#0047: Nas últimas semanas tivemos visitas em alguns ativos e países na América Latina e por mais que muita coisa já esteja rodando, a forma de utilização da tecnologia no mercado de Arquitetura, Engenharia e Construção ainda tem muito a se desenvolv
#0047: Nas últimas semanas tivemos visitas em alguns ativos e países na América Latina e por mais que muita coisa já esteja rodando, a forma de utilização da tecnologia no mercado de Arquitetura, Engenharia e Construção ainda tem muito a se desenvolver e elevar seu nível de maturidade. | ||
Largo camino por recorrer (1/7) | ||
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(Antes de começar este relato, não estou considerando o Chile nesta história, isto é bastante importante para não ter problemas de entendimento de maturidade, estamos falando de norte da América do Sul e América Central). | ||
O ano é 2022 e por mais tempo que você esteja no mundo de tecnologia algumas coisas sempre surpreendem, seja um novo fluxo de trabajo que ninguém imaginou ou algum coelho cartola que alguém pensou para melhorar os processos e produtividade das equipes de construção. | ||
Visitando alguns hermanos nas últimas semanas, a sensação foi um pouco ao contrário do que esperávamos encontrar por tudo que geralmente é publicado e o marketing das empresas acabam fornecendo de material, mas o que ocorre é que tem tanta coisa para se desenvolver na América Latina, tanto ativo, projetos, empresas e empreendimentos sendo lançados que, sinceramente, se colocar tudo para rodar ao mesmo tempo o que vai acontecer é um apagão de gente qualificada para tocar as coisas. | ||
No geral, a sensação é que o Brasil e os países latinos não estão tão atrás do resto do mundo quando falamos de utilização de tecnologia para projeto e construção de ativos de infraestrutura ou construção civil leve, mas existe um gap de maturidade que é bem nítido quando se conversa com Owners e responsáveis pela gestão desses projetos. | ||
Um exemplo claro são contratos de projetos em que os contratados fazem tudo, mas não entregam nada e o Owner fica de mãos abanando recebendo PDFs enquanto existe um modelo do ativo digital pronto e que não é compartilhado porque o contrato não especifica esta entrega e, assim, os contratados veem uma oportunidade de cobrar 3x mais o valor do contrato para disponibilizar um mero IFC. | ||
Coisas da vida. | ||
Se fosse algo pontual, seria até compreensível, mas é até sistêmico esse erro básico dos contratos, por conta disso creio que a pista de maturidade ainda tem um largo caminho a ser percorrido. | ||
Do lado positivo (2/7) | ||
Como no Brasil, praticamente todos os grandes empreendimentos, seja eles de infraestrutura ou edificações, estão utilizando BIM em alguma parte do processo. | ||
Modelos muitas vezes com um grau de preciosismo que depois de longos anos de estrada você já percebe não seria mais necessário tanto requinte e crueldade, mas é interessante notar o capricho e paixão com que seus projetistas apresentam as coisas para você. | ||
Não são tantos profissionais disponíveis para disseminar conhecimento e tratar os problemas quando eles ocorrem e também não são tantas empresas fornecendo serviços, mas aqueles que o fazem, o fazem muito bem e dominam as ferramentas, estudam muito e sabem resolver os problemas que aparecem. | ||
Este é o lado positivo das visitas que realizamos. | ||
Do lado a ser trabalhado (3/7) | ||
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De certa forma, América Latina (fora Chile) parece o Brasil ali de 2015/2016, muita coisa legal sendo desenvolvida, mas pouquíssima interoperabilidade sendo realizada. | ||
O divertido da história é que existe um início de movimento a quebrar essa mentalidade, algo como o que ocorreu desde a instituição da estratégia nacional no Brasil e a fundação do BIM Fórum, sempre defendendo as questões abertas. | ||
Alguns profissionais que conversamos, expert em suas ferramentas, começam a enxergar que eles mesmos teriam mais oportunidades no mercado se soubessem como trabalhar as questões abertas nos projetos. | ||
Um deles na conversa foi até um pouco mais longe no sentido de ter tentado voos maiores e trabalhar da América Latina para outros países e percebeu que para fazer isso seria indispensável ter conhecimentos de IFC, BCF e outros fluxos de trabalho que ele nunca tinha experimentado antes. | ||
E por que não utilizava esses fluxos antes? Pela simples razão do meio em que está inserido não discutir esses assuntos e somente com o advento da pandemia surgir a necessidade de olhar para o lado, uma vez que todos os custos apertaram e no fim a necessidade é a grande mão da inovação. | ||
Voltando ao lado positivo, o aprendizado é muito rápido quando pegam algo para estudar. | ||
Dos ativos (4/7) | ||
Eu voltei no avião pensando muito sobre a questão da forma de gerenciamento dos ativos construídos por LATAM, e mesmo no Brasil, porque nisso a gente não difere muito do que ocorre lá fora. | ||
Os contratos de projeto e construção ainda ignoram sumariamente a importância da captura de informações antes da fase de operação. | ||
Já fizemos alguns projetos nesta linha dos ativos e é preciso muita maturidade, comprometimento e até conhecimento para saber o que de fato é necessário capturar nos projetos e construção para fazer uma boa gestão de ativos. | ||
Se um dia tiverem a oportunidade façam a pergunta para os gestores dos ativos sobre como receberam os As Builts das construtoras, eu conseguiria apostar que você vai receber um sorriso de volta com uma balançar de cabeças na sequência, o que demonstra que não foi lá essas coisas e que não dá para confiar muito no material recebido, por mais que tudo tenha modelado e etc. | ||
Uma das perguntas mais diretas feitas foi: se você tiver que fazer uma pequena intervenção hoje no seu ativo, você tem confiança de que pode abrir as plantas, modelos ou o que você tiver a disposição e garantir que o que está ali é de fato o que esta no campo? | ||
Resposta categórica é que vai ter que ir a campo para confirmar o que realmente existe, ninguém tem confiança no que existe de documentação entre no pós-construção. | ||
Problema importante detectado. | ||
Dos modelos digitais (5/7) | ||
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Um dos primeiros textos que publicamos nesta newsletter foi sobre Digital Twins, que por mais que seja uma forma muito legal de consumir e gerenciar informações, o custo para o desenvolvimento e manutenção dos modelos é bastante elevado. | ||
Quase um ano depois não mudo muito de opinião, mas talvez com o advento da evolução das tecnologias ligadas a Meta pode vir a facilitar a construção desses modelos (eu só não digo que vai garantir com 100% de certeza porque no fim do dia não existe certeza nenhuma de nada). | ||
Acabei evoluindo os conceitos daquele texto e atualmente creio que projetos com intenção de ser um Digital Twin serão projetos mais voltados para RH e mudança de cultura do que áreas técnicas e de desenvolvimento de tecnologia. | ||
Digo isso porque de certa forma não faz sentido demorar dois, três, quatro anos e investir um caminhão de dinheiro para montar um modelo digital para operar uma edificação quando quem vai receber esses modelos não tem confiança no que esta ali. | ||
Se o gestor de FM pegar um Digital Twin e ver que a última data de atualização de um determinado objeto é de 2018, com certeza ele vai mandar alguém ir lá no local averiguar se what you see is what you get, ou seja, se o que você esta vendo na tela do seu dispositivo é de fato o que você vê no mundo real. | ||
E esse ponto da cultura, é um ponto muito renegado pelas empresas que estão só entregando modelos sem ao menos fazer uma apresentação do que esta sendo entregue ou se existe a necessedidade do outro lado de ter estas informações. | ||
Pode haver um contra argumento aqui no sentido de o usuário não saber que ele precisa daquilo, mas aí vamos entrar no próximo tópico. | ||
Das oportunidades (6/7) | ||
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No final do dia problema é igual a oportunidade, qual a principal restrição e block para projetos voltados a esta área? Além da limitação de recursos, principalmente o querer do cliente. | ||
Quando você coloca na mão de um gestor um tablet com o modelo digital do ativo dele o cara vai sorrir, vai gostar do que esta vendo, mas estar disposto a pagar para ter isto é outra história. | ||
Por mais que as empresas de tecnologia estejam sempre de olho no mercado de handover, o que as empresas desconsideram é a vontade dos próprios clientes de querer, você pode desenvolver a coisa mais maravilhosa do mundo, se o cliente não esta disposto a comprar, você pode vomitar as maravilhas que for, não tem compeling. | ||
Acredito que do foco na tecnologia o que deveria ser feito é passar o foco para a experiencia do cliente e na jornada que este cliente vai ter com as empresas, tornar as coisas ridiculamente mais simples, tanto para construir os modelos digitais quanto operar esses modelos. | ||
O volume de informação de um ativo digital é insano, como visto no texto da ISO 19650-3, não envolver o time de FM na fase de construção poderá ser como dar uma tijolada na cabeça desse time com o volume de informação que eles podem receber subtamente. | ||
Logo, tornar o complexo simples exige muito esforço e, hoje, toda vez que sai alguma coisa voltada para FM é no sentido de como a tecnologia é maravilhosa, mas pessoal só esquece de perguntar para o time de FM se eles querem aquilo. | ||
A resposta para essa pergunta pode surpreender muito, mas a solução esta na resposta. | ||
Das voltas do mundo (7/7) | ||
As vezes somos um pouco duro em posicionamentos, mas mudamos de opinião também com o tempo e vamos evoluindo os conceitos e nada do que escrevemos aqui é batido na pedra e eterno. | ||
Quanto mais conversamos com profissionais e mais vamos entendendo de alguns assuntos mais vamos evoluindo as ideias e trocando algumas ideias, o importante é sempre evoluir e não morrer abraçado com o você de hoje. | ||
Recomendo bastante ir para a rua e conversar com quem realmente esta na linha de frente dos grandes ativos, projetos e etc.. é a principal escola e berço de oportunidades para desenvolvimento de tecnologias que vão mudar o cenário atual, é o que fazemos diariamente e o time de produtos agradece. | ||
Com base nas respostas do que os clientes e usuários falam é que será possível mudar as coisas, simplificar a complexidade, na minha opinião, hoje é a principal missão que estamos estudando e colhendo bons resultados em cima. | ||
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Abs. | ||
Tiago Ricotta | ||
Publicado em 31 de Março de 2022 às 12:38 |