Tem que parecer?
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Tem que parecer?

O assunto tem sido recorrente. O filho por adoção que se parece (e que não se parece) com os pais.

Jussara Marra
3 min
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O assunto tem sido recorrente. O filho por adoção que se parece (e que não se parece) com os pais.

Há quem fique curioso, há aqueles que acham lindo, os que se impressionam e os que querem saber o caminho das pedras pra chegar ao mesmo resultado.

Ah, claro! E tem aqueles pra quem isso não faz (mesmo) a menor diferença. E por falar em diferença, pra esse grupo aqui ela é até interessante.

É normal termos essa conversa sob a ótica dos pais. É a pergunta recorrente, que eu não me canso de fazer, mesmo frisando que não quero uma resposta, mas apenas a provocação: por que você quer um filho que se pareça com você?

É preciso pensar sobre isso, Responder internamente e, se a adoção é em casal, importante falar com o parceiro também. As coisas precisam ser racionalizadas, trabalhadas, até pra melhor lidar com as situações que fujam das projeções e desejos.

Só que tem o outro lado. O da criança. Muitas vezes focando em nós, adultos, e nos nossos desejos com essa maternidade/paternidade, acabamos por não nos preocuparmos com o que vem depois.

A criança chega e passa a fazer parte da nossa vida, do nosso círculo de convívio, das conversas, das vivências...

E nisso vão ouvir de tudo. Vão ouvir o famoso "tio sem noção do churrasco" perguntar se não tinha um mais parecido com os pais, ao mesmo tempo que, do lado diametralmente oposto, escutarão a brincadeirinha de mau gosto questionando o pai se ele não pulou a cerca e depois foi atrás da criança, já que ela é tão parecida com ele.

Pode parecer tranquilo. Só mais algumas brincadeiras normais. Mas não.

Dentro da adoção, já temos um contexto no qual, por mais que haja diálogo sobre a história e família de origem da criança (o que, obviamente, é o ideal), há sempre uma lacuna, um espaço de pecinhas faltantes no quebra-cabeças da vida da criança. 

À medida que ela cresce, passa por diversas fases, inclusive a da fantasia acerca desses pedacinhos nebulosos. 

Brincadeiras com o parecer ou não parecer fisicamente com a família por adoção potencializam (e muito!) algo que já não é assim tão simples.

As diferenças fazem parte da história e da individualidade de cada um. E que bom que elas existem! Elas nos fazem únicos!

E aqui eu pergunto, retirando o fator "adoção" do raciocínio: a gente tem mesmo que se parecer tanto assim?