A gente fala do lugar que ocupa
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A gente fala do lugar que ocupa

Contrariando muitas frases soltas e superficiais que costumam ser ditas e compartilhadas por aí, o racismo não só existe, como está em todos os lugares, e cada dia mais forte. Talvez o discurso de que ele tenha sido superado seja pelo fato de...

Jussara Marra
2 min
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"Militância" e "ativismo" são expressões que, de tanto serem usadas sem critérios nos dias atuais, acabaram por ganhar uma conotação de segregação. Mas não consigo pensar em outras definições para a constante luta pela quebra de tabus e mudança de paradigma. E hoje especialmente trago isso para a questão racial.

Contrariando muitas frases soltas e superficiais que costumam ser ditas e compartilhadas por aí, o racismo não só existe, como está em todos os lugares, e cada dia mais forte. Talvez o discurso de que ele tenha sido superado seja pelo fato de estar hoje travestido de piadinhas e escondido muito mais em olhares e pequenos (?) gestos do que em palavras e apartheid declarado.

Ele existe e precisa incomodar. Não só quem sofre direta e indiretamente. Precisa incomodar cada um. Precisa nos levar a um estado de alerta. Precisa nos fazer reconhecer e pensar. Precisa que nós (todos nós!) falemos a respeito.

Quando falamos, damos também abertura para que os outros falem.

Quantos e quantos negros sofreram uma vida inteira de preconceitos em silêncio e quando escutam um discurso de quem vem com força nova à militância, retomam o fôlego para continuar a briga pelo que deveria ser o natural: respeito.

Nós, brancos, não podemos falar do lugar do negro e muitas vezes me perguntei se tínhamos esse local de fala. Descobri que, sim, temos. Temos a partir do momento que nos dedicamos a compreender qual é esse lugar e qual o papel que desempenhamos no contexto da luta.

Discursos vazios e hashtags da moda em dias específicos não fazem a diferença. É o comprometimento que conta. O pequeno, o detalhe. Desde que consciente e consistente.

Costumo terminar meus papos sobre adoção inter-racial, os quais desaguam sempre no maior enfoque ao racismo em si, pedindo para que as pessoas façam um exercício.

Hoje, ao entrar em um lugar qualquer, seja uma loja, um restaurante, clube, academia... olhe em volta. Observe conscientemente. Quantos negros estão naquele ambiente? Qual lugar estão ocupando?

Repita amanhã, e depois de amanhã... e todos os outros dias.

Entenda o lugar que você ocupa e se comprometa a fazer bom uso dele.