A hora da verdade
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A hora da verdade

Muitas são as questões que povoam os pensamentos (e as noites de insônia) dos pretendentes à adoção. E lá no top 5 das preocupações está a tal da conversa de revelação da origem.

Jussara Marra
3 min
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Muitas são as questões que povoam os pensamentos (e as noites de insônia) dos pretendentes à adoção. E lá no top 5 das preocupações está a tal da conversa de revelação da origem.

Quando fazer? Como fazer? O que vai vir depois?

Nem estou considerando da hipótese de surgir a pergunta "será que eu devo contar?". Vamos partir do ponto que isso é inquestionável. Direito à história, direito à verdade, direito à origem, respeito pelo filho.. poderia seguir elencando mil tópicos, que se desdobrariam em escala de progressão geométrica aqui... mas passemos ao próximo passo.

E o degrau seguinte é justamente a desconstrução do título. Porque se falamos em uma "hora da verdade", estamos pensando em sentar pra conversar sobre um assunto. Solenemente.

"Filho, vem aqui que hoje vamos ter uma conversa importante."

Pois essa é a cena que a gente não quer.

Oi? Como assim? Não era pra falar a verdade? Sim. É! Continua sendo! Só não é para transformar isso em algo solene, um momento, um dia D.

A verdade precisa existir e permear a vida da criança ou adolescente por adoção desde o dia zero. Desde o momento inicial, não importando se ela chegou com 10 dias ou com 10 anos. 

Ela tem uma história, tem direito a essa história e merece que nós, adultos, a acolhamos, a respeitemos e a compartilhemos, na medida que couber em cada fase do desenvolvimento.

"Mas a criança muito nova não entende... melhor esperar ela perguntar". Não.. ela pode não racionalizar, mas entender ela entende, desde que as coisas sejam ditas da forma adequada para cada etapa do desenvolvimento.

Não vamos falar da mesma forma com um adolescente e com uma criança de 2 anos. Mas com ambas precisamos conversar.

Contar outras histórias de adoção, ler livros, assistir filmes... quanto mais espaço de troca abrimos, mais abertos às trocas eles ficam, mais confiança em nos perguntar o que os afligirem terão e menos criarão fantasias acerca da própria história.

Não ter a hora da verdade significa dizer que a verdade vai estar ali nos detalhes, no grande e no imperceptível do dia a dia. Ela vai fazer parte da rotina, das conversas da vivência, de forma tão natural quanto o "bom dia" que falamos.

O que eles viveram antes de chegarem até nós certamente vai carregar momentos difíceis, tristes, pesados... e é importante que saibamos também acolher isso... estarmos preparados pra essa troca. Ela pode demorar, mas em algum momento vai acontecer.

A grande diferença de quando não existe uma "hora da verdade", mas sim uma vida inteira de verdades é que toda e qualquer angústia chegará primeiro em nós, possibilitando que tomemos as suas mãos e os guiemos pelos melhores caminhos!

(sobre o medo da pergunta sobre a família de origem e a vontade de procurá-la a gente fala outra hora)