado,

Abs.

Tiago Ricotta

Publicado em 18 de Agosto de 2021 às 17:47