Saí da carreira de desenvolvedor.
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Saí da carreira de desenvolvedor.

Já faz algum tempo. Eu vivi por muito tempo um conflito de admitir isso, pra mim, pra minha equipe, mas a real é que eu encerrei a minha carreira como desenvolvedor. Mas porque? 

Pedro
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Já faz algum tempo. Eu vivi por muito tempo um conflito de admitir isso, pra mim, pra minha equipe, mas a real é que eu encerrei a minha carreira como desenvolvedor. Mas porque? 

Eu amo programar, amo desenvolver, sou curioso, acho uma profissão maravilhosa e absolutamente todas as conquistas profissionais, e boa parte das conquistas pessoais foram devido a saber programar. Largar isso tudo seria no mínimo um desrespeito. 

Sobre Destruir Pontes

Vamo lá, a gente muda conforme o tempo vai passando, mas de longe mantemos amarras, raízes e conexões com a nossa vida de antes. Descobrimos novos hobbies, gostamos de pessoas diferentes, fazemos novas amizades e porquê seria diferente com o trabalho?

Tendo atuado como dev pelos últimos 15 anos e ter tido experiências maravilhosas, incríveis também me fizeram pensar diferente, só que até aí não muda muito. E é aí que entra o conceito de destruir as pontes. Sim, você ouviu certinho, destruir mesmo. E digo mais: Toda mudança real precisa destruir pontes.

Embarcar em uma mudança podendo voltar atrás é muito fácil, veja, e talvez por isso, pela facilidade de voltar atrás, é que a mudança real, não acontece. 

É preciso um bocado de coragem pra largar o conforto habitual e entrar de cabeça em algo novo. Isso porque cada escolha, envolve uma renúncia, não tem jeito. E renunciar a algo que a gente ame, com o perdão da palavra, mas é foda pra cacete. 

Destruir pontes e conexões pra que novas sejam construídas no lugar, ou num lugar melhor. O conceito é esse. Imagina que vc tem um armário, cheio de roupa que você provavelmente não usa, mas tá ali porque tem um valor quase que emocional. O armário é um só, e, ainda que vc comprima mais roupas ali dentro, a coisa é finita. 

Mas você pode se desfazer das roupas que, foram importantes e agora não te representam, pra que possa ter espaço pro novo. É esse o conceito. 

Novos desafios

Uma coisa que esses poucos anos de empreendedorismo me ensinaram é o conceito de escala. E pra exemplificar isso eu vou usar algo que eu goste. Cerveja. 

Imagine que você resolve montar uma cervejaria artesanal, e que consegue fazer uma cerveja maravilhosa, a melhor cerveja que você já bebeu na vida. E não só você, todos os seus amigos e familiares não só adoram, como se dispõem a comprar vários litros da sua próxima cerveja. 

Ok, agora corta pra o extremo oposto. Você é o mestre cervejeiro da InBev, você tem todo o tipo de recurso que é possível, tecnologicamente, pra melhorar a qualidade da cerveja, você provavelmente estudou vários anos, fez vários cursos, foi pra fora, aprendeu e lutou pra chegar até aqui. 

E mesmo assim, você faz uma cerveja com qualidade menor que uma cerveja artesanal (Calma, tô generalizando mas segura aí antes de me xingar, é só pra manter o exemplo, suponha que isso é uma verdade).

O ponto é que, você acha mesmo que o mestre cervejeiro da InBev não consegue fazer uma cerveja maravilhosa? Sabendo que ele tem além de conhecimento, muito mais verba, tecnologia, ferramental e acesso a ingredientes melhores? Claro que consegue, só que ele vai sacrificar a escala pra isso. Explico. 

Na escala os desafios são outros. Você já parou pra pensar que toda Brahma que vc bebe tem O mesmo gosto? Mesmo sendo fabricado em lugares diferentes, com água e lúpulo diferentes, toda brahma é igual, porque você comprou Brahma, não Stella. Óbvio. 

Pro pequeno, pouco importa se um lote de cerveja vai ser diferente, porque ninguém espera isso de você, esperam que você entregue algo de qualidade.

Já pro grande, o esperado é que você entregue sempre a mesma qualidade, não importando o volume, e isso é absurdamente difícil pessoal. 

Saindo do mundo maravilhoso da cerveja e indo para o mundo da programação. É exatamente a mesma coisa! Quando a gente fundou a iDez, o desafio era entregar qualidade, provar que a gente conseguia fazer, e isso já era um baita de um desafio.

Hoje a gente precisa entregar a mesma qualidade, só que com duzentas vezes mais volume. São novos, outros desafios. 

Atestado de insanidade

Einstein dizia que a definição de insanidade era fazer as mesmas ações esperando resultados diferentes. Não dá pra se resolver o desafio da escala atuando da mesma maneira. 

Hoje a minha função acaba sendo bem mais sobre contratar e impulsionar pessoas incríveis em projetos que eu amaria fazer. Eu posso ter um vislumbre de como é estar em todos eles e ajudar, mas não serei mais o pai da criança. 

Ainda sim, entrego meu atestado de insanidade que é empreender e assumir responsabilidades, projetos inacreditáveis que muitos nos disseram não ser possível. E não eram, até alguém ignorar esse fato.

Sigo na jornada, agora guiado por novos ventos. Vejo vocês por aí.