Resumo da semana - 18/09/21
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Resumo da semana - 18/09/21

Criou-se enorme expectativa, ao menos dentro da bolha. Afinal, tínhamos o MBL e o Vem Pra Rua, movimentos que se vangloriam de ter mobilizado milhões para o impeachment da Dilma, convocando sua militância para as manifestações deste domingo. ...

Constantino
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O papelão da terceira via

Criou-se enorme expectativa, ao menos dentro da bolha. Afinal, tínhamos o MBL e o Vem Pra Rua, movimentos que se vangloriam de ter mobilizado milhões para o impeachment da Dilma, convocando sua militância para as manifestações deste domingo. A imprensa entrou em peso divulgando. Ciro Gomes e seu PDT aderiram, marcando presença. O PSDB idem, com os tucanos chamando seus seguidores. Todos unidos contra Bolsonaro. E deu traço, "flopou", não foi quase ninguém. Um mico!

É preciso analisar corretamente o fenômeno. E começo justamente pelo fator bolha. Reinaldo Azevedo, Joel Pinheiro, André Marinho, Guilherme Macalossi, Carlos Andreazza, Felipe Moura Brasil, Marco Antonio Villa, Alexandre Borges, Amanda Klein, Vera Magalhães e os "antas": se somar tudo não dá meia Barbara, do canal TeAtualizei, em termos de análise política, de pulso dos ânimos populares. É o preço de se viver numa bolha, com total desprezo pelo povo, bajulando uns aos outros da patota do selo azul na imprensa corporativista.

O que vimos no domingo passado foi o enterro fúnebre da tal “terceira via” antes mesmo de ela atingir a infância. Quando não há basicamente ninguém ao seu lado, só resta mesmo xingar todos, falar que o povo é gado, canalha, imbecil. A alternativa seria olhar no espelho, e isso pode ser bem doloroso para quem é hipócrita, oportunista, canalha. A postura desses formadores de opinião tem sido essa: arrogância, empáfia, malabarismo para demonizar Bolsonaro e resgatar até Lula como opção democrata! O povo percebe o truque velho e manjado, e foge.

Aqueles que se dizem moderados, que defendiam o diálogo, elogiavam o governo reformista de Temer, estão ridicularizando a carta do presidente em tom conciliatório, por exemplo. Ué?! Só “radicais da ruptura” têm o direito de ficar revoltados com a mudança de tom. Os demais comprovam só seu oportunismo incoerente. E eis o ponto: a oposição não tem projeto de país, não faz críticas construtivas, não adota uma postura coerente. Fica escancarado que é tudo jogo pelo poder, que desejam manter a política dentro do cercadinho da esquerda, com PT e PSDB fingindo disputar o poder dentro de grande pluralismo ideológico, quando todos sabem se tratar de dois partidos de esquerda.

Diante do vexame desta manifestação esvaziada, que virou motivo de muita chacota nas redes sociais, esses tucanos e seus colegas "liberais" preferem a negação da realidade, com raras exceções. Mario Sabino, do Antagonista, admitiu que foi um fiasco monumental, e que negar isso é ridículo.

Mas negar foi o que fez a patota. As reações são ainda mais bizarras do que o fracasso das ruas, pois o contraste é gritante demais com o enorme sucesso do dia 7, quando patriotas foram defender o governo, a liberdade e condenar o arbítrio supremo.

Uma coordenadora do Vem Pra Rua chegou a afirmar que o importante não é a quantidade, mas sim a qualidade do público! Agora só falta estabelecer que um voto da elite cosmopolita “progressista” vale por cada cem do povo que está tudo certo para criar a democracia de gabinete dessa turma…

Eis a verdade: a elite cosmopolita "progressista" quer uma "democracia de gabinete", sem povo, pois se julga iluminada, quer "empurrar a história", e nutre profundo preconceito contra o povo real. É uma patota esnobe, esquerdista, que chama de reacionário ou extrema direita qualquer um com viés mais conservador. 

Reverenciando o fracasso

Após mais da metade do mandato, massacrado pela imprensa diariamente, em meio a uma pandemia em que o foi responsabilizado por cada óbito de forma absurda e injusta, o presidente Bolsonaro conseguiu arrastar uma multidão às ruas no dia 7 de setembro.

Juntando vários partidos de peso, como PSDB e PDT, contando com a mobilização de grupos ativistas como o MBL e o Vem Pra Rua, com ampla divulgação pela mídia, a oposição não foi capaz de colocar uma mínima fração desse público em sua manifestação no dia 12.

O contraste é chocante pelo fracasso deste ato frente ao sucesso do outro. Não obstante, como é a reação da imprensa, da própria oposição? Podemos avaliar bem isso pelo editorial do Estadão após a manifestação, este que já foi um jornal sério e respeitado. Para o Estadão, a democracia não é uma foto, e em que pese o público bastante reduzido da oposição, ao menos se viu muito político ali, o que o jornal considerou algo positivo:

“As manifestações de 12 de setembro podem ter frustrado quem contava com um resultado imediato, pois o caminho da democracia e da responsabilidade com o bem comum é longo, repleto de percalços, dificuldades e necessários aprendizados. Mas há uma notícia especialmente relevante. Esse caminho não está deserto. Pessoas de diferentes correntes ideológicas decidiram trilhá-lo e estão convidando outros a trilharem também.

A única conclusão a que podemos chegar é que o fracasso subiu à cabeça da oposição! Como alguém pode festejar um fiasco completo desses, só porque muitos caciques políticos estavam presentes, sem qualquer adesão popular? No fundo, essa é a noção que essa turma tem de democracia: um convescote de poderosos, sem a participação popular. Uma democracia de gabinete, sem povo. 

Para J.R. Guzzo, o fiasco do último domingo mostra que quem comanda as massas é Bolsonaro. Para o experimente jornalista, "Aconteceu o pior: os organizadores chamaram o povo, e o povo não apareceu. O resultado é que conseguiram exatamente o contrário do que pretendiam. O inimigo, que deveria ser enfraquecido, saiu mais forte do que estava". E a comparação com a manifestação patriótica do dia 7 piora ainda mais o quadro da oposição:

Em outra ocasião, o fracasso seria apenas um fracasso. Vindo logo depois de Bolsonaro ter enchido as ruas com as maiores manifestações desde as “Diretas Já” ou o “Fora Dilma” de 2016, foi um desastre com perda total. A culpa por isso é de um dos mais velhos e resistentes vícios da política brasileira: os donos das manifestações acham que são eles, e não os manifestantes, que têm o poder de lotar a praça. Dá nisso: se o povo não quer ir, podem ficar convocando a vida inteira que não vai acontecer nada.

No convescote da esquerda há muita conversa de bastidor, muitos acertos pouco republicanos, bastante articulação golpista para derrubar Bolsonaro. Só não tem uma coisa: povo!

Dia da Democracia

Esta semana se comemorou o dia da democracia. Não é um sistema perfeito - não existe tal coisa - mas é o que temos para o jantar. Churchill fez o melhor resumo de todos: trata-se do pior sistema que existe, exceto todos os demais que foram testados. O principal valor que vejo na democracia é de caráter negativo: ele normalmente impede revoluções violentas de resultados imprevisíveis.

O grande nome da Escola Austríaca, Ludwig von Mises, foi um defensor ferrenho da liberdade individual. Ele acreditava que o liberalismo tinha que triunfar por meio do poder das ideias, através da persuasão com base em sólidos argumentos. Somente pelas vias democráticas o liberalismo poderia vencer seus inimigos no longo prazo.

Mises sempre soube das inúmeras imperfeições da democracia, que não é exatamente louvável por sua capacidade de boas escolhas, mas ainda assim defendeu com unhas e dentes o modelo democrático. O principal motivo era semelhante ao que Sir Karl Popper tinha em mente: a democracia é a forma mais pacífica que conhecemos para eliminar erros e trocar governantes, sem derramamento de sangue.

Popper resumiu bem a questão quando disse que “não somos democratas porque a maioria sempre está certa, mas porque as instituições democráticas, se estão enraizadas em tradições democráticas, são de longe as menos nocivas que conhecemos”. Mises estava de acordo, e defendeu a democracia em diversos livros. Em Liberalism, por exemplo, ele escreveu: “A democracia é aquele forma de constituição política que torna possível a adaptação do governo aos anseios dos governados sem lutas violentas”. Para Mises, que depositava enorme relevância no poder das ideias, somente a democracia poderia garantir a paz no longo prazo.

O ministro Luís Roberto Barroso gravou um vídeo em homenagem ao dia da democracia. A fala em si não é absurda. Ele diz que ela exige paciência, depende de construções lentas, com tolerância às divergências, e que já esteve ameaçada no passado pelo comunismo, pelo fascismo, pelo nazismo. E menciona que hoje está ameaçada pelo populismo.

Até aí, tudo bem. Mas dentro do contexto, fica claro se tratar de mais uma tentativa de alfinetar o presidente Bolsonaro. E é aí que mora o problema. Barroso não foi eleito por ninguém, não disputa cargo eletivo, mas fala como um político. E ignora que a democracia está ameaçada hoje mais pelo ativismo do STF do que por qualquer arroubo populista do presidente.

Democracia vem de "demo", palavra grega que quer dizer justamente povo. O ministro não viu de qual lado está o povo, comparando as manifestações do dia 7 de setembro com aquelas quase inexistentes da oposição no dia 12? Se viu, não liga? O povo está em peso criticando o ativismo supremo, o clima de estado policialesco instaurado pelo próprio STF. Sobre isso, nenhuma palavra, nem do ministro, nem da imprensa cúmplice desse ativismo.

As instituições estão funcionando?

O Brasil vive numa distopia surrealista, em que, por meio de uma manobra na Câmara, juízes, policiais e procuradores podem ficar em quarentena de cinco anos sem disputar eleição, mas ladrões corruptos podem ser candidatos com o apoio da imprensa. Tudo está invertido em nosso país: os marginais tomaram conta de vez e dobraram a aposta, ignorando o clamor popular do lado de fora da bolha.

O Senado, sob mensalão, aprovou imediatamente Dias Toffoli, o advogado de Dirceu que fracassou em duas tentativas de ser juiz. André Mendonça tem bom trânsito no Congresso, é um nome neutro, que nem agradou muito as bases bolsonaristas, e mesmo assim está sendo boicotado. E a imprensa trata com naturalidade as chantagens de Alcolumbre e companhia. Nunca antes na história deste país...

Os donos do poder não dão a mínima para o povo! Aliás, fazem o contrário: perseguem quem ousa criticar tanto descalabro. O corregedor do TSE, por exemplo, quer investigar "quem pagou" pelos atos patrióticos do dia 7 de setembro, cujo bordão mais repetido era "eu vim de graça". O jornalista Alexandre Garcia comentou: Tem gente que é prostituto da intelectualidade. Que pensa que os outros se vendem, ou vendem sua opinião. Inclusive acusam outros disso, porque na hora que acusam, estão confessando: “eu sou assim”.

Soltura de Lula e, em seguida, sua elegibilidade por meio de aberrações jurídicas do Supremo; soltura de bandidos perigosos como André do RAP, do PCC; decisões bizarras para afastar policiais da eleição, pois sabem que se trata de uma base importante da direita bolsonarista; conchavos nos "bastidores" para impedir a escolha do presidente para o STF; censura aos conservadores nas redes sociais, com derrubada de MP do governo Bolsonaro que impediria tal perseguição; prisão de jornalista, deputado com imunidade parlamentar e presidente de partido bolsonaristas pelo "crime de opinião"; tudo isso e muito mais com aplausos da imprensa!

E nossos militantes disfarçados de jornalistas ainda repetem que nossas instituições estão funcionando perfeitamente. As nossas instituições estão funcionando sim… para manter o povo de fora e preservar esquemas podres e privilégios da casta corrupta no andar de cima. Só se for isso!

Proibido criticar Freire

A juíza Geraldine Pinto Vital de Castro, da 27ª Vara Federal do Rio de Janeiro, determinou, por meio de liminar, que a União, e “quem a represente a qualquer título”, se abstenha de praticar qualquer ato institucional “atentatório a dignidade do Professor Paulo Freire na condição de Patrono da Educação Brasileira”.

A decisão atende a um pedido feito pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), que alegou na ação existir “movimentos desqualificadores dos agentes do Governo Federal contra Paulo Freire, educador e filósofo brasileiro, com falas ofensivas e em contraposição ao pedagogo ser Patrono da Educação brasileira”. Cabe recurso da decisão.

Primeiramente, o MNDH argumentou que Paulo Freire, morto em 1997 e nomeado patrono da educação brasileira por meio da Lei Federal 12.612, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 2012, tem recebido “ofensivas e injustificadas críticas do governo federal e que tais manifestações não só se opõe à figura de Paulo Freire enquanto educador e patrono da educação, como aos projetos e programações a ele vinculado”.

Além disso, o grupo reclamou que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (Capes) alterou a plataforma criada para os professores buscarem cursos de aperfeiçoamento profissional e retirou a homenagem ao educador Paulo Freire do nome. Antes chamada "Plataforma Paulo Freire", ela passou a se chamar "Plataforma da Educação Básica". Outro argumento foi o de que integrantes do governo federal têm criticado a metodologia de Paulo Freire, associando-a ao baixo desempenho escolar dos estudantes brasileiros.

Ficamos assim: os representantes da União possuem "liberdade de expressão", mas não de crítica. Eles precisam continuar reverenciando um comunista que bajulava os piores tiranos do planeta, alguém que levou a visão marxista de luta de classes para dentro das salas de aula, substituindo ensino por doutrinação ideológica. O Brasil não é o patinho feio no teste mundial do Pisa por acaso: é obra de décadas de esquerdismo paulofreiriano em nossas escolas!

Pergunto ao leitor: já leu algum livro de Freire? É um exercício e tanto de paciência. Seu linguajar é enfadonho, diz algumas coisas um tanto óbvias de forma aparentemente profunda, que revela apenas uma mente confusa, e usa a “pedagogia” para, no fundo, pregar o marxismo radical. Foi seu grande “mérito”: levar Marx para dentro das salas de aula.

Seu ponto de vista é o dos “excluídos”, diz ele, monopolizando as virtudes e os fins nobres. Somente quem endossa seu viés “progressista” quer o bem dos mais pobres. O restante, os “neoliberais”, esses querem apenas manter o status quo, preservar um sistema opressor. São pessoas ruins. E contra eles, os “oprimidos” devem se rebelar, lutar pela utopia igualitária.

Era dada a justificativa para que professores se transformassem em militantes ideológicos, usando as salas de aula não mais para ensinar conteúdo de forma minimamente objetiva, mas para “transformar a sociedade”, para “formar novos cidadãos”, naturalmente marxistas empenhados na causa utópica, como o próprio Freire. A doutrinação ideológica ganhava ares de justiça, graças ao pedagogo marxista.

Ou seja, de um lado temos os “progressistas” como ele, que querem salvar a humanidade das garras capitalistas e levar prosperidade aos mais pobres; do outro temos os “reacionários” e “neoliberais”, que pretendem apenas manter o quadro de exploração da miséria alheia. E esse “educador” virou o patrono da educação brasileira!

Pistola sem munição

Ninguém deseja, de fato, uma ruptura, uma convulsão social, uma guerra civil. O objetivo das pessoas sensatas é evitar esse cenário catastrófico e bastante incerto. Alguns bolsonaristas acreditam que já houve uma ruptura e que vivemos numa ditadura de toga, que só pode ser enquadrada pelas Forças Armadas. Representavam uma parcela da multidão nas ruas no dia 7 de setembro, repetindo “eu autorizo” ao presidente, para que tomasse uma atitude mais drástica. Ela não veio.

A maioria achou melhor assim. Intervenção militar não é brincadeira, e muita gente espera que ainda seja possível contornar a situação evitando o pior, ou seja, usar a pressão popular para persuadir os ministros supremos da necessidade de um recuo. Houve, então, um suposto acordo que culminou na nota oficial do presidente, redigida por Michel Temer. Seria a pacificação entre os Poderes. Mas a que preço? 

Bolsonaro foi generoso ao oferecer uma saída honrosa aos adversários ou negociou da posição de fraqueza, por perceber que se excedeu na fala, xingando o ministro Moraes de canalha, e que sem a disposição de agir só lhe restava um pedido de desculpas? O que esse tal acordo tem de benefício para o povo que foi às ruas? É a pergunta que cada vez mais gente se faz, todos angustiados com a possibilidade de que Bolsonaro sacou uma pistola sem munição.

Os presos políticos continuam presos, afinal, e o establishment segue boicotando Bolsonaro. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, devolveu sua Medida Provisória contra a censura nas redes sociais sem sequer levá-la ao plenário, enquanto seu indicado para o STF continua sem sabatina, por evidente chantagem de Alcolumbre, presidente da CCJ. Moraes pediu vistas, é verdade, do importante caso do marco temporal, que assusta o agronegócio. Mas parece muito pouco. 

Nos bastidores bolsonaristas, cresce a sensação de angústia, de que o “sistema” venceu a batalha, senão a guerra. Bolsonaro chegou a rebater um apoiador crítico, que pedia sua ajuda para um problema pessoal na justiça: “Acham que tenho superpoderes”. Claro que não tem, e o jogo é bruto. Mas fica a impressão de que Bolsonaro não jogou como um estrategista, e sim com o fígado. E depois se viu sem maiores alternativas. É complicado mesmo bater de frente com o “mecanismo” que controla o Brasil.

Não sei qual a melhor opção disponível para quem está alarmado com o arbítrio em nosso país. Mas fecho com uma lição de Thatcher sobre liderança: “Se aprendermos as lições erradas da Guerra Fria, também arriscaremos a paz. Se passarmos a acreditar que a melhor maneira de evitar o perigo é contornando-o, ao invés de enfrentá-lo; se pensarmos que a negociação é sempre a opção do estadista; se preferirmos gestos multilaterais vazios a respostas nacionais poderosas, então pagaremos um preço alto – e nossos filhos e netos também pagarão”.