Adoção é um ato de... vontade!
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Adoção é um ato de... vontade!

Poucas coisas me irritam tanto quanto o tal "nossa, como você é boa!" quando eu falo de adoção. 

Jussara Marra
3 min
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Poucas coisas me irritam tanto quanto o tal "nossa, como você é boa!" quando eu falo de adoção. 

Há muitos anos li uma entrevista com a Astrid Fontenelle a respeito da adoção de seu filho e a resposta dela foi uma das melhores que já vi. Em resumo, ela disse que queria ser mãe e a adoção era a forma disso acontecer. Por isso ela se decidiu, se habilitou e se tornou mãe.

Não existe beatificação e nem magia. Adoção é para os fortes. Precisa querer, e não é pouco.

Eu poderia vir aqui dizer que todo esse papo de burocracia é construção da mídia, mas estaria mentindo. A burocracia existe sim. E o processo é demorado mesmo. Por esse e outros motivos eu sempre digo que adoção, muito mais que amor, exige vontade.

O fato de ser burocrático não é de todo ruim. Vamos inverter um pouco o cenário pelo qual normalmente enxergamos o processo como um todo.

Estamos acostumados a falar do lugar dos pais. Aqueles que normalmente (nem todos seguem esse fluxo!) passaram alguns anos tentando uma gestação natural, outros tantos em tratamentos de fertilização e acabaram amadurecendo a ideia da adoção.

Por mais sofrido que sejam o processo e a espera, estamos aqui falando de adultos. Adultos em situação de normalidade. Com casa, família, emprego, laços afetivos. Enquanto eles esperam, estão seguindo a vida. 

Não quero com isso minimizar a angústia. Ela existe e, em maior ou menor grau, vai acompanhar os pretendentes à adoção pelo caminho.

No entanto, a adoção não pode ser vista unicamente por esse prisma. O foco é outro. Partimos do lugar da criança ou adolescente. Na adoção, não buscamos filhos para pais, e sim pais para filhos.

Estamos falando de crianças e adolescentes que de alguma forma tiveram seus direitos básicos violados e sofreram algum tipo de violência e/ou abandono. Essa foi a razão pela qual foram levados à tutela do Estado e, após avaliadas as condições da família de origem, decidiu-se pela colocação em família adotiva.

O que precisamos dentro desse cenário? De um ambiente seguro para essas crianças. De um lugar preparado para recebê-las e acolher a realidade de cada uma. Precisamos de pais preparados. Precisamos evitar que elas voltem a sofrer violência e abandono (e aqui me refiro a todo tipo de violência e abandono).

Por isso um processo cheio de cuidados.

É o suficiente? 100% garantido? Não. Nunca vai ser. Mas não podemos nos escorar nessa fala para deixar de lado todo o cuidado pensado para garantir o melhor destino possível para essas crianças e adolescentes.

E a fala que segue todo esse papo é inevitavelmente a mesma "mas demora muito..." sempre acompanhada de um exemplo próprio ou de algum conhecido que esperou ou ainda espera por muitos anos.

Sim... a espera para os adultos é angustiante. Já imaginou a das crianças e adolescentes, que também esperam por meses, anos e alguns a vida inteira sem sucesso para terem uma família?

É preciso vontade para começar, vontade para seguir e muita vontade para mergulhar nas reflexões que uma maternidade/paternidade adotiva trazem.