Todo poder emana do povo. Esse é o conceito central das democracias. Belo na teoria. Já na prática... muitas vezes o que vemos é o oposto: uma casta poderosa que age como um parasita, explorando o povo trabalhador. Adaptando para a nossa real...
Todo poder mama no povo |
Todo poder emana do povo. Esse é o conceito central das democracias. Belo na teoria. Já na prática... muitas vezes o que vemos é o oposto: uma casta poderosa que age como um parasita, explorando o povo trabalhador. Adaptando para a nossa realidade, portanto, o mais correto seria dizer que todo poder mama no povo! |
E como se faltassem exemplos para provar o ponto, o Congresso vai lá e resolve quase dobrar o fundo eleitoral. O fundão vai para quase seis bilhões de reais! Passou numa malandragem das raposas que cuidam do galinheiro, metendo o aumento junto da LDO, que precisava ser aprovada para garantir o orçamento do governo, e depois impedindo a votação nominal do destaque que retiraria tal aumento escabroso. |
Durante alguns minutos a narrativa de que deputados bolsonaristas tinham votado pelo aumento do fundão circulou pelas redes, para espanto de todos que conhecem bem alguns desses nomes, tais como Bia Kicis, Paulo Martins ou Carla Zambelli. Tudo foi logo esclarecido por textos, vídeos e provas de que tais parlamentares fizeram constar seus votos contra a aberração. Mas a aberração já tinha passado... |
E agora cabe só ao presidente um eventual veto, com tudo que isso significa de desgaste para Bolsonaro, que é mantido quase como um refém pelo centrão, que pode a qualquer momento decidir pela abertura de um dos vários processos de impeachment enviados pela oposição. |
Semipresidencialismo |
Entrou em debate também o tal "semipresidencialismo", defendido por Barroso e outros, e tema do editorial do Estadão, favorável à mudança. Ocorre que com esse número atual de partidos a coisa seria bem complicada, ainda que a lógica possa fazer sentido, para tentar reduzir o fisiologismo. Uma reforma política decente que reduzisse a concentração de poder seria crucial para o país, mas o risco é sempre piorar o que já é péssimo. |
Luis Felipe D'Ávila conclui em seu artigo publicado na Virtú: "Esse é o triste retrato de um país à deriva, que não tem noção das prioridades da nação e age de maneira oportunista para atender apenas aos interesses casuísticos dos partidos e do Congresso. O foco de prioridades deveria ser a aprovação das reformas estruturantes do Estado, entre elas a reforma administrativa, a reforma tributária, o combate aos privilégios e a criação de regras estáveis para oferecer segurança jurídica e respeito aos contratos para os investidores privados que desejam investir no País e ajudar o Brasil a retomar o crescimento sustentável da economia". |
O ministro Paulo Guedes concordaria e quer menos Brasília para termos mais Brasil. Encontra, porém, infinitos obstáculos no caminho político. Ao menos o governo federal faz sua parte naquilo que lhe cabe, já que está difícil emplacar uma boa reforma administrativa. A Folha destaca que a máquina federal teve enxugamento inédito de servidores com Bolsonaro. A despesa com servidores civis na ativa caiu pela primeira vez, pois o governo não repôs aqueles que se aposentaram na mesma proporção. É uma "reforma administrativa" por inércia, digamos. Mas ainda é pouco! |
O Brasil precisa de uma mudança radical de mentalidade. O estado precisa ser mais enxuto, com escopo bem menor e o poder mais descentralizado. O servidor público tem de servir o povo, não o contrário. Estamos muito longe dessa realidade ainda, infelizmente... |
Sabotador da República |
Rodrigo Maia sempre foi um sujeito medíocre, uma espécie de despachante de grupos de interesse, que ascendeu na política por conta do pai e de esquemas de bastidores. A imprensa, porém, resolveu trata-lo quase como um primeiro-ministro durante o governo Bolsonaro, fingindo que ele era um estadista, a voz do bom senso e da moderação. Ignoravam que ele era, na verdade, um sabotador da agenda reformista vitoriosa nas urnas. |
Assim que Maia deixou o comando da Câmara os fatos vieram à tona. Livre da necessidade de encenar, o deputado passou a demonizar Bolsonaro e a flertar até mesmo com o corrupto Lula. Confessou em determinada ocasião que antes não podia assumir que era oposição a Bolsonaro, ou seja, admitiu que era apenas dissimulado ao se colocar como apoiador das reformas. A máscara do "Nhonho" caiu, e muitos lembraram que ele era o Botafogo das planilhas da Odebrecht. |
Maia desapareceu do mapa, pois sua relevância era somente o controle das pautas da Câmara. Um novo sabotador entrou em cena, porém. Trata-se do deputado amazonense Marcelo Ramos, que está de olho gordo na posição de Arthur Lira. O presidente Bolsonaro citou nominalmente o deputado como o responsável pela manobra que levou ao aumento indecente do fundão eleitoral, para quase seis bilhões de reais. Bolsonaro o chamou de insignificante, e o insignificante quer sangue. |
Marcelo Ramos foi cabo-eleitoral do senador lulista Omar Aziz no Amazonas."Eu quero desde já pedir, dizer do meu esforço e do esforço de todos da importância de renovar o mandato do senador Omar Aziz", disse Ramos na época. As peças se encaixam melhor agora, não? Ramos solicitou acesso a todos os pedidos de impeachment de Bolsonaro, e publicou a seguinte mensagem: "Recebi, dos autores, cópia do superpedido de impeachment do presidente Bolsonaro. São 21 imputações de crime de responsabilidade e algumas delas, numa primeira leitura, parecem bem consistentes". |
O sabotador da República ameaça claramente o presidente com o evidente intuito de impedir o veto ao fundão indecente. São as tais raposas no galinheiro, os representantes da velha política. O jogo é bruto, companheiro… |
Refém do centrão |
Vem mini reforma ministerial aí, e não é para melhor. Sai Onyx Lorenzoni e o general Ramos, e entram Ciro Nogueira e talvez David Alcolumbre. Nogueira é o presidente do Partido Progressistas, importante aliado do governo, mas ícone do chamado "centrão", do grupo fisiológico que tem pouca ideologia e muita sede por cargos e recursos. Ele já esteve ao lado do PT e de Lula, e hoje é apoiador de ocasião de Bolsonaro. |
A notícia é péssima para o país. Mostra como Bolsonaro é cada vez mais refém do Congresso. Para garantir alguma governabilidade e para se blindar também da enxurrada de pedidos de impeachment, o presidente precisa jogar de acordo com as cartas, dançar de acordo com a música - e quem dá as cartas e escolhe a música é justamente o centrão. |
Se ele quer que André Mendonça seja aprovado na sabatina, precisa ceder. Se ele deseja ver as reformas pendentes propostas por Paulo Guedes andando, ele tem de entregar "alguma coisa". Pelo patriotismo apenas não vai, isso já está claro para todos os realistas. |
Ou seja, para seguir na direção certa, é necessário ceder. O ideal seria dividir o poder por meio de consensos prioritários por puro espírito público, mas isso é idealismo romântico. A alternativa totalitária e corrupta é comprar o Parlamento, como fez o PT com o mensalão e o petrolão. Política é a arte do possível. Governar é escolher as prioridades e atrair base de apoio, de preferência de maneira republicana. Mas não sejamos inocentes: o Brasil tem dono! |
Eis o diagnóstico sincero: Bolsonaro é refém do centrão. Eis a receita para a doença: eleger parlamentares melhores, mais alinhados com as pautas reformistas e com espírito público. O problema é que isso demanda uma reforma política, com voto distrital, fim dos fundos eleitoral e partidário, descentralização de poder. E aprovar uma reforma dessas implica em perda de poder para os caciques partidários, justamente os que controlam o jogo. Daí o dilema... |
Contra a transparência |
O Estadão estampou em sua matéria de capa a informação de que o ministro da Defesa, general Braga Netto, teria alertado (o jornal chama de ameaça) o presidente da Câmara Arthur Lira que não haveria eleição em 2022 se não houvesse voto auditável. Foi negado por todos os envolvidos depois, mas teve enorme repercussão. |
Mas a “reportagem” serviu para tirar muita gente da toca. Nunca antes na história se viu um movimento tão forte CONTRA A TRANSPARÊNCIA ELEITORAL! Por que essa gente conspira contra uma mudança que traria mais transparência e segurança eleitoral? E sendo que estão mudando o discurso, pois vários deles defendiam as mudanças antes. |
Flavio Quintela, em sua coluna na Gazeta do Povo, resgata seu passado de engenheiro de sistemas na área de telefonia para lembrar da importância da redundância, de um Plano B para tudo em tecnologia. Todos os especialistas são unânimes em afirmar que não há sistema totalmente seguro e protegido do risco de fraude. Diz ele: |
"Ninguém em sã consciência rejeita mais segurança, ainda mais quando a contrapartida não é menos liberdade. Voto impresso é redundância de apuração, é garantia de que um resultado físico estará disponível caso algum imprevisto aconteça", explica Quintela. "Sinceramente, não consigo entender os argumentos de quem é contra essa evolução", desabafa. |
E é justamente essa postura intransigente e em muitos casos divergente do que diziam no passado que levanta ainda mais suspeita. Afinal, os maiores opositores da mudança são ministros do Supremo, que resolveram até interferir no poder Legislativo para barra-las. E são os mesmos que foram indicados por Lula, que soltaram Lula, e que o tornaram elegível basicamente destruindo a Lava Jato numa canetada só. Suspeito? |
O próprio Lula, aliás, resolveu investir contra as mudanças também. Por que será? Tenho para mim que, com voto auditável, pode ser até que Lula desista de disputar a eleição. Leandro Ruschel comentou: "O que ninguém coloca em dúvida é a atuação do Supremo para impedir a aprovação da PEC do voto impresso no Congresso, rasgando a separação de poderes e a vedação imposta aos ministros de atuação político-partidária. Os militantes de redação aplaudem a manobra". |
E isso não aumenta a desconfiança no sistema que só Butão e Bangladesh, além do Brasil, utilizam? Alguém em sã consciência acha mesmo que países desenvolvidos como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, França e Alemanha não abrem mão de voto impresso auditável por falta de capacidade tecnológica? Sério? Ruschel conclui com uma pergunta retórica: "O que representa um ataque à democracia? Defender sistema de votação transparente e auditável ou defender um sistema arcaico, que é uma caixa-preta inauditável?" |
Vacina obrigatória |
A principal disputa ideológica não é exatamente entre direita e esquerda, mas entre aqueles que demonstram apreço pela menor minoria de todas - o indivíduo - e aqueles com inclinações mais coletivistas e estatizantes - que acabam enxergando o indivíduo de carne e osso como um meio sacrificável pelo "bem geral" ou algum construto abstrato qualquer, seja raça, classe ou nação. |
É evidente que a coisa não é tão binária assim, e regiões cinzentas vão sempre existir, impondo dilemas morais entre a liberdade individual e o tal "interesse coletivo". Mas, via de regra, os liberais e conservadores costumam valorizar mais as liberdades dos indivíduos, enquanto os "progressistas" preferem adotar uma visão holística e priorizar coletivos. |
No caso das vacinas experimentais contra a Covid-19 isso ficou bem evidente. O perfil de risco de cada um também tem influência no debate. Aqueles mais apavorados com a pandemia tendem a defender medidas autoritárias e drásticas no afã de uma sensação maior de segurança. E, como alertou um dos grandes pais fundadores da América, quem abandonar liberdade em troca de segurança poderá acabar sem ambas. |
Guilherme Fiuza tem sido uma das vozes mais firmes na defesa dos direitos individuais nessa pandemia, assustado com o andar coletivista da carruagem ocidental. Diante de uma notícia de que um funcionário foi demitido por justa causa por se recusar a se vacinar contra o SarsCov2, Fiuza desabafou: |
“Já estão demitindo por JUSTA CAUSA quem não se vacinou contra covid. O nome disso é FRAUDE. Não há justa causa se não há certeza sobre os RISCOS q cada um corre c/ vacinas EXPERIMENTAIS, nem mesmo sobre a eficácia da suposta imunização. Vcs estão estuprando o Direito. E vão pagar.” |
Mas muitas máscaras estão caindo nessa pandemia também. Muita gente que se dizia liberal ou mesmo conservadora está ao lado de governadores esquerdistas autoritários e defendendo medidas arbitrárias e inconstitucionais, tudo em nome da ciência, claro. |
Ben Shapiro, liberal clássico, tem alertado para os perigos desse autoritarismo "democrata". Comentando a fala de uma defensora da vacinação obrigatória, ele disse: "Todo adulto teve a oportunidade de receber a vacina. Casos graves decorrentes de doenças emergentes são extraordinariamente raros. Não se trata mais do sistema de honra. Os adultos podem tomar suas próprias decisões e viver com as consequências. A liberdade importa". |
Se você é um liberal ou um conservador, sem dúvida ela importa, e muito. Mas se você é um "progressista" seguro de que fala em nome da ciência, então você quer usar o poder do estado, a coerção legal, para calar os "negacionistas" e impor medidas "saudáveis". Em coluna na Gazeta do Povo, o mesmo Shapiro ataca esse discurso oficial do governo Biden, que partiu para cima do Facebook alegando que a plataforma está espalhando mentiras e influenciando pessoas contra as vacinas: |
“Nada disso é verdade. Afinal, o Facebook é uma plataforma, não uma publicação com as mesmas responsabilidades de uma editora, por exemplo. Tratar o Facebook como tal transformaria totalmente seu negócio. |
Além do mais, é num nível meramente factual, não é verdade que os usuários do Facebook tendam mais a evitar a vacinação. De acordo com as estatísticas da plataforma, a aceitação da vacinação nos Estados Unidos entre os usuários do Facebook varia entre 80% e 85%, e 3,3 milhões de norte-americanos usaram a rede social para encontrar um local de vacinação. |
Então o que leva Biden a acusar o Facebook? O que o leva a fazer isso é seu objetivo mais amplo de usar as redes sociais para eliminar as fontes de notícia alternativas. |
Shapiro conclui: "O autoritarismo da esquerda está com tudo. Os norte-americanos precisam perceber e lutar contra isso antes que essa censura destrua nossa capacidade de ver outras coisas que não o que a esquerda quer que vejamos". |
Em coluna na Gazeta também, Lacombe critica a visão de um estado benfeitor e messiânico: "O Estado... Você acredita nele? Acha mesmo que ele pode ser seu tutor, seu 'pai', o 'pai de todos'? Quantas promessas de salvação, de proteção e segurança você tem aceitado? Quanto da sua liberdade lhe retiraram, mas para 'o seu bem'? |