a MINHA mãe
2
0

a MINHA mãe

No fundo, o meu maior desejo sempre foi também meu maior medo: ser o porto seguro de alguém. Não qualquer alguém. De alguém extremamente especial.

Jussara Marra
3 min
2
0

No fundo, o meu maior desejo sempre foi também meu maior medo: ser o porto seguro de alguém. Não qualquer alguém. De alguém extremamente especial.

Eu sonhava em ser aquela única pessoa com quem o choro para. Aquela da qual basta o cheiro pro mundo girar diferente. Ao mesmo tempo que era esse meu grande desejo, era também meu grande medo.

É uma responsabilidade e tanto ser essa referência para outra vida. E, não... nunca estaremos prontos pra isso.

De uns dias pra cá, o Dudu surgiu com uma nova... a todo momento solta um "quem é a melhor mamãe do mundo inteiro?"... claro que eu me derreto, morro de amor, de orgulho, de alegria... e de medo!

Hoje lembrei de uma cena de quando ele era bem novinho... devia ter uns 3 ou 4 anos..

Ele tinha  entrado na fase de inventar histórias, brincar sozinho. Levava todos os bichinhos e bonecos pro tapete, ou resgatava a caixa de dinossauros, e aí a festa estava feita.

Ele contava história, levava pra escola, fazia comida, colocava pra dormir. Repetia o que vivia.

Nessas horas, me lembro de só observar de longe, pra que ele não se distraísse e continuasse no seu mundinho.

Me lembro especialmente de algo que chamou minha atenção no meio dessas brincadeiras. Enquanto ele vivia ali no seu faz de conta, começou a conversar com algum dos personagens e soltou um “a MINHA mãe que fez”. MINHA, assim mesmo, em letras garrafais.

MINHA com ênfase...

Não sei qual era a história. Não sei qual era o feito. Não sei nem se o MINHA mãe era comigo ou fazia parte do faz de conta. Parei o que estava fazendo simplesmente por ficar encantada com o pertencimento que esse MINHA carregava.

Sim. Eu sou a “MINHA mãe” dele. E ele é MEU filho. Se ali ele repetia o fazer a comida, levar pra escola, ler um livro, também levava o que sentia. PERTENCIMENTO.

Claro que ele pertence! Claro que nós nos pertencemos. Mas só porque permitimos que isso acontecesse. É assim com toda e qualquer relação. Pais e filhos não vem de fábrica com um selo de pertencimento. Ele é construído.

O pertencimento nasce da entrega, nasce da dedicação.

Nasce de estar presente, nasce de estar disponível. Nasce do cuidado, do carinho. Nasce do chamar a atenção. Nasce de se molhar junto na chuva, ou de se esconder dela.

Nasce do dividir a comida do mesmo prato, ou de inventar histórias para que se possa comer.

Nasce das tardes de domingo preguiçosas e da correria do dia a dia. Nasce da leitura antes de dormir. Do beijo de boa noite.

Nasce da rotina e das escapadas dela. Nasce do exemplo que se dá a cada passo. Nasce da música cantada junto.

Nasce das idas ao supermercado, da escolha do restaurante. Nasce da explicação de onde mora o tubarão, ou de tentar descobrir onde é a floresta do lobo.

Pertencimento se constrói, e não é preciso muito. Basta disponibilidade. Basta querer. Querer de verdade. Se entregar. Deixar acontecer. Permitir.

E quando é que a gente vai saber que a “mágica” deu certo? Quando sentirmos o orgulho na ênfase ao contar pro Homem Aranha que, sabe-se lá o que era, mas foi a “MINHA mãe que fez”.